sábado, 1 de setembro de 2007

Campeões da Arena - 4

# E chegamos enfim ao quarto "Campeões da Arena". Tive que deixar de postar por um tempo, mas vamos lá! Temos mais seis edições aì pela frente e a AQ011 já está rolando!
# (O que é AQ? Vá ao post do "Campeões" 1. Se der, aproveite e leia o conto. ;)
# Essa AQ durou de 14/02/2007 até 11/03/2007 e o tema foi: "RPGistas".
# Por um décimo, um único décimo, na antiga contagem de pontos, Leonardo Marchi, o proprietário do fórum, desbancou pela primeira vez o todo-poderoso Garret (brincadeira, tio Garret, brincadeira...) e se tornou o campeão com "Salvação".
# Aí está, para vocês. ^^

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Salvação
Leonardo Marchi


# Jorge era o típico delinqüente juvenil, aos 10 roubava dinheiro da Igreja e frutas na feira, aos 11 comprava thiner escondido para "ficar doidão" como ele mesmo dizia, aos 12 a palavra escola era uma velha recordação, agora só lhe servia como fonte de pequenos objetos que ele roubava para vender e comprar mais droga.
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# Foi numa dessas "visitas" que Jorge, ou neguinho para os colegas do bando, encontrou muito mais do que folhas de papel ofício e litros de álcool, era domingo, o que diabos faziam ali, Jorge pensou - "Quem vem a escola num dia de domingo? Eu não vinha nem nos dias de semana!". Antes que ele pudesse se esgueirar dali uma voz lhe chamou.
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# Ei! Você! É você mesmo - Jorge nunca havia sido pego, seu sangue gelou, suas pernas tremeram e ele estancou - a sala é por aqui.
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# Jorge percebeu que estava sendo confundido com outra pessoa, aquele rapaz magro com barba ruiva, um tênis que nem valia a pena roubar e um monte de livros coloridos debaixo do braço achava que ele estava ali para alguma aula, resolveu que iria se passar de "aluno", antes ouvir uma velha chata ensinando alguma besteira a ser mandado para a delegacia.
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# To indo tio - gritou Jorge que sorrateiramente deixou no cantinho dois litros de álcool e uma resma de papel.
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# Subiram alguns degraus, por algum motivo que Jorge não sabia a aula era no último dos dois andares, na escada ele cruzou com mais algumas pessoas, pelo jeito a escola tinha ainda mais gente, ia ser difícil pegar aquele litro de álcool de novo.
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# É aqui - o rapaz disse a ele e entrou pela porta.
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# Jorge podia virar as costas e correr, mas sem saber porque, entrou. Nada na vida o tinha preparado praquilo, uma sala normal com 6 "mesas redondas", havia muitos livros e dados sobre as mesas, alguns ele nunca havia visto antes, na verdade ele achou até que alguns estavam quebrados, ainda meio espantado ele ouviu um grito.
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# Neguinho! Vem cá! - vinha de uma mesa do fundo, era Carlinhos ou Jibóia como eles chamavam, dada a sua barriga incrivelmente grande para seus braços e pernas.
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# Jibóia! - falou a meia altura o recém descoberto quando se aproximou do amigo - O que você ta fazendo aqui? Achamos que você tinha morrido.
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# Nada neguinho, eu achei foi esse pessoal aqui, eles me ensinaram um monte de coisa, me trataram que nem gente, até me chamam pelo nome! Conversaram com minha mãe, me deram material escolar, até me matricularam na escola, agora todo domingo eu venho pra cá, é muito engraçado neg.. er... Jorge, você encontrou eles também?
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# Que nada Jibóia, eu ia pegar uns bagulho aqui e apareceu esses caras, ai to me fazendo de aluno pra não sujar minha barra, bem que me falaram que essa escola era ruim de roubar, tu virou um playboizinho mesmo hein? Só andando com os ricão agora...
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# Rapaz, senta aqui, olha pra lá que hoje é dia de novatos, vão ensinar o jogo a um pessoal novo, devem até estar achando que você é um deles, se liga em como isso aqui é maneiro e ainda a gente aprende muito mais do que com aquelas velha fedida que ensinava a gente antes.
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# Jorge era a desconfiança em pessoa, achava que o amigo tinha virado crente, ou viado, Jibóia era um dos mais doidos do bando, roubava loja, já tinha até tomado picada, era seu ídolo, vê-lo ali sentado, de banho tomado e segurando aquele monte de coisa colorida que em nada pareciam dados era bem esquisito, sem muita saída prestou atenção no gordinho de óculos com uma mochila velha nas costas que começou a falar lá na frente.
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# O RPG é um jogo bem parecido com polícia e ladrão - começou a dizer o jovem obeso, Jorge aquela altura começou a gostar da conversa logo de cara, vir na escola pra brincar, ainda mais de polícia e ladrão? To dentro, pensou ele. Assim passaram-se 30 minutos, os olhos do pequeno intruso de 12 anos estavam visivelmente precisando de lubrificação, e seu queixo parecia repousar numa posição fora do comum, sim ele estava impressionado.
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# As duas horas que se seguiram, onde interpretaram uma vila da idade média, para poderem entender o processo de suserania e vassalagem passaram voando, e ele quem diria, finalmente passou a ser alguém importante, na seção improvisada o pequeno paria era um senhor de terras.
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# Nas outras 3 horas que se seguiram passou a compreender melhor o jogo, já que uma moça morena de óculos pequenos se sentou perto dele e lhe ensinou alguns princípios básicos daquele jogo pra ele ainda tão esquisito, a moça o tratava com respeito, não lhe xingava quando errava alguma coisa, como os amigos do bando, teve com ele a paciência que faltou as suas primeiras professoras, que não entendiam de onde aquele garoto vinha, nem por quantas dificuldades um órfão de mãe criado por um pai alcoólatra pode passar, mas do que ele mais gostou foi ser chamado pelo nome.
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# Qual o seu nome? - perguntou ela.
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# Negu.. Jorge tia - respondeu ele meio envergonhado, meio provocador com aquela tia que ele usava pra afastar as pessoas.
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# Vou te chamar de Jorginho - devolveu ela como quem abraça aquele que refuta.
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# Carlinhos olhava pra ele da outra ponta da mesa com um sorriso de satisfação nos lábios, pelo visto ele já estava "craque", até tinha uma menina que pelo visto gostava dele, Jorginho se sentiu agora com ainda mais vontade de ser Carinhos, aliás, ele nunca vira Carlinhos feliz antes, porque diabos então ele queria ser como o amigo?
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# Naquele dia ele foi senhor de terras na sala, e na mesa foi um Super-Herói, queria ser o Batman, e assim foi feito, por 3 horas ele combateu homens que sem saber poderiam ter sido a imagem dele num futuro breve.
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# Era quase noite quando o grupo começou a ir embora, aquela altura o garoto moreno de 12 anos que queria ser Jibóia nem se lembrava do tempo, e quando viu que a reunião ia acabando, se aproximou do garoto que o flagrou e disse:
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# Moço posso voltar aqui domingo que vem? - Mesmo com tudo que vivera até ali, dentro daquela sala, Jorge esperava ser escorraçado.
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# Como é seu nome? - Perguntou o moço
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# Jorge - Respondeu ele agora com mais medo do que viria.
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# Pode sim Jorge, venha todo domingo, olha aqui, leva esse livro pra você, como essa é a primeira vez que vem aqui, acho que vai gostar e querer voltar.
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# Mas você não tem medo que eu não te devolva? - Arriscou Jorge quase que querendo ser descoberto, se sentia mal com todo aquele tratamento gentil para com ele.
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# Olha garotinho, eu conheço um bom menino quando vejo um, tenho certeza que você vai voltar. - Devolveu aquele moço que mais parecia um gigante magrelo, mas com cora de anjo.
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# Jorge voltou no domingo seguinte, dessa vez estava de banho tomado, não andava mais com aquela turma de antes, com a ajuda dos novos amigos voltou pra escola, e no domingo seguinte lá estava Jorge de novo, e em todos os outros depois daquele, os litros de álcool e o papel? Esses nunca mais sumiram na escola, Jorge não precisava de droga nenhuma para se sentir bem, ele encontrou o bem dentro de si mesmo e ainda ajudou muitos outros Jorges depois dele.

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