quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Mais um de Mecônio

Oi, gente


Trago mais uma pérola do personagem mais famoso do Giorgio Boy: Mecônio!

Boa leitura a todos!


MECÔNIO, O INDULGENTE


Participação especial: Dr. Sigmund Freud


Fazia calor naquele verão de 1909. O jovem estudante Mecônio Barros tinha chegado à Escola de Medicina da Universidade de Viena para conhecer um neurologista de quem muito se falava: Doutor Sigmund Freud.

A descrição do tal homem chegara-lhe soterrada em elogios: simpático, atencioso, educado, cordial, gentil, um cavalheiro. Mecônio queria aprender a disciplina desenvolvida por Freud, uma novidade que mesclava interpretações de sonhos, hipnose e estudos sobre a histeria, uma tal “psico-análise”.

Dos últimos degraus de uma longa escada, ele avistou o doutor, no topo da mesma. Isso provocou no rapaz um meio sorriso. Para quem não o conhece, trata-se de uma demonstração de extrema alegria. Logo a seguir, o rapaz disparou a correr na direção do doutor.

Ainda no alto da escada, Freud batia as mãos em todos os bolsos de sua vestimenta, a procurar por algo. Ao ver aquele jovem alto, magro, com um topete de cabelos escuros repartido no meio e expressão de quem ia espirrar, o neurologista franziu a testa.

– Como vai, Doc? – perguntou Mecônio, estendendo a mão com toda a simpatia.

Em resposta, foi medido de alto a baixo.

– Odeio que me chamem de “Doc”. – rosnou o médico.

E principiou a descer os degraus num mau-humor sinistro.

– Desculpe, Doutor Freud. Meu nome é Mecônio e eu...
– Não quero comprar nada. – tesourou Freud, agora vasculhando as entranhas do paletó.
– Eu não estou vendendo nada, só quero...
– Também não dou autógrafos! Não acredito em autógrafos! Isso é fetiche, sabia?
– Doutor Freud, eu...
– Ah! Achei meu charuto! Tem fogo?

Era a vez de Mecônio procurar algo nos bolsos da roupa. O impaciente austríaco descia os degraus, deixando para trás o jovem estudante. Este, tão logo encontrou uma caixa de fósforos, arregalou os olhos de emoção e saiu em perseguição do conhecido neurologista.

– Onde ele se enfiou?

Achou-o no ponto de bonde e correu até ele.

– Doutor...!
– Meu jovem, lamento informar que não atendo sem consulta marcada. Não insista!
– Mas eu...
– Chegou meu bonde!

Freud olhou pela última vez para Mecônio e, sem nem proferir um som, arrancou-lhe das mãos a caixa de fósforos e adentrou o veículo. O rapaz emitiu ainda menos sons, encarando o bonde que se distanciava levando o cordial Sigmund Freud sabe-se lá aonde.

Todos os músculos do rosto do estudante achavam-se retesados para baixo. Em linguagem Mecônica, aquilo significava um estado de fúria assassina. Coisa de rasgar a dentadas a garganta do primeiro que lhe desse boa tarde.

Então aquele era o doutor “simpático, atencioso, um cavalheiro”? Tinha viajado horas e horas lá do Brasil, em lombo de jegue, porque era mais barato que pau-de-arara, feito um ano de curso intensivo de alemão... só para ser esnobado por um velho arrogante?

Ah, não.

***


Nos meses que se seguiram Mecônio dedicou-se a duas coisas: trabalhar para pagar suas despesas na faculdade e fazer pesquisas sobre Sigmund Freud. Uma compilação assaz peculiar de tudo o que o homem detestava, anotada em um caderninho.

Naquele mesmo ano de 1909, Sigmund Freud partiu para sua primeira viagem aos Estados Unidos, juntamente com seus amiguinhos Carl Jung e Sandor Ferenczi*, no navio George Washington. Mecônio arranjou uma colocação temporária como camareiro nessa mesma embarcação. Na véspera da partida, esperou todos dormirem, foi até o livro de bordo, procurou por Sigmund Freud na lista de passageiros e, com uma caneta, deu um jeitinho para alterar levemente o sobrenome do médico.

Pela manhã, o oficial de registro barrou-lhe a entrada.

– O nome do senhor é Freud e não Freund. Logo, não é o senhor.
– Pare de frescura! Sou eu mesmo que vou embarcar!

Embora o substantivo Freund signifique “amigo”, o doutor não se mostrava nada amistoso.

– Alguém escreveu errado, seu imbecil! Quem mais poderia ser além de mim?
– O senhor por favor não me desacate, ou chamarei a segurança!
Atrás do médico, os passageiros acumulavam-se em número e irritação.
– Anda logo com essa fila aê!
– Expulsa esse encrenqueiro!
– Volta pro museu, velho chato!

Essa dor de cabeça durou quase quarenta minutos. Jung e Ferenczi, que tinham conseguido entrar, chamaram o capitão e assim pôde-se dar o embarque de Freud.

– Onde é nossa cabine? – bradava – Fiquei nervoso! Fiquei nervoso! Quero água!

Rapidamente Mecônio surgiu disfarçado, chapéu na cabeça e um bigode falso, trazendo uma jarra de água e copos para os doutores.

– Aqui, Doutor Freund. – cumprimentou.
– É FREUD, §†ђ%#¶*@$!

Claro que Mecônio havia pronunciado o nome errado de propósito para deixar o desafeto ainda mais irritado. Íntimo de medicamentos, o rapaz colocara no copo de Sigmund um poderoso laxante. Antes do meio-dia o neurologista já estava eliminando o que queria e o que não queria, conquistando a imensa antipatia dos demais passageiros e tripulantes, em virtude dos odores semi-letais que esparzia.

***


Um dos motivos pelos quais Mecônio optara por um laxante foi seu conhecimento acerca de uma curiosa diferença entre os Estados Unidos e a Europa de 1909. Enquanto que no Velho Continente sobravam sanitários públicos, o mesmo não acontecia na América.

Mal desembarcado em solo estadunidense, a diarréia do famoso austríaco não havia passado e seu desespero crescia sempre que lhe sobrevinha aquela vontade de fazer “o número dois” no meio da rua. Saindo de trás da moita de um parque enxugando o suor da testa, o neurologista reclamava com os amigos:

– Maldito país!
– Que culpa o país tem se você está passando por uma regressão da fase anal, Sig?
– Fase anal o teu rabo, Jung!
– Com o que você tem sonhado ultimamente, Sig?
– Você também, Ferenczi? Parem de ficar me analisando!

Retornavam à charrete que os levaria a seu destino sem perceber que o condutor era ninguém senão Mecônio, de cartola, óculos e barba branca, segurando o riso. Os tontos nem tinham reparado que ele aproveitara a hora do almoço para mandar vários telegramas avisando da chegada de Freud, com instruções sobre como o doutor gostava de ser tratado. Por isso, em todo o lugar era a mesma coisa:

– Olá, Doc!
– Oi, Doc!
– Tudo bem, Doc?
– Como vai, Doc?
– Fez boa viagem, Doc?
– Ô povo chato! – resmungava Freud.
– Ora, eles estão sendo simpáticos! – defendia Jung – Você que está muito rabugento por causa dessa diarréia.

Ainda disfarçado de condutor, Mecônio vinha com uma pílula e um copo de água:

– O seu remédio, Doutor Freud. É para beber com água.
– Me dá aqui! Me dá aqui!

Não preciso dizer que o líquido trazido já vinha adulterado, preciso?

E dá-lhe Freud parando a cada moita que encontrava...

– Anda logo, Sigmund, senão a gente vai se atrasar para o almoço.

Mecônio teve o cuidado de reservar uma mesa em uma área especial, pois conhecia o prazer que um charuto após as refeições causava a Freud.

– Olha, meu senhor, num pode fumar aqui! – pediu um cavalheiro, com educação.
– Eu fumo onde eu quiser! – retrucou o velho médico.
– De jeito nenhum! Olha aquela placa ali! Esta área é a de não-fumantes!
– Não me interessa! Vocês não vivem dizendo que este é um país livre?
– Que cara mal-educado! Tinha de ser alemão!
– Eu não sou alemão! Sou austríaco!
– Se o senhor não parar de fumar eu vou chamar a polícia!

Jung tentava apaziguar os ânimos:

– Sigmund, apaga isso aí antes que a gente seja preso!
– Nunca! Os incomodados que se mudem.

Os incomodados chamaram a polícia e Freud passou uma noite no xadrez.

Você talvez imagine que o jovem estudante de medicina já podia dar-se por satisfeito depois de tanto sofrimento imposto ao desafeto. Que nada! A viagem de Freud previa uma parada em Massachusetts para uma palestra. Os neurologistas viram-se diante de um bela recepção: crianças agitando bandeiras coloridas, banda tocando música. Tudo muito lindo e impecável. Só que ali, mais uma vez, havia o dedo de Mecônio. A banda tocava o hino da Alemanha e a criançada tinha em mãos bandeiras do império alemão. Freud e Jung, no entanto, eram austríacos, como já se disse anteriormente, e Ferenczi, húngaro.

Freud não armou um escândalo ali mesmo por pouco; seu nervosismo imprimiu um desconforto ventral que o obrigou a sair correndo até a moita mais próxima.

– Ele... ele se emocionou... – justificou o constrangido Jung.

***


Os eventos acerca da viagem do Dr. Freud aos Estados Unidos são verdadeiros e constam em biografias mais detalhadas do neurologista. O mesmo não se pode dizer de Mecônio: seu empenho em prejudicar o desafeto e manter-se oculto gerou resultados líquidos e certos, e não estou falando dos desarranjos do pai da psicanálise. Nunca houve nenhuma prova que ligasse os atos de vingança do rapaz ao sofrimento experimentado pelo velho “Doc” Sigmund. Dizem até que Mecônio teria inventado fofocas para Jung sobre Freud, que culminariam no final da amizade entre ambos. Aí eu já acho um tanto forçado.

(*)Apesar do nome bizarro, este renomado médico não era alienígena de Jornada nas Estrelas.

Um comentário:

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