quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Conto

Olá,

Esse foi meu texto para à Atividade Quinzenal 14, onde o tema foi: Futuro. O gênero foi livre, sem limite de palavras. Como sempre foi super gostoso escrever!Essa edição da atividade reuniu (como sempre) ótimos contos!

Boa leitura a Todos!


EXPECTATIVAS


_ O que você espera do futuro?

_ “A insanidade estampada em todos os olhares
O céu exibindo cores sempre indefinidas
O amor transformado em lenda
Cegonhas mecânicas trazendo os bebês
Os sentimentos dosados por conta-gotas
Cópias de humanos andando pelas ruas
Os alimentos em cápsulas...”


_ Chega, chega!

_O que foi? Isso te choca tanto assim?

_ O que me choca é essa sua mania de transformar tudo em poema! Isso irrita, sabia? Que saco!

_ Que saco você ! Como pode ser tão alienada? Do jeito que as coisas estão acontecendo, o que poderemos esperar?

_ Não perguntei sobre esse 'futuro' aí... Perguntei sobre NOSSO FUTURO, nosso relacionamento. Entendeu?

_Ah, ta... E você com essa mania de discutir a relação...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Campeões da Arena - 13

# Quase lá, quase lá! =3

# A AQ013 teve um tema à altura: suicídio. Paradoxalmente, o conto que ganhou foi o único que... Ah, não vou cometer spoliers, leiam e verão. :D

# A atividade começou dia e terminou dia 29/10. Competiram 8 contos, o mesmo tanto da AQ006, a mais movimentada até aqui. A vencedora foi uma tal de Strix, vocês não devem conhecer. xD O importante é... entrem lá no RPG-X e, pelo amor de Deus, vejam os outros contos. Um mais legal que o outro. \o/

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Os arquivos do Dr. Oswaldo
Arquivo 005 - Passos à meia-noite
2800 palavras


Ficar na casa de meus pais era bom. Eu podia pôr uma roupa bem folgada, me sentar na cadeira de balanço e ler todos aqueles periódicos médicos que não tenho tempo de ler quando trabalho. Dava para me sentir como na época em que era um adolescente grisalho e bonachão, estudando igual a um louco (hum... comparação ruim para um psiquiatra...) para o vestibular.

Era o que estava fazendo quando meu pai saiu discretamente de casa e veio me procurar, na varanda. Isso era um evento espantosamente raro: posso ser o filho “CDF que passou na Medicina de primeira”, mas definitivamente não sou seu favorito. Esse é o cargo do Rogério. O pai jamais perdoou esse humilde primogênito por ter se especializado em psiquiatria e não em geriatria ou algo assim mais útil. Muito menos por eu andar sempre com um pincenê do meu avô, cultivar suíças e usar chapéu. Tenho que admitir que sou um pouco teatral, um pouco mais do que um homem idoso do interior de Minas poderia perdoar.

Ninguém consegue imaginar, então, minha surpresa quando o “velho” se aproximou de mim e me convidou para ir com ele ao barzinho. Sou abstêmio, não gosto de futebol e não tenho ânimo para ficar falando mal do Governo até quando este acerta em alguma coisa. Portanto, sou uma vergonha para ele em termos de masculinidade. Se o pai estava me chamando para ir ao bar, algo de extraordinário devia estar acontecendo.

Sim... Sou abominavelmente curioso. Logo estava pronto. Realmente, o acontecimento devia ser da máxima gravidade, já que o homem nem sequer comentou nada sobre o pincenê. A curiosidade atingia níveis cada vez mais insuportáveis.



Ficamos no bar por vários minutos, mas meu pai resumiu-se a pedir uma cervejinha e a batucar impacientemente no balcão. Como o conheço bem, não foi difícil deduzir o que ele queria: estava ansioso para me apresentar um cliente. E, para que isso acontecesse, devia ser alguém SUMAMENTE importante.

Minhas suspeitas logo foram confirmadas. Um construtor aqui da cidade entrou e se sentou ao nosso lado. Ele e o pai foram amigos do peito antes que o homem enriquecesse muito e passasse a conviver em uma esfera social diferente.

Começaram falando dos velhos tempos. Parecia óbvio que o homem estava explodindo de ansiedade, mas não queria falar com o garçom espreitando. Fez o supremo esforço de pedir uma cervejinha só para disfarçar e, mal o garçom se retirou para atender, comentou:

_Ozzy, meu filho, a última vez que o vi você era desse tamanhozinho _indicou um tamanho impossível para um bebê. _Agora, já está aí formado, doutorado feito, famoso...

Fiz um gesto neutro que podia passar por modéstia, mas era apenas meu desagrado por encararem esses fatores como indicativos de sucesso.

_... Será que não poderia passar lá em casa um pouco? A Kátia também deve estar querendo ver como você está. E se você puder passar os olhos na Camila...

Logo vi. Ricos tendem a ser sovinas, principalmente quando já foram pobres. Camila... Evocava-me boas lembranças. Beberam as cervejas em tempo recorde e fomos caminhando para a casa dele.



Era uma bela casa, fortemente murada. Ficava em uma esquina. À frente, tinha uma rua moderadamente movimentada. Em um dos lados, uma ruazinha sem saída que só comportava os fundos de outras casas. Do outro, uma casa mais modesta e, aos fundos, um barranco. Singularmente isolada, eu diria.

Por dentro, era bonita, pelo menos para mim, que não sou arquiteto. Tinha dois andares. Do lado que dava para a ruela, todas as janelas eram iguais, exceto uma, do segundo andar, que era a porta de uma sacada. Pelas cortinas rosa, deduzi ser o quarto de Camila.

D. Kátia veio lá de dentro e nos cumprimentou espalhafatosamente, talvez porque havia gente olhando, da rua. Bastou que entrássemos, entretanto, para aquela aura de jovialidade se desfazer completamente.

_Ah, doutor... Não sei o que fazer... Não sei em que pensar... A Camila, nossa filha, é uma pessoa sempre tão feliz, tão satisfeita... Está sempre muito bonita, de namorado novo... O antigo dela morreu, um rapaz muito bom... Talvez seja por isso que tudo começou, embora ela não pareça ter sofrido na época...

_Calma, minha senhora _segurei suas mãos de maneira compreensiva. Pareceu-me que não extrairia nada de concreto dela enquanto estivesse naquele estado de nervos. _Calma. O que aconteceu com sua filha?

_Ela tentou se matar! _alteou ligeiramente a voz. _Duas vezes! Só que foi enquanto estava dormindo, o senhor entende? Quando está acordada, ela é a pessoa mais normal do mundo, como sempre! Mas, quando dorme... Não é todo dia... Começou semana passada, quando ouvi alguém batendo na porta do quarto. Quando atendi, não tinha ninguém. Pensei que fosse coisa da Camilinha, mas, quando entrei no quarto dela, lá estava a garota no beiral da sacada! Ela ia pular! Gritei e ela me olhou muito assustada. Depois, confessou que não sabia como tinha parado ali. A mesmíssima coisa aconteceu ontem. Só que, quando entrei no quarto e a tirei do beiral, ela se soltou de mim, pegou uma pistola e tentou atirar na própria cabeça.

Interrompeu-se e me olhou, com um olhar implorante.

_Acho que entendi muito bem, obrigado. O que acha, Sr. Afonso?

_O que acho? _o homem ficou cor de cerâmica. _Eu só tenho medo que seja... Bem, não sei... Você sabe, né, que nessa idade, os jovens adoram experimentar... Coisas diferentes...

_Drogas? _perguntei e ele recaiu na defensiva. _Isso é fácil verificar. Basta um exame rápido. Em tempo, onde ela pode ter conseguido o revólver?

_É do Afonso _D. Kátia disse, lançando a ele um olhar de reprovação.

O homem corou ainda mais. Peguei a arma e fiz um exame rápido. Totalmente carregada.

_Onde sua filha está? _perguntei. _Lá em cima... _ela mordeu os lábios e estremeceu. _Dormindo... _a voz quase sumiu.

Subi com ela. Quando abrimos a porta, uma cena perturbadora estava nos esperando. Uma bela adolescente estava sentada na cama, com um olhar parado, e tentava acertar a própria boca com um copo, sem sucesso. A mãe gritou e a menina afastou o copo por um instante. A distância era segura e o instante foi o suficiente.

BANG!

O copo se espatifou na mão da garota. Ela soltou um grito estranho, largou o que restou do objeto e foi em direção à sacada, sem tirar os olhos parados de nós. Apontei o revólver para ela.

_Volte para cá e sente-se _disse-lhe, brandamente. _Ninguém aqui quer seu mal, mas você tem que parar com esse negócio de se matar.

Ela fez menção de subir no peitoril. Engatilhei a arma. Ela desmaiou.

O pai dela e eu a colocamos na cama. Todos me olhavam horrorizados. Era tão evidente o pensamento deles, que não me fiz de rogado. Peguei um frasco na cabeceira de Camila.

_Diazepam. Está quase vazio. Presumi que fosse o que está turvando a água do copo. Se ela bebesse, dificilmente a salvaríamos. Um raspão de bala me pareceu muito menos prejudicial. De qualquer forma, faço parte de um clube de tiro. Tenho boa pontaria e, se repararem, ela apenas se cortou um pouco por causa do vidro.

Ainda estavam com um ar escandalizado e pude ver, nos olhos do casal, que não estavam certos se me chamar tinha sido uma boa idéia.

_Quando ela acordar _expliquei _quero falar com ela a sós. É provável que ela não se lembre do que estava fazendo. Mas preciso sondá-la, se é que me entendem. Tirem daqui esse revólver e esse copo quebrado, e rápido. Esse tipo de desmaio costuma ser breve.

Fiz tudo aquilo que achei conveniente para reanimá-la. Os outros deixaram o quarto, levando, na medida do possível, os resquícios do pequeno drama. Fui até a sacada e respirei fundo. Tinha uma bela visão: abaixo, um pequeno caminho e uma faixa de terra cheia de flores, no canto do muro, além de uma magnífica árvore que crescia na rua e estendia seus galhos até bem perto da sacada, sombreando tudo por baixo. Claro que esses galhos não eram suficientemente fortes para que alguém entrasse na casa escalando-os, e uma cerca elétrica dificultava enormemente as coisas. Seria uma pena se cenário tão pitoresco se tornasse cenário de uma tragédia.

Por outro lado, considerei, a altura não era tão grande. A menos que ela caísse de cabeça e fraturasse o pescoço, o máximo que aconteceria seria fraturar os braços, as pernas e algumas costelas. Não que fosse de todo mau. Ela ficaria imobilizada por uns tempos.

Sacudi a cabeça. Vez por outra me acudiam esses pensamentos sádicos. “Pensamentos vampirescos”, me diria uma amiga. Jamais entendi completamente o significado do adjetivo. É verdade que há uma boa dose de sadismo no culto que fazem aos vampiros, mas essa não é uma característica inequivocamente atribuída a eles.

Ora, esse não é um ensaio sobre a adequação ou não de adjetivos, é um relato de meus casos passados. Vampirescos ou não, é melhor deixar meus pensamentos de lado e voltar ao métier da coisa.

Camila moveu-se ligeiramente em sua cama e sentei-me na beirada, esperando que abrisse os olhos. Isso aconteceu logo. Ela mostrou-se surpresa com minha presença e balbuciou um “quem é você?”.

_Sou seu médico, querida. Você teve um pequeno desmaio e estou cuidando de você. Meu nome é Oswaldo. Como está se sentindo?



Não creio que será útil descrever minha conversa com a moça. Conversamos trivialidades, perguntei muito sobre a escola, os amigos, o namorado, os pais... Ela levava uma vida muito normal, como a de centenas de outras moças. Isto é, esforçava-se para tirar boas notas, mas não gostava muito de estudar, saía muito para as “baladas”, gostava do namorado, achava que os pais eram uns chatos... Falou com ternura no namorado morto, mas disse que já tinha dado a volta por cima, não valia a pena ficar remoendo o passado.

Perguntei sobre seu sono, se estava bem. Ela contou sobre pesadelos que tinha ao dormir. Sonhava que mãos a agarravam ou a obrigavam a beber alguma coisa ou outra coisa desagradável qualquer. Pelo que falou, não tinha a menor consciência das crises.

Examinei os olhos dela, tomei seu pulso e espiei furtivamente a parte interna de seus braços. Fiquei satisfeito.



_Ela não usa drogas, isso posso lhes assegurar _disse eu, ao Sr. Afonso e à D. Kátia. _E não me parece mentalmente perturbada. Naturalmente, terei que manter conversas mais longas com ela para fazer uma sondagem mais completa. Por ora, vou receitar um sonífero fraco para que ela tome antes de dormir, talvez assim, mais relaxada, ela não tenha novas crises. Escreverei a receita lá em casa e mandarei por um motoboy para vocês.

“Virei daqui a um ou dois dias. Estejam atentos: se acontecer novamente uma crise, chamem-me não importa qual seja a hora. Hora do almoço, de madrugada, qualquer hora.”

Apesar de alguma desconfiança a respeito de mim e de meus métodos ainda ser visível, reparei que estavam mais aliviados. Uma pena que, provavelmente, não gostariam do desfecho do caso. Comecei a repassar mentalmente o nome de alguns bons terapeutas familiares.



_Alô? Doutor? Uma nova crise, rápido!

Meus tímpanos quase estouraram. O celular poderia estar na esquina que eu ouviria perfeitamente. Resignado, esperei o momento propício e me encaminhei para a casa. Torci para que minha voz nada sonolenta e a pequena discrepância de tempo em minha chegada à casa passassem despercebidas. Felizmente, o estado do casal era tão lastimável que não prestaram atenção a nada.

A menina estava na cama, aparentemente desmaiada. Dessa vez, estava com minha maleta e pude lançar mãos de meios mais efetivos de acordá-la. Peguei o frasco do sonífero que receitei, à cabeceira e abri. Como suspeitei. Olhei severamente para a moça.

_Não era para ter essa quantidade de comprimidos aqui depois de uma semana, mocinha. Você andou se esquecendo de tomar.

Ela admitiu, muito envergonhada. Soltei uma série de muxoxos e retirei um novo frasco da maleta.

_Esse aqui é mais forte, por isso, deve ser tomado em duas doses. Vou entregar para a sua mãe, para ela garantir que você tome. É muito importante para você que nenhuma dose seja esquecida, ouviu?

Estudei bem o olhar dela e a contrariedade que aquela idéia causava. Sorri. Aqueles comprimidos seriam meu trunfo.



Antes de sair, D. Kátia me relatou mais calmamente a situação. O fato de eu ter lhe dado o controle da medicação da filha fez com que ela deixasse de ter qualquer prevenção comigo.

Parece que ouvira novamente aqueles passos e batidas em sua porta e, como sempre, ao entrar no quarto de Camila ela estava na sacada, quase se jogando.

_Só uma coisa, minha senhora. Peço que seja bem precisa. Você se levantou assim que ouviu as batidas?

_Na mesma hora! Elas são como um anúncio de desgraça, doutor! Mal ouvi a segunda batida, já estava de pé.

_Ouviu os passos se afastando?

Ela pensou bem e balançou a cabeça.

_Nenhunzinho.

_Nem um ruído de porta se fechando?

_Nenhum barulho. Mas, sabe, eu não estava preocupada com isso, só com a Camilinha.

_Claro, claro. E ela estava na beirada da sacada, mesmo? Não se encaminhando para lá, talvez?

_Não. Estava em pezinha no beiral.

Torci o nariz. Malditos passos! Ainda teria uma chance de esclarecê-los e apenas uma. Tudo dependia de meus comprimidos, e de minha jovem paciente.



Uma semana. Sorri. O celular tocava, e eu sabia que D. Kátia anunciaria para todos num raio de 1 km dele que a filha tivera uma crise. Dessa vez, pensei, era melhor exercitar meu lado cirurgião e realizar uma intervenção rápida, eliminando o mal pela raiz.

_Escute aqui, minha prezada senhora _disse eu, com o máximo de autoridade que pude colocar na voz _temos algo grave a conversar. Deixe seu marido cuidando de sua filha e certifique-se que ela não deixe o leito sob nenhuma circunstância. Estou à porta de sua casa. Pode vir abrir.

Receio que a tenha assustado muito naquela ocasião, mas era o jeito. Quando a porta foi aberta, tomei as mãos dela nas minhas e a fiz sentar. Quanto antes terminasse aquilo, melhor.

_Dona Kátia _eu disse, sério. _A senhora precisa ser forte.

_Ai, minha Nossa Senhora! O que foi, doutor?

_A polícia está ali fora. Prenderam o namorado da sua filha. _A senhora empalideceu. Preparei a rajada final, sem tréguas ou piedade: _Ele estava agarrado à árvore, atirando pacotes de cocaína para a Camila vender na escola.


***


Não sei se resta muito a explicar. Não é de hoje que garotas fingem que irão se suicidar para conseguir a atenção dos pais, e foi o que achei que estava acontecendo, desde que soube das tais batidas à porta do casal. Para testar a teoria, afastei qualquer dúvida sobre a sanidade mental de Camila e passei o calmante. Com meu binóculo de visão noturna (presente de um antigo paciente, se vocês se lembram), vigiei o quarto dela todas as noites. Eu sabia que a garota não tomaria o calmante e arquitetaria novas crises, para chamar mais a atenção.

Pelo menos, foi o que pensei até flagrar o momento em que o rapaz subia na árvore e atirava pacotinhos brancos para Camila. O lugar era perfeito: pouco movimentado, nenhuma frente de casa... Tão logo a menina escondeu a droga, as luzes do quarto se acenderam e ela representou sua comédia.

E eu representei a minha, é claro. Esperei um pouco para que não desconfiassem que eu andava por perto, fingi que acreditava na inconsciência da garota e entreguei para a mãe dela comprimidos de farinha. Eu precisava fingir que estava fazendo alguma coisa e precisava deixar a garota livre para pegar o namorado em flagrante.

Uma conversa com meu amigo do Departamento de Narcóticos resolveu o que faltava.

Minha única insatisfação com o caso, até hoje, é que jamais pude explicar os passos e batidas à porta de D. Kátia. Camila as negou até o fim. Talvez fosse aquela maravilhosa intuição das mães assumindo formas desconhecidas. Talvez fosse a alma do namorado morto. Talvez fosse algo completamente diferente. Creio que não virei a saber.

Clarice está sobre meu ombro e comenta que não revelei o principal, isto é, o que me fez desconfiar que a garota não tinha nenhum problema de saúde.

É difícil dizer. Levei mais de dez anos desenvolvendo meu “olho clínico”, uma capacidade de observação que me permite classificar as pessoas entre sãs e doentes, mentalmente falando, com boa faixa de acerto. As atitudes de Camila, os desmaios evidentemente falsos, o sonambulismo descaradamente fingido... Dava para desconfiar!

Mas, se isso não convencer os mais rigorosos, bem... A garota se dizia suicida, mas não saltou da sacada quando a ameacei com o revólver. As pessoas cometem esse tipo de erro quando têm um objeto que estava em suas mãos esmigalhado por uma bala.

Droga. Pensamentos vampirescos de novo.

Sumido? Imagina...

DESFILE COLEÇÃO PRIMAVERA/VERÃO 2008.

Bom eu não sei como postar vídeos aqui, mas ai está um dos porquês do meu sumiço, muito trabalho mas no final tudo vale a pena.

PS: Sim eu sou o gordinho dando a 1ª entrevista.

PS2: Nós já fizemos outro desfile depois desse.

PS3: Assim que tiver com o outro aqui posto no you tube e mando o link.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Campeões da Arena - 12

# Iarruuuuuuuu! Já estamos quase apanhando a AQ atual, a 014!
# A Atividade 012 marcou minha despedida da moderação interina da Arena (não era sem tempo xD). Foi a última que moderei e foi bastante interessante. Só decidi o que mandar dois dias antes. :D
# O tema foi: Irmãos - Pacto e Sangue. Com três irmãos mais novos, claro que eu tinha que participar. :D Começou dia 17/09 e terminou dia 08/10. A vencedora foi a estreante Kate Sales Riddle! \o/
Espero que essa douradinha logo de cara dê sorte a ela. ^^ Vejam com seus próprios olhos por que ela mereceu. ^___^

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Juramento
2702 palavras (será q é td isso mesmo? Bom, confio na palavra do Word)


- Espalhem-se, rápido! Queimem as tumbas, destruam os covis, não quero ver pedra sopbre pedra!

O sub-comandante olhou para a "general", que desembainhou a espada.

- E quanto a mim?

- Acompanhe-os, William. Vão precisar de você.

- Mas o mestre deles...

Os olhos claros dela faiscaram, determinados, firmes, decididos:

- Ele é meu. Empinou o cavalo e galopou na direção do castelo.

***

Aconteceu numa noite de inverno. As ovelhas e cabras se debatiam contra as tábuas do curral, berros e balidos agoniados se mesclavam aos relinchos desesperados na cocheira. A mãe e os irmãos saíram, deixando-os dentro do quarto, enlaçados num abraço trêmulo de medo, enrolados no cobertor. Repetiam um para o outro que tudo ficaria bem, que devia ser só um cachorro estranho que aparecera no curral, que ao ver os lampiões acesos o animal iria embora... repetiram essas palavras úmidas de lágrimas tantas vezes que elas tornaram-se como um mantra sussurrado e sem sentido que embalou os longos minutos de espera...

E os gritos começaram.

Xingamentos, preces, palavras desconexas. A voz da mãe foi a primeira a se calar, logo seguida das dos irmãos mais velhos. Ao mesmo tempo, os animais silenciaram. Os pequenos se abraçaram com mais força ao ouvir um estrondo na cozinha. Passos. A porta do quarto foi violentamente arrancada das dobradiças, e o monstro apareceu.

Sua forma lembrava um ser humano, mas a maldade demoníaca em seu rosto foi o suficiente para convencer as duas crianças de que aquilo podia ser qualquer coisa, menos um mortal como eles. Aparentava ser um homem, com em torno de quarenta anos, cabelos começando a grisalhar, barba rala, vestido com andrajos. Seu rosto e suas roupas esfarrapadas estavam cobertos de sangue fresco, e seus olhos eram brasas brilhantes e vermelhas na penumbra do quarto. Sua boca se abriu, revelando longos caninos de fera, anormalmente brancos e afiados. Os braços das crianças já estavam dormentes por causa do abraço apertado, mas a visão da criatura os fez enlaçarem-se mais forte.

O monstro fez menção de avançar sobre eles, mas não o fez. Em vez disso, seu esgar maligno desapareceu, o fogo infernal de seus olhos se apagou e ele cambaleou, com uma lança de madeira atravessada no peito, cravada por trás. Um golpe de espada, vindo da mesma direção, decepou sua cabeça, que foi ao chão ainda com as pálpebras tremendo.

E eles vieram como anjos, e os tiraram dali.

***

Ela entrou no palácio. Tinha sido ali mesmo que...

Sacudiu a cabeça. Péssima hora para recordações. Precisava se concentrar em matar o vampiro. E depois, quem sabe, sair de lá com vida...

Caminhou sem medo pelos corredores, até o salão de baile. Abriu as pesadas portas duplas com algum esforço, e entrou.

O salão era gigantesco. Devia ter quase um quilômetro quadrado, as cortinas de veludo que adornavam as janelas altas eram vermelhas, o piso era de mármore polido e estátuas de bronze enfeitavam o local. A caçadora estremeceu. Tinha sido ali, há tanto tempo...

- Ora, ora, ora... vejam só quem veio para a festa...

***

Os passos de Diogo ecoavam no piso de pedra da mansão que, nos últimos vinte anos, fora seu lar. Quem o visse não diria que era um soldado: vestia-se todo de negro, com uma cruz de prata refulgindo contra o tecido escuro de suas roupas, o rosto de traços finos ligeiramente queimado de Sol, emoldurado por cabelos de um tom tão sombrio quanto uma noite sem Lua, os olhos de mesma cor parecendo mirar mais suas próprias profundezas que o ambiente externo. Levava a espada camuflada sob a capa, assim como a fina porém letal estaca de madeira.

- Está na hora, Diogo - murmurou para si mesmo, ao pousar a mão na maçaneta. Falar consigo mesmo não era lá um hábito muito normal, mas que diminuía a solidão inspirada pelo ambiente lúgubre das florestas de Ardennes - é hora de dizer adeus.

- O que disse, irmãozinho?

Ele se assustou, e virou-se. Deu de cara com a pessoa que estivera procurando: Daniella. Sua Daniella. Sua irmã gêmea. Até então estava decidido a dizer tudo o que precisava dizer, sem dó nem piedade, mas ao olhar naqueles olhos azuis tão diferentes dos seus mas ao mesmo tempo tão iguais, sentiu sua resolução fraquejar.

Suspirou. Por que diabos era tão difícil?

- Daniella, precisamos conversar.

- Sobre o quê?

- A missão que lord Belmont me deu.

O olhar dela tornou-se preocupado.

- Para onde você vai?

Diogo inspirou profundamente antes de responder:

- Para os Cárpatos.

Os lábios rosados de Daniella entreabriram-se, mas demorou algum tempo até que ela pronunciasse algum som.

- Para... os Cárpatos?

- E de lá para a Valáquia.

Ele achara que a irmã ia chorar e se descabelar. Mas a jovem encarou-o com firmeza, e quando falou seu tom de voz foi resoluto:

- Vou com você.

Foi como se algo viscoso, gélido e sufocante descesse pela garganta de Diogo. Não. Ela não podia ir. Ele tinha um péssimo pressentimento sobre essa viagem, e não queria que ela fosse e se machucasse...

- Não, você não vai! Dani, é perigoso demais, e...

- Vou com você, mano - a garota o interrompeu - não importa o que você disser, nós só temos um ao outro, temos que permanecer juntos, não imposta o que aconteça.

- Daniella...

Ela colocou o indicador sobre os lábios do irmão, fazendo-o se calar, e sorriu:

- Escute bem, Di. Se tivéssemos que viver separados, não teríamos nascido juntos.

- Dani, eu não quero que você vá. Algo de ruim vai acontecer nessa viagem, eu sei que vai.

Mas Daniella não se intimidou com as palavras agourentas do irmão. Segurou-lhe o rosto e o obrigou a encará-la. Tinha um sorriso nos lábios, e a expressão serena e confiante de um anjo.

- Não podemos nos separar, Di. Nós nascemos para "derrotar a maldade e as trevas", lembra? Juntos, somos mais fortes que qualquer um, e podemos triunfar sobre qualquer coisa. Desde que estejamos juntos. Não se esqueça nunca disso.

Diogo não pôde conter o sorriso.

- Prometo que não vou esquecer.

Abraçaram-se com força, como naquela noite vinte anos atrás, como se o ato de soltarem-se fosse deixá-los à mercê dos monstros e demônios que habitavam seus pesadelos...

- Pertencemos um ao outro, maninho. Nunca se esqueça disso.

***

- Chama isso de festa, seu maníaco?

- E por que não chamaria? - ele sorriu, mostrando um par de caninos deformados e letais - ouça só a música - fez um gesto na direção das janelas, através das quais chegavam os sons de gritos, tiros e gargalhadas - isso sem falar das bebidas. Sangue de caçadores é mil vezes melhor quando bebido ainda quente, sabia?

Ela o encarou, entre furiosa e enojada. Ergueu a espada:

- Essa é a sua última festinha, seu maldito!

O vampiro também sacou de sua arma, e riu:

- Você não passa de uma criança tola, se acha que pode me vencer!

***

- DIOGOOOOOO!

Eles os separaram e levaram cada um para uma cela. De nada adiantou Daniella gritar, chorar e espernear. Trancaram-na em um cubículo úmido e escuro no subterrâneo, e o tempo que passou ali se resumiu a um borrão de lágrimas e dor. Os vampiros apareciam a qualquer hora para tomar pequenos goles de seu sangue, mas isso era o de menos. Quando estava fraca e anêmica, eles se aproveitavam, e abusavam dela. Machucavam-na propositalmente, riam de seu desespero, propunham-lhe a transformação em troca da liberdade. Daniella jamais saberia se passara dias, semanas ou meses ali. Tudo o que soube é que estava deitada no chão, lágrimas escorrendo silenciosamente por seu rosto machucado, quando a porta se abriu. Não se mexeu, julgando se tratar de mais um daqueles malditos. Mas sentou-se de um salto ao ouvir uma voz conhecida:

- Dani, vamos sair daqui!

- Di... Diogo?

- Vem, Dani! Ele agarrou-lhe o braço e ajudou a se levantar. Também tinha cicatrizes de mordidas no rosto e no pescoço, estava sujo e com as roupas esfarrapadas como as dela, e também tinha a aparência anêmica. Mas, por outro lado, estava inteiro. Ajudou-a a endireitar os andrajos em que sua capa de viagem e seu vestido tinham se transformado, e a puxou para fora.

- Diogo, como você conseguiu escapar?

- Fuga agora, perguntas depois. Vem, Dani!

***

Avançaram um contra o outro. As espadas se chocaram, produzindo um forte ruído metálico.

- Posso sim, vampiro maldito. Posso e vou, porque fiz um juramento!

- Que corajosa... seria comovente, se não fosse tão patético!

O vampiro avançou, mas a caçadora tinha treino o suficiente para repeli-lo sem muito esforço. As lâminas se batiam enquanto os dois rivais lutavam furiosamente. A agilidade e a força sobrenaturais do vampiro tinham encontrado uma oponente à altura na habilidade e técnica da humana. Ela o encarava sem medo. Sabia que ter medo deles era como oferecer o pescoço para que cravassem os dentes. Precisava encará-los como meros parasitas que eram, não atribuir-lhes características de deuses ou demônios. Só isso quase igualava a briga; um pouco de treino e uma espada com lâmina de prata cuidava do resto.

A luta estava bem equilibrada. Vampiro e caçadora se enfrentavam de igual para igual, olhos nos olhos, ele com os caninos à mostra, ela com os lábios contraídos, num silêncio rompido apenas pelo retinir da prata contra o aço e pelos ruídos lá de fora, como se um acordo tácito firmado entre ambos houvesse estabelecido que esse duelo só terminaria quando a vida de um deles se findasse...

- Por que não pára com isso e se alia a mim, caçadora?

- Jurei que te mataria, seu verme infernal! Jurei que livraria o mundo de você!

- E se o mundo não quiser ver livre de mim, menina?

- Eu fiz uma promessa. Sobre lágrimas e sangue me comprometi a destruí-lo ou morrer tentando. E é isso que vou fazer!

***

Daniella estava fraca e com o corpo todo dolorido, mas Diogo parecia estranhamente disposto. Saíram do subterrâneo, chegando a um longo corredor, que transpuseram em poucos instantes, saindo no salão de baile. Ele a fez parar e segurou-a pelos ombros:

- Dani, daqui pra frente você precisa ir sozinha.

- Mas você não vai vir comigo?

- Eu não posso, irmãzinha. Por favor, me perdoe... - ele desviou o olhar - só fiz isso por você.

- Não...

- Sim.

- DIOGO, SEU IDIOTA!

Deu-lhe um tapa no rosto, e recuou. Sentira a pele do rapaz fria sob seus dedos. Ele estava gelado. Pálido...

Morto.

Daniella começou a chorar.

- Por que você fez isso, Diogo? Por quê? Nós podíamos escapar, lord Belmont mandaria alguém atrás de nós, você... você não precisava ter vendido a alma para esses demônios!

- Você pensa que eu estou contente com isso? - o rapaz baixou a cabeça, e sua voz tornou-se um sussurro - por acaso acha que eu fiquei feliz por ser transformado num parasita como o que matou mamãe, Alonso e Eduardo? Eu repugno até a alma essa condição, Daniella. Mas... - a voz de Diogo ficou subitamente embargada - era o único jeito de te tirar daqui com vida.

- Mano... O Sol logo nasceria no horizonte. O rapaz sorriu para Daniella.

- Mana, me prometa uma coisa.

***

Em poucas horas o Sol nasceria, e a luta se arrastava. Lá fora, partidários de ambos os comandantes se enfrentavam, afinal, as ordens dos dois tinham sido as mesmas: ninguém interferia na batalha particular deles. Aquele era um assunto que apenas o líder dos vampiros e a general dos caçadores poderiam resolver.

O brilho da Lua refletia-se no olhar dos comandantes e em suas espadas. O cansaço da humana era evidente, mas a proximidade da aurora enfraquecia o vampiro, inutilizando suas habilidades sobrenaturais. Ela começava a levar vantagem sobre o adversário, mas nem por isso deixava de ser um confronto feroz e letal. Os dois rangiam os dentes quando o som do choque de metal contra metal enchia o salão, e a cada avanço da humana o mestre do castelo recuava mais.

- Você não vai me vencer... - ofegou ele - você não pode me vencer!

- Ah, é? - ela sorriu, um sorriso quase tão maligno quanto o do vampiro - pois olhe só... - mais uma vez as lâminas se encontraram, e ela sentiu o braço do inimigo fraquejar - ... é exatamente isso... - mais um golpe, e dessa vez ele quase sucumbiu - ... que está... - conseguiu cortá-lo no rosto, fazendo escorrer um filete de seu sangue escuro. O adversário recuou, tentando se manter firme no duelo - acontecendo!

A espada escapou da mão dele, ao mesmo tempo que uma dor aguda rasgou-lhe a carne imortal, na altura do estômago. Esse ferimento, somado a todos os outros que já tinha recebido (a prata não deixava o sangue vampírico agir nas feridas para fechá-las rapidamente), o fez cair de joelhos no chão por causa da dor. Ergueu o rosto para ela, e viu os olhos azuis marejados.

***

Ela enxugou os olhos e assentiu:

- Pode deixar Di. Vou dar tudo de mim para cumprir.

Ele balançou a cabeça afirmativamente, e uma lágrima vermelha rolou por seu rosto machucado.

- Não se esqueça, irmãzinha... só você pode fazer isso.

- ELES ESTÃO FUGINDO!

- Vai! Daniella fez um breve aceno com a cabeça, e correu para o outro extremo do salão, às vezes escorregando no chão de mármore, olhos fixos na porta, esperando que a qualquer instante mãos geladas a segurassem, ouvindo as pragas e blasfêmias lançadas pelos vampiros...

Mas alcançou a saída incólume. Virou-se brevemente para trás e descobriu o motivo de não a terem capturado: as cortinas de uma das janelas estava aberta, e uma larga faixa clara do céu já extremamente pálido se refletia no chão polido de lado a lado do salão. Na outra extremidade do aposento, Diogo era facilmente identificável entre os outros, por não ter a mesma palidez cadavérica que eles, e por seus olhos não exibirem o tom escarlate que identificava os seres das trevas, continuavam negros, introspectivos, profundos. Mas subitamente a escuridão de seu olhar tornou-se cor de sangue. Estava cercado dos seus, deixara de ser o irmão de Daniella...

A jovem sentiu um aperto no coração. Mas foi forte o suficiente para sair sem olhar para trás.

***

E foi aí que se lembrou. Primeiro um flash daqueles olhos claros, daquele rosto bonito, daqueles cabelos castanhos. Depois mais outro, e mais outro... um quarto escuro, gritos... várias imagens relacionadas com aquelas lágrimas...

"- Não..."

"- Sim."

O tapa. Os gritos.

Ele sorriu.

- Era você...

Ela assentiu, devagar.

"- Era o único jeito de te tirar daqui com vida."

"- Mano..."

"- Mana, me prometa uma coisa. Prometa que quando... quando chegar a hora..."

- Eu vou cumprir, Diogo.

O vampiro fechou os olhos e acenou afirmativamente com a cabeça. Quando tornou a encará-la, seu olhar era o mesmo de tempos atrás, da noite em que separaram. Daniella puxou a estaca que levava presa ao cinto. Ajoelhou-se diante dele e...

"- Quando eu me tornar como eles, quando não me lembrar mais de como é ser humano... é você quem tem que me destruir, Dani. Só você pode fazer isso."

A ponta afiada mergulhou no corpo dele. Soltou um pequeno gemido, um pouco de sangue escorreu por seus lábios, mas sorriu. Agora se lembrava de tudo... tocou o rosto da irmã com os dedos gelados. Enxugou-lhe as lágrimas.

- Tinha que ser assim, Dani... porque nós... pertencemos um ao outro...

Escorregou devagar para o chão, e caiu deitado de costas, os olhos escuros fitando inexpressivamente o vazio. Daniella sorriu, e pegou no bolso da capa o frasco que, milagrosamente, não se partira durante a luta.

- Se tivéssemos que viver separados, não teríamos nascido juntos... - fechou os olhos dele com delicadeza, e destampou o frasco - nós só temos um ao outro, temos que permanecer unidos, não importa o que aconteça. - tomou todo o líquido de um gole só, deitou-se ao lado do cadáver de Diogo e o abraçou - eu te amo, meu irmão.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Campeões da Arena - 11

# Estamos chegando a mais uma edição dos campeões! Faltando apenas duas para alcançarmos a atual. \o/

# O tema dessa foi dado pelo Klaus: Mitologias. A atividade começou dia 26/08/2007 e terminou dia 15/09/2007. A vencedora foi... Essa doida chamada Strix. O__O Escrevi o conto meio às pressas, mas até que saiu.

# Todos foram muito bons, dê uma conferida. ;) Não se assuste, só o meu foi grandinho desse jeito. xD


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O fim de uma era

2926 palavras



A criança estremeceu, num misto de excitação e medo. Sabia do destino glorioso que lhe estava reservado, mas não podia deixar de se assustar com a pesada machadinha de pedra na mão do sacerdote.

Este último estava fazendo a costumeira exortação ao povo, lembrando-o do sacrifício que os deuses haviam feito para que houvesse o Sol, e que o mínimo que poderiam fazer para retribuir era alimentar o astro com a preciosa “água da vida”. Houve um ruído de assentimento. Ele, então, dirigiu-se à criança, gentilmente.

_Pronto para fazer parte daquele grupo de privilegiados que acompanham Huitzilopochtli em sua jornada diária pelo céu?

O pequeno assentiu, com aquela mesma mistura de sentimentos. Sua cabeça foi colocada em uma posição propícia, a machadinha de pedra subiu. Logo, a “água da vida” jorrava, garantindo que o Sol brilharia um pouco mais.

“A água da vida...”, pensou um indivíduo no meio da multidão dos astecas. “Se é ela que dá poder ao Sol, será o que preciso para atingir o poder que busco?”



***



Estevão pingou a gota de sangue no tubo de ensaio e agitou. Nenhuma mudança.

_Negativo, Sr. Gimenez _comentou, pesaroso, para o homem ao seu lado. _Não consigo entender. Primeiro, mais de cem operários de uma construção são encontrados mortos. Tiveram as gargantas cortadas por um instrumento bem afiado e todos estavam com quase nenhum sangue. Desde então, todos os dias, vemos dois ou três cadáveres com mordidas nítidas na jugular e praticamente dessangrados também. O teste que acabei de fazer deu negativo para a presença de saliva de vampiros. Que raio de criatura tresloucada pode estar querendo tanto sangue?! E pra fazer o quê?!!

Gimenez, homem claro de mansos olhos azuis, cofiou a barba.

_Difícil dizer... _falou, em seu espanhol pausado. _O gosto desmesurado por sangue parece ser uma característica comum a quase todo o gênero humano.

_Verdade _Estevão comentou, desanimado. _Não faço idéia do porquê de Gary... Er... de o Superintendente Geraldo ter me mandado aqui pro México, se nem detetive eu sou e tem muito mais gente que fala espanhol na Polícia Dimensional. Ele disse que foi intuição. Bah! Sempre fico com o pé atrás sobre esse negócio de “intuição vampírica”.

_Não devemos nunca desprezar nossas intuições _o senhor sorriu melancolicamente. _E a minha também diz que você é perfeito para o trabalho. Mas diga-me... Quais seus planos para essa noite?

_Devo montar guarda na entrada da floresta, perto do lugar da chacina dos operários.

_E o que eu faço?

_Fica em casa _Estevão rebateu, com firmeza. _O senhor é um correspondente da Polícia, o Estatuto prevê que não deve ter sua vida exposta a risco caso haja um funcionário competente cuidando do caso. Estude seus livros de lendas, talvez encontre algo que nos ajude.

_Você é corajoso, amigo. Que os deuses o protejam.



O Sol tinha se posto e a noite se aproximava, célere. Aquele parecia o horário em que ocorriam os ataques. A Lua já estava surgindo. Quase cheia, parecia prometer uma noite clara.

Alguma coisa oprimia Estevão. Era difícil dizer o que. Parecia estar na atmosfera. Um imperceptível cheiro de coisas antigas. Um não-sei-o-que de perigo que o fazia estremecer.

Já estava bastante escuro quando o rapaz ouviu um grito abafado. Tentou correr na direção, mas o som vinha de um lugar bem mais longe do que ele supunha. Ao alcançar uma pequenina clareira, ouviu um som nítido de muitos passos que fugiam. Novamente, aquele cheiro de coisa embolorada, que ele já havia sentido ao acompanhar os pais a escavações arqueológicas.

Um rápida verificação mostrou a ele que era inútil tentar seguir quem quer que estivesse ali. Era rápido e não deixara vestígios. Ou deixara?
Próximo à vítima, já morta, estava algo que deviam ter deixado cair na pressa. Uma tigela de cerâmica decorada, toda suja de sangue. “Decoração asteca”, diagnosticou. Estava enganado, ou eram cenas dos sacrifícios humanos para alimentar o Sol? Apesar da vontade de se embrenhar na selva, na direção em que ele imaginava que os atacantes misteriosos teriam desaparecido, reconheceu que Gimenez poderia ajudar.



_Absolutamente correto _o velho antropólogo confirmou. _É inconfundivelmente um ritual de sacrifício humano. Você disse que o assassino deixou cair?

_Creio que sim. Não parece o tipo de coisa que um caçador comum carregaria consigo e esse sangue é fresco. O senhor acha que pode um religioso ortodoxo que resolveu reavivar o antigo ritual?

_Não creio... O ritual exige apenas um sacrifício por dia. E tem que ser feito num altar especialmente consagrado, ou não chegará a Huitzilopochtli, de acordo com as crenças astecas. O topo da pirâmide de Quetzalcoatl, que não fica distante daquele lugar onde você esteve, seria um lugar bem mais propício.

_Lá isso é... Falando nisso, essa pirâmide é aquela que poderia ruir se a construção do condomínio La Plata continuasse? Aquela mesma construção onde trabalhavam as primeiras vítimas? Acha que pode ser por isso que mataram todos?

_A pirâmide é essa mesma. Mas não sei se tem algo a ver. Seria muito irônico se tivesse. Quetzalcoatl era o deus da bondade e da sabedoria, não tolerava sacrifícios humanos.

_Preciso investigar essa pirâmide amanhã. E, à noite, creio que terei mais sucesso na vigília. A noite de amanhã será especial...



A investigação da pirâmide tinha sido praticamente infrutífera. Parecia ser totalmente sólida, sem uma única reentrância que servisse de esconderijo. Apenas algumas manchas de sangue recém-derramado sugeriam que o misterioso assassino esteve por ali.

Naquele momento, Estevão esperava pacientemente pelo fim do pôr-do-sol. Escurecia e a Lua, agora cheia, começava a brilhar. “Seja silencioso. Tenha cautela. Não ataque logo de cara.”, repetia de si para si, como um mantra. Quando achou que estava suficiente escuro, abandonou seu posto nas folhagens e deixou o luar atingi-lo.

Não queria fazer ruído, por isso, mordeu com força o lábio inferior, enquanto os pêlos brotavam dolorosamente de cada centímetro quadrado de sua pele.

Todas as vezes que ele se transformava em lobo humanóide sem gemer ou uivar, a dor o fazia jurar que seria a última vez. Perjúrio, claro. Logo, ele estava massageando a mandíbula dolorida, pronto para a caça.

Embora o raciocínio em uma forma animal qualquer fosse muito penoso, os anos e a prática haviam dado a Estevão algum autocontrole. Ele era capaz de diferenciar “pessoas” de “comida” e conseguia se focar em algumas tarefas. “Seja silencioso. Tenha cautela. Não ataque logo de cara.”, uma voz repetia em sua cabeça.

Inspirando mais profundamente, ele viu que era hora de agir. Um tubarão pode sentir o cheiro de uma gota de sangue na outra extremidade de uma piscina olímpica. Um lobisomem pode sentir o cheiro de uma gota de sangue na outra extremidade de uma floresta. Dessa vez, o assassino não escaparia.

A vítima estava não muito distante da que ele vira na noite anterior. Dessa vez, ele podia sentir um cheiro completamente desconhecido e muito nítido. O desconhecido não poderia escapar. Estevão, enfim, iria ver...

Aproximou-se o mais silenciosamente possível do lugar do ataque. Quando conseguiu um bom posto de observação, precisou de toda a sua força de vontade para não fazer ruído e se entregar. A vítima já não podia ser salva e a cena era... Ora, parecia um delírio!

A moça morta estava tendo seu sangue vertido em uma espécie de jarro de cerâmica. A criatura que estava fazendo isso tinha a boca toda suja de sangue. Era difícil dizer o que era aquilo. Tinha um corpo musculoso, coberto por uma leve pelagem dourada com manchas pretas. O rosto era uma mistura bizarra entre o humano e o felino. Terminando de recolher o sangue da moça, a criatura pegou uma pequena tigela, semelhante à que Estevão encontrara antes, encheu-a com um pouco daquele sangue e bebeu. Pegou o jarro com reverência e desapareceu na selva.

Passado o momento de choque, o rapaz passou a seguir o homem-onça. Não era difícil, agora. Depois de alguma caminhada, chegaram à pirâmide de Quetzalcoatl. Estupefato, Estevão viu uma porta enorme e trabalhada onde, durante o dia, só havia um painel em baixo-relevo.
Mais um “homem-onça” surgiu com seu jarro cheio. Os dois passaram pela porta, sem perceber que estavam sendo seguidos.



Uma dor de cabeça infernal. Era isso o que Estevão sentia agora, ao acordar na casa de Gimenez. Não que fosse incomum: o rapaz a chamava de “ressaca lupina”. Era o que acontecia quando ele teimava e tentava raciocinar demais na forma de lobo. Mas ele tinha que convir: os acontecimentos da noite passada eram estranhos demais, até para ele.

_Tudo bem, amigo? _Gimenez perguntou, entrando no quarto. _Você teve um sono agitado depois que chegou. O que descobriu?

O rapaz se sentou, apoiando a cabeça nas mãos. Contou, lentamente, como havia encontrado o “homem-onça” e como o seguira até a pirâmide. Calou-se por uns instantes, mas, forçando-se a continuar, revelou o que viu no interior da pirâmide.

_Eu segui aqueles homens pirâmide a dentro. Depois de andarmos por muitos corredores e escadas, acabamos em um salão enorme. Como descrever o que senti naquele lugar? Estava apinhado desses gatos vitaminados. No fundo do salão, havia algo que parecia um altar. Um homem com uma capa de penas e máscara de dragão estava lá. Em frente a ele, tinha duas múmias estendidas no chão. Atrás... Deus, o que era aquilo? Ela tinha o corpo de uma mulher muito gost... muito bonita, mas era toda coberta de pêlos e tinha cabeça de onça. Ao contrário dos feiosinhos da platéia, dava gosto olhar para ela. Só que estava como que paralisada numa posição estranha... E os olhos... Aqueles olhos... Dava pra ver uma raiva quase assassina.

“O homem de capa falou uma coisa que não entendi na hora. Mas logo vi que era nahuatl. Aprendi essa língua antes mesmo de aprender espanhol e inglês, graças a meus pais. Ele estava pedindo os jarros com 'água da vida'. Os dois gatões levaram até ele, que pegou um dos jarros e começou a espargir o sangue nas múmias. Depois, estendeu a mão para elas e elas... Elas ganharam vida! Eram homens-onça feiosos como os outros. Depois, ele fez um discurso.

“No discurso, ele mandava que os ‘filhos’ dele continuassem se preparando. Dizia que, quando estivessem prontos, eles acabariam com a era do Quinto Sol. Disse que a fogueira sagrada estava quase pronta, que seus ‘filhos’ deveriam se preparar para o advento do Sexto Sol.

“Os homens-onça começaram a dançar e fazer uns rituais estranhos. O cara de capa pegou o sangue que sobrava no segundo jarro, molhou o ventre da mulher-onça do altar e teve relações com ela ali mesmo. Nessa hora, achei que o olhar dela ia queimar de tanta fúria. Não suportei mais ficar por ali. Meus instintos de lobo pediam ar puro, urgentemente! Saí e nem me lembro direito como cheguei aqui.”
Gimenez estava pensativo. Sentou-se na cama e ficou muito tempo silencioso, de olha fixo.

_Sei que é difícil crer que isso está acontecendo no mundo real _disse, por fim. _Mas acho que o que você viu eram os bebês-jaguar... Havia entre os olmecas um culto, presumivelmente secreto, em que eles acreditavam ser capazes de formar uma raça de semi-deuses através do coito com jaguares. Se o que você me diz está correto em cada detalhe, eles conseguiram um pouco mais do que isso. Nada menos que o cruzamento de homens com a própria deusa-jaguar. Não sei como esse homem conseguiu o poder que você relatou, como subjugou a deusa ou por que está ressuscitando essas múmias. Mas sei que isso não é nada bom para a Humanidade. Os astecas acreditavam que o Primeiro Sol pereceu junto com sua Humanidade justamente quando jaguares deixaram a selva e devoraram os homens. Como esse indivíduo de capa falou em fogueira, não duvido que ele pense que pode se sacrificar para se tornar o Sexto Sol, como os deuses fizeram para criar os sóis anteriores.

_E o que fazemos a respeito? Eu não me importaria de ir atrás deles. Tem um tempo que não corro atrás de gatos. Um cão humanóide monstruoso perseguindo gatos humanóides monstruosos. É perfeito!

_Você é forte, muchacho, mas eles são semideuses. Você poderia enfrentar um ou até dois, mas não um exército. Nosso caso é, talvez, mais desesperado e requer medidas drásticas. A deusa-jaguar é a deusa da guerra. Liberte-a e não duvido que a maneira mais suave como ela vai retribuir a afronta que vem sofrendo é incinerando todos aqueles homens-jaguar.

_Mas como?

_A água da vida, meu caro... _disse, e pegou uma faca afiada da cozinha.



Foi com o coração pesado que Estevão seguiu para a pirâmide de Quetzalcoatl aquela noite. Acreditava que não haveria maiores dificuldades em executar o plano, mas ele deixara Gimenez em casa, debilitado. O velho nem oferecera grandes quantidades de seu sangue, mas aquilo pareceu lhe fazer muito mais mal do que seria de se esperar.

_Jogue sobre a cabeça dela _instruíra. _Consciente, ela será capaz de fazer o resto.

O fardo precioso estava em um pote de vidro que o lobisomem trazia a tiracolo. Seu foco atual era “derramar o sangue na cabeça da deusa-jaguar”. Era isso que ele devia fazer. Era isso que faria.

Entrar na pirâmide e alcançar o salão fora fácil. O difícil seria passar por todos aqueles homens-jaguar e alcançar a deusa.

O ritual prosseguiu da mesma forma que na noite anterior. Só que dessa vez, Estevão agüentou firme. Tão logo o homem de capa se entregou mais completamente à relação sexual e a dança dos homens-jaguar se tornou mais frenética, ele entrou correndo a toda velocidade.

Ninguém teve tempo de entender o que estava acontecendo e reagir. O homem com a capa ainda balbuciou “Xolotl?” e ergueu a mão. Nada aconteceu com Estevão, que derramou o sangue de Gimenez sobre a deusa, com um olhar de desafio.

O sangue brilhou intensamente e se espalhou sobre o corpo dela. Isso causou uma onda de pânico no salão. Os homens-jaguar gritavam e trombavam uns nos outros na ânsia de fugir. Tão logo o brilho passou, a deusa se endireitou e estalou algumas juntas. Olhou para Estevão de relance e ele ouviu em sua mente: “Obrigada, filho de Xolotl. Irei tirá-lo daqui. Leve isso a seu mestre.”

Ato contínuo, ela arrancou selvagemente a capa e a máscara do homem e atirou-as a Estevão. Tão logo recebeu as peças, ele se sentiu atirado para trás. Antes de aparecer fora da pirâmide (sem nem saber como), ele ainda pôde ver a deusa se tornando uma onça-pintada gigantesca, enquanto labaredas cresciam ao redor dela.

Da enorme porta e de todas as frestas da rocha surgiram chamas e dava para ouvir nitidamente o grito de gatos em sofrimento. Sentado no chão, o rapaz contemplava o espetáculo sem saber o que pensar.



_Você conseguiu... Estou orgulhoso.

A voz cansada de Gimenez assustou-o. O velho estava apoiado em um cajado e um coiote maltratado o seguia. Olhando a pirâmide, que agora apenas fumegava, aproximou-se de Estevão. Viu a capa e a máscara e as tomou com interesse.

Sem fazer perguntas ou esperar protestos, jogou a capa sobre os ombros e pôs a máscara. Imediatamente as emendas da capa desapareceram e ele começou a flutuar a uma grande altura. Pouco a pouco, uma serpente emplumada de dimensões inimagináveis começou a tomar forma no céu. Tão grande que cobriu a Lua, permitindo ao rapaz voltar ao normal.

_Quetzalcoatl... _sussurrou.

_Muito obrigado, bom jovem _a voz poderosa ressoou, trazida pelas correntes de vento. _Meu irmão Tezcatlipoca condenou-me à forma de homem. Esse que viste dentro do templo roubou-me o manto e a máscara que serviam a mim como depósito do poder divino que eu ainda possuía. Eu havia dado meu sangue para reviver a quinta Humanidade há pouco tempo e ainda estava enfraquecido.

“Ele procurou criar uma nova Humanidade, utilizando a deusa-jaguar para gerar semideuses, mas eu não podia permitir que a Humanidade do Quinto Sol perecesse antes do tempo. Com o pouco de poder que ainda me restava após o roubo, eu não podia vencer a barreira contra deuses criada pelo homem, mas podia fortalecê-la para que o próprio homem ficasse lacrado em meu templo, na pirâmide. Eu jamais podia imaginar que, tantos séculos depois, uma construção humana seria capaz de abalar o templo até quebrar o selo dos homens-jaguar.

“Eu podia não ter mais o poder ou minha forma original. Mas ainda era imortal e, durante todo esse tempo, vaguei pelo mundo, conhecendo melhor a Humanidade do Quinto Sol... Tanta arrogância, tanta fragilidade! Há muito que corrigir, mas muito que se aproveitar para a construção da nova Humanidade... A era do Quito Sol está no fim e a era dos Viajantes das Estrelas se aproxima.

“Mais uma vez, obrigado por tua ajuda. Finalmente posso voltar para casa. Há algo que desejas, depois de tão árdua batalha?”

_Respostas _Estevão disse, após pensar um pouco. _O senhor deve ter visto muito em todos esses anos. Será que não poderia...

_Posso ver claramente suas perguntas _o deus respondeu, por antecipação _e, embora saiba que você não as faz por vã curiosidade, não poderei respondê-las. Depois de dar à Humanidade os conhecimentos mais básicos, decidi deixar que ela procurasse por si só os outros. Mas lego a você tudo o que possuí em minha peregrinação humana. Talvez encontre algo do que busca nas notas de minhas viagens.

“Preciso ir. Ainda não estou completamente restabelecido. Saiba que tens para sempre um amigo no céu, jovem lobo.”

A serpente começou a se mover em círculos e lentamente desapareceu. Vênus, no céu, brilhou com o dobro da intensidade por alguns instantes.

_Caso encerrado _Estevão murmurou.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

U

mantra do luto:
vêm tuas corujas
flutuando dos túmulos
em ululos lúgubres
galopam teus vultos
em soluços fúnebres
que sussurram ocultos
aos purpúreos vultos
de um Hino de Urubu...

ó letra U !!!
essência verbal do escuro,
será por acaso
que és vogal principal
de Futuro?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Campeões da Arena - 10

# A menor Atividade desde o início. Participaram apenas 3 contos, mas a disputa foi emocionante. Pelo menos para mim, que contei os votos. ^_^

# O tema foi "Sexo, Drogas e Rock'n'roll", dado pelo Flavius (antes de ele evaporar). A AQ começou dia 03/08/2007 e foi até dia 26/08/2007. E a grande vencedora fooooi... ela! A Poderosa Ruiva! A Chefa! Agnes Mirra! \o/

# Confiram seu Conto de Ouro. ;)

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OS OLHOS ABERTOS... E O SORRISO!



“Primeiro as pernas voaram/de borracha, de nada/o músculo leve.../Salvo.../Livre... O suficiente pra planar/ e o corpo todo foi atrás...”*

Ouvia a mesma música várias vezes. Ela refletia bem como me sentia. Mas num certo momento tinha de parar de ouvi-la. Antes que os efeitos viessem.

Moro só há três anos, estudando arquitetura em outro estado. Queria construir lugares para as pessoas se isolarem. Verdadeiras fortalezas. O mundo não é tão belo assim para que fiquemos expostos. A solidão voluntária nunca me incomodou. Minha privacidade era plena... Mas estar sozinha por muito tempo despertou minha sensibilidade de maneira extrema. Bastava assistir ou ler algo, e pensar a respeito, refletir, me transportava e logo me sentia igual ou ainda mais afetada a tal situação. Podia ser bom, ruim também. Perigoso. Sabia até onde podia ir.

Uma vez ao mês ia visitar minha família. Era normal, sem surpresas, a mesmisse de sempre. E quando voltava, logo queria sentir outras sensações. Não tinha uma vida social agitada, preferia ficar em casa, estudando, lendo, cuidando de minha beleza exterior, era vaidosa demais! E sentindo...

“Em cima, em baixo/ dos lados/ no meio centro do mundo...” *

Essa era minha música predileta. Acompanhava meus dias. Sempre estava em minha cabeça. Lábios e ouvido. Eu era bipolar. E quando as crises vinham, quase sempre me recusava a tomar as medicações.Mas era necessário. Elas faziam meu estômago arder, e eu sempre vomitava e era obrigada a tomar outra dose. Essa era minha vida: estudar, ficar sozinha, ouvir a mesma música,cuidar da minha beleza, vomitar, sentir... Sentia-me bem, mas aos poucos o tédio foi tomando conta de mim. E cada vez era mais irreversível. Viver tantas sensações sem sair de casa estava me deixando claustrofóbica e pela primeira vez desejava sair. Mas meu entusiasmo não durara mais que três minutos...

“E os violões voaram sob a noite/enquanto as lâmpadas de mercúrio iluminavam a praça/A voz.../ Pernas e lesmas/ pernas../ tocam de leve o chão...”

Da janela observo um casal discutindo. E do outro lado da rua uma garota diz seu preço. Fome. Sinto-me faminta. Mas meu peso não pode exceder, dá trabalho voltar à forma, então, vou aos livros. As imagens, as receitas, os sabores. Logo sinto-me enjoada. Acho que me excedi. Mas não tem problema, assim é seguro. Mas não estarei livre de uma indigestão!

O telefone toca e eu novamente recuso o convite do rapaz que senta atrás de mim na sala de aula. Ele não quer apenas sexo. E eu não quero um relacionamento. Nem com ele, nem com ninguém. Eu me basto. Não quero me viciar nas pessoas. Não preciso de mais uma obsessão.

Longos dias passam e eu continuo no meu casulo pessoal. Nem feliz,nem triste. Apenas sobrevivendo à minha maneira. Filmes! Outra obsessão. “Sid e Nancy- o amor mata”** esse ainda não vi. Vale à pena comprar. Conheço a biografia do cara. Mas a versão filmada ainda não. A crítica foi generosa ao menos, não sei se eu vou gostar. Em casa vou poder averiguar isso. Gary Oldman é sempre bom nas atuações. Sempre gostei dele.

Vi o filme duas vezes antes de ir dormir. Era o que esperava, fiquei feliz.Valeu cada centavo! Outra crise bipolar. Não agüento mais essas crises bipolares. Dessa vez não tomo nenhum remédio. Vai passar espontaneamente. É só não ficar pensando muito que logo passa. Eu sei que não é assim, mas vou fingir que é. O filme, irei revê-lo, posso me sentir melhor. Cada cena, as imagens, a música, o amor, as drogas... O vício na tela, e em mim. Absorvi cada instante. Senti meu cérebro esfacelando-se. Deitada no chão do quarto, as imagens na tela me possuindo. Queria parar, mas não conseguia. Era assim que eles se sentiam? Um pouco mais apenas. Só mais um pouco e paro. Só mais...

“E os olhos abertos/ e o sorriso/ e os olhos abertos/ e o sorriso/ de quem se liga no mar...”*


FIM


* ( Letra da música "Momento na Praça" da Banda psicodélica Recifense Ave Sangria.

** ("Sid e Nancy - o amor mata" filmaço estralando por Gary Oldman e Chlöe Webb mostrando a biografia de Sid Viscious. Assistam, é muito bom!!!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

CRÔNICA

Olá, leitores

Agora vou postar uma crônica do Giorgio Boy, um texto muito bom que nos transporta a anos atrás... Adorei e com prazer publico aqui para apreciação de vocês!

Boa leitura a todos!


SAUDADE


Ah, meu tempo de menino...! Um forte suspiro e quase chego a chorar. Como eu brincava! As crianças de hoje em dia nem fazem idéia do que é diversão. Aquilo que era infância, naum o que a molecada de hoje tem!

Era muito da hora gastar horas de minha vida detonando inimigos, tirando rachas ou sangrando mortos-vivos no meu Play Station! Eu tinha uma galera de mais de cem amigos ao alcance da minha mão, a um simples teclar do MSN. Desses, pelo menos uns cinco tavam sempre on-line! E aí, depois das aulas, a gente combinava uma partida de Counter Strike. Cada um na Lan House de seu Estado. Nunca conheci nenhum deles pessoalmente, nem jamais soube que caras eles tinham... Em vez de fotos, eles botavam outras imagens no MSN, no Orkut e nas páginas virtuais. Agora, se você perguntar os nomes, naum esqueço nenhum. Que falta me fazem meus amigos Wolverine, Margie Simpson, Super Mario, Kenny e Bob Esponja!

Pelo MSN mesmo rolavam uns papos muito irados. Todo mundo tinha o seu celular e a gente enviava, uns pros outros, fotos de qualquer coisa. Altas gargalhadas: os mais tímidos, rs; os mais extrovertidos, LOL, huahuahuahauhauah e kkkkkk.

Mas nem tudo foi alegria na minha juventude. Perdi a inocência muito cedo, quando o meu Tamagochi – aquele bichinho virtual que a gente carregava num monitor que cabia no bolso – morreu pela primeira vez. Por mais que eu desse carinho e comida, ele acabava morrendo uma hora... Aprendi então a naum me envolver. Isso teve um lado bom; sofri muito pouco quando minha namorada, que morava do outro lado do Oceano Atlântico e com quem tive minha primeira vez numa sala de sexo virtual, terminou comigo por e-mail. Pra ela, nosso relacionamento estava ficando muito sério, muito profundo, e isso a assustava. Sofri, claro, mas nada que dois games novos comprados num camelô naum resolvessem.

Naum tinha saco pra pegar cinema. Era muito mais fácil e barato baixar filmes pela Internet e assistir no conforto do meu monitor de 14 polegadas. Dava até pra ver quando a galera no cinema se levantava, ria, gritava e batia palmas. Tenho um filme que eu nunca vou jogar fora: se escuta direitinho um figura que ficou peidando o tempo todo, kkkk!

A parada mais freak que eu tive foi num show de uma banda que lançou só um CD, de quem eu nem lembro o nome, nunca tinha ouvido nada deles, mas uns amigos que eu tinha acabado de conhecer no shopping me chamaram pra ir. Fiquei com uma mina que falava pobrema e menas, tomei um barato lá que ela me deu e caí, bebaço, doidão. Acordei dentro de uma ambulância, sem minha carteira, sem meu celular e o cabelo todo mijado. Nem assisti o show! Uhu, animal!

Quantas lembranças maravilhosas, quantos momentos felizes que guardo e guardarei para sempre na memória.

Mas na memória virtual, lógico. E com back-up, pra garantir.

CONTO EM DUPLA

Oi, gente


Mais uma vez tenho o prazer de publicar mais uma criação minha e de Welwerin. Dessa vez a música que nos inspirou veio da minha Banda predileta, Rush, do CD '2112' , de 1976 que é uma super obra-prima! A letra da música é essa:

GRAND FINALE


(Music by geddy lee, alex lifeson, and neil peart)


"Attention all planets of the solar federation
Attention all planets of the solar federation
Attention all planets of the solar federation
We have assumed control.
We have assumed control.
We have assumed control..."

("Atenção todos os planetas da federação solar, estamos assumindo o controle"...)


Conto publicado no site em 04/10/07


Boa leitura a todos!



O ÚLTIMO DIA


Glória acordou com dor de cabeça. Ao abrir os olhos o rostinho de Sofia estava a sua frente. Estava arrumada para ir à escola. Primeiro dia de aula, Sofia estava radiante! Glória segurou a cabeça e foi ao banheiro tomar um analgésico. Sofia, agora sentada na cama da mãe, comia seu cereal calmamente. “Só preciso de alguns minutos pra ficar bem” ela disse pra si mesma, enquanto engolia uma cápsula. Quando pôs o copo de volta a pia, observou que o mesmo vibrava, afastando-se do lugar, até que finalmente caiu no chão. Ela assustou-se, o que aumentou sua cefaléia. Sofia perguntou o que foi e ela respondeu que não foi nada.

Ao agachar-se para recolher os cacos de vidro, sentiu, ou melhor, ouviu um som que lhe provocou mais dor, esse som era acompanhado de uma vibração, como uma ‘microfonia’. Durando apenas alguns segundos, mas o suficiente para deixar ela e sua filha perturbadas. A
Menina agora chorava. Glória tentava acalentá-la. Alguns instantes depois tudo parecia normal, Glória sentia-se melhor e já estava a caminho da escola de Sofia...”

Elas logo entraram no carro, um carro grande, na verdade uma van. Dentro do automóvel perceberam as pessoas assustadas nas ruas, todas comentando sobre o ocorrido. Gloria não podia simplesmente deixar que isso atrapalhasse sua vida. Engatou a ré do carro e quando foi saindo quase bateu em alguns carros que estavam atrás. Estressada ela saiu do carro com tanta raiva que parecia que ia gritar com meia dúzia de indivíduos folgados. Mas antes de soltar a voz, notou o grande congestionamento em sua rua. Mais nervosa do que nunca voltou para o carro para avisar Sofia, porém quando chegou ficou aflita, pois só estava à mochila dentro do carro.

Desesperada, correu em direção a casa, para ver se sua filha estava lá dentro. Procurou por todos os cantos, mas ela não estava. Em pânico, correu para rua, olhando para os lados, mas não havia sinais de Sofia.

"Onde poderia ter ido? Ou pior: quem a teria levado? Ela sai perguntando aos vizinhos pelo paradeiro da menina, mas tudo que ouve é que ninguém a viu. Parou, respirou fundo, entrou na Van e minuciosamente percorreu as ruas a procura da filha. “Ela não deve estar longe”, disse a si mesma já com lágrimas nos olhos. Sentia uma vibração vinda do solo, e a microfonia ressurgiu drasticamente fazendo-a parar o veículo bruscamente. “O que Diabos está acontecendo”?

Ofegante e confusa, ela olha o céu e percebe que ele está ligeiramente lilás. Não há nuvens, nem sol. Apenas uma claridade estranha. “Meu Deus, o que está havendo?”Ela encosta a cabeça no volante e chora. Mas é surpreendida por uma mulher perguntando se ela viu um garoto ruivo de oito anos. Glória não responde. A mulher sai desesperada pela rua e é atropelada por um veiculo em alta velocidade. “O que está havendo?”Mais uma pergunta que Glória faz a si mesma e não há respostas."

“Não posso ficar assim, tenho que achar minha filha”. Mesmo chocada ao ver o corpo da mulher em pedaços no asfalto, ela sai em disparada. A cidade está caótica e todos estão pelas ruas procurando algo. “Seus filhos também sumiram...” Ela é obrigada a dirigir mais devagar devido à grande quantidade de pessoas na rua. Aos poucos, o céu volta à tonalidade natural, e o som não mais fere os ouvidos. Tudo estava normal. Algumas crianças apareceram nas ruas. “Onde está minha filha?”. Glória se perguntava várias vezes. “Vou voltar pra casa, ela deve estar lá...”. Sofia a esperava na porta, a boneca de pano oriental em suas mãos, a quem chamava de ‘Satomi’. A mãe sai do carro e abraça a menina calorosamente e logo pergunta onde ela esteve. Sofia apenas ri e diz que estava em casa. Glória interrompe seu breve diálogo, aliviada com o aparecimento da filha. “Vamos entrar, acho que hoje não vai ter aula, vamos ficar lá dentro, juntinhas...”com a menina e a boneca nos braços ela entra na casa.

Durante o resto do dia, Glória ainda não entendia o sumiço repentino de Sofia. Tentou interrogar a filha algumas vezes, mas, a criança parecia perdida e desatenta. Ao anoitecer, as duas estavam sentadas na mesa quando Sofia começa sentir uma forte dor no estômago, que a faz cair no chão se remexendo de dor. Gloria, desesperada, vai em direção à filha com o intuito de ajudá-la, mas sua filha se revira no chão de dor. Passado cerca de15 segundos ela Glória já estava com um anti-espasmódico na mão e um copo de água na outra, ela oferece a Sofia, que aceita e sorri para ela de um modo misterioso. As horas passam até chegar o momento da menina dormir , Glória a coloca na cama, mas antes de sair do quarto Glória ouve em sua mente... “Amanhã será um novo dia...”

Ela resolve ficar com filha. Passaria a noite acordada, observando-a. Tentando entender os estranhos acontecimentos do dia, ela sente-se mal repentinamente. Lembra das horas de horror que viveu no shopping quando Sofia simplesmente sumiu enquanto ela comprava um sorvete. O medo de não a ver de novo. O sentimento de perda. Glória sentiu-se assim novamente. Tomada por um impulso, ela toma a filha nos braços, acordando-a.

_ Mamãe, o que foi?_ a menina esfrega os olhos enquanto fala.
_ Nada, meu bem, eu queria te abraçar. Sinto muito por tê-la acordado.

Sofia volta a dormir. A mãe permanece com ela nos braços. Recusa-se a dormir, mas logo é vencida pelo sono.

A luz do dia penetra no quarto, acordando Glória. Ela põe Sofia de volta na cama, agasalhando-a. Ouve um barulho. Vários sons e ruídos pela casa. A TV está ligada, mas sem sintonia. O rádio da cozinha também. O computador na sala. O que houve? Ela sempre desliga tudo. Ouve vozes na rua, então vai olhar pela janela. Os vizinhos todos comentando sobre os aparelhos ligados.

Ela fica perplexa e volta ao quarto, encontrando Sofia olhando pela janela. A menina vira-se quando percebe que ela entrou no quarto, com um sorriso suspenso nos lábios.

_Filha, quero que me diga onde esteve ontem, quando eu estava a sua procura.
_ Estava em casa mamãe. Já te disse isso.
_ Não, meu bem, eu te procurei a casa toda...

Antes que ele continuasse a frase, um ruído ensurdecedor invade a casa, fazendo Glória segurar a cabeça. Sofia permanece de pé, olhando a mãe contorcer-se.

_Eu estava em casa, mamãe. Lá. É ali que estou sempre que você não me encontra..._ apontando para o céu.

Glória olha na direção que Sofia mostra. O ruído cessa. Ela aproxima-se da janela e vê suspensa no céu muitos discos voadores, exatamente como são descritas por muitos. Ela não consegue dizer uma só palavra, leva as mãos trêmulas à boca e os olhos espantados para a filha.

_ Mamãe, eu sei que papai não morreu, como me disse.Fui ‘adotada’. Você e todas as mães dessa cidade fizeram isso. Tínhamos que ser cuidadas, alimentadas e aprender a viver como humanos. Infelizmente um dia você e todos vão morrer, aí só restará pessoas como eu aqui.

_ Isso é loucura! O que está dizendo?

_ Não se preocupa, ninguém vai te machucar. Vou tomar conta de você. A situação agora é inversa. Ontem foi seu último dia de mãe. Agora, estamos assumindo o controle...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Campeões da Arena - 9

# Gente! Estamos quase apanhando a atual Atividade! \o/ A 13 já começou, mais três posts e chego lá! ^^

# A AQ009 foi uma marca na minha história no RPG-X: não só foi meu primeiro tema de AQ, como, nessa época, titio Garret teve sérios problemas de tempo e me ofereci como moderadora interina da Arena. ^^ O tema foi Detetives, um dos meus favoritos! *______*

# A Atividade durou de 21/06/2006 a 02/08/07 (o desaparecimento de Garret causou um problema danado com os prazos) e o vencedor foi o bicampeão Flavius! ^^ O conto dele foi ótimo, num clima noir e meio melancólico. Posso dizer que os contos ficaram no nível que desejei para o tema. \o/ E ainda tirei o segundo lugar, acreditam?, com um conto que bateu o recorde de tamanho de título (não coube como título do tópico). xD

# Fiquem aí com o conto do sumido do Dado e divirtam-se. ^^

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O amor move o mundo


Quase toda a estrutura havia desabado. Pouco sobrava da casa. O fogo consumira tudo, incendiado pelo ódio no coração de um assassino. Restava saber quem era esse último.

A jovem estava caída na cena do crime. "Decúbito dorsal", anotava o assistente. Estupro seguido de morte. "Arma branca?". Queimada viva. Os gritos foram ouvidos por toda a vizinhança. "Em vinte anos de corporação nunca vi nada parecido". Clichê. Ela estava nua. Com algum esforço podia reconhecer a beleza que se perdeu nas chamas. Jogaram um lençol branco sobre ela. Mais um clichê. São deles a composição da vida.

"Quem fez isso?". Perguntas retóricas para si mesmo. Ninguém respondia. Ele sempre fazia isso em busca de suas próprias respostas. Ninguém nunca respondia. Um perito da polícia científica passa correndo. "Acharam digitais". Seria ótimo não precisar de mais um DNA. Aquele juiz estava ficando arredio. "Demasiada oneração do aparato público". Ordenou que restringissem o empenho nas investigações. Os bombeiros também queriam restringir. O casarão desabaria a qualquer momento. É claro que ele não se preocupava. Pobre garota. "Caucasiana, loira, 16 anos, possivelmente virgem." Possivelmente virgem. Que espécie de imbecil escreveria isso em um relatório de investigação? A espécie assistente de investigação. Será que há como levá-los a extinção? Não. Abririam mais concursos públicos.

Um detalhe. Ele só precisa de um detalhe para resolver o caso. Algo como aquela caneta no ano passado. Esquecida no local do crime. Duas iniciais. Aqui não havia nada. O fogo eliminara provas com a mesma intensidade que fizera a garota sofrer. Ele gostava de imaginar o que faria com o assassino se o encontrasse sozinho em uma noite escura. Faria com que gritasse. Muito. O Capitão tem pressionado. Quer que encerre o caso. Feche a cena do crime. "Caso não solucionado", escreveria aquele acéfalo. O que motiva alguém a fazer algo assim? Uma criança. Um anjo. Seus olhos lacrimejam e sua cabeça dói de tanto pensar. Sempre se apaixonava pelas vítimas. Se não fosse assim não teria a força necessária para querer ajuda-las. "O amor move o mundo". As pessoas sempre culpam o amor.

Nenhum indício. Talvez realmente fosse hora de ir para casa. Todos estão cansados. Inclusive ele. Por vinte e duas horas reviraram aquele espaço. O assassino escaparia da justiça dos homens. Restava rezar pela justiça divina. Ele deixa que os outros agentes removam o necessário antes de evacuar a casa. Entra no carro e acende um cigarro. Talvez beba algo no J antes de dormir. Talvez até passe na casa daquela pequena. Queria companhia. Dia de cão. Dia da caça.

Num apartamento central da cidade um homem toma sua última dose de whisky. Limpa com cuidado as lentes de seu óculos de frente para a janela. Uma brisa fria sempre existe no vigésimo sétimo andar. Hoje não. Tudo está abafado. Sobre a escrivaninha, único móvel do escritório além da estante com livros, uma máquina de escrever. Nela um papel com dizeres datilografados. Ele salta. O terno estava impecável. "... assim posso dizer que te amei como homem e como pai". O amor move o mundo. O baque na calçada foi surdo e a reação das pessoas mudas. Logo uma equipe de investigação estaria ali. Uma chuva delicada começou a cair lavando com capricho o sangue na calçada. O bip dele toca. Vai ter de deixar a bebida e a pequena para mais tarde. A cidade vomitou mais uma indignação. O amor move o mundo, mas ninguém entende esse clichê.

sábado, 6 de outubro de 2007

Campeões da Arena - 8

# Ou... O dia que o impossível aconteceu e a Strix ganhou alguma coisa! :D

# Sério... O tema foi "Sexo na adolescência", dado pelo Apollo. E foi eleito o pior tema de AQ já dado, pela dificuldade da abordagem. Isso não impediu que textos de grande qualidade concorressem e, com uma margem apertada, subi ao pódio! \o/

# Agora, sério, corram ao RPG-X para ver os outros, não vão se decepcionar!

# Só pra constar, a atividade começou dia 05/06/2007 e terminou dia 20/06/2007. Tenho que manter a tradição. :D

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Prova de amor
800 palavras


_Por que estou aqui? Não é uma história de que me orgulho muito... Ligue o rádio, por favor.

Começou de súbito...

_Desligue! Odeio essa música! Ah, obrigado. Deixe-me começar.



Aos dezesseis anos, eu tinha tudo o que queria. Era bonito, fazia sucesso com as meninas, não perdia uma balada, dava pra passar de ano e até namorada eu tinha. Era uma daquelas meninas “patinho feio”, com aparelho e fundos de garrafa. Hollywood adora fazer essas meninas se tornarem lindas mulheres, mas eu não botava muita fé na Valéria... Mas fiel ela era. E inteligente, também. Ao contrário das outras, Valéria era pra casar.

Espere. Estou me adiantando. Como eu dizia, meu ideal de felicidade há vinte anos eram festas constantes e sexo com garotas bonitas. E nisso eu era bom. Valerinha não ficava sabendo, não saía de casa e não tinha amigos baladeiros que pudessem me denunciar.

Foi quando tive aquela idéia.

Eu já disse que era bom. Modéstia à parte, já tinha feito muitas garotas felizes. Do nada, porém, cansei-me dessas “experientes” e tive vontade de desvirginar uma garota. Nada de especial. Queria saber como era.

A princípio, tive dificuldades de encontrar uma garota virgem que quisesse... contribuir com minha meta. Ou melhor, até achei uma menina doida de vontade de me “conhecer melhor”. Só que ela tinha 12 anos. Podem me chamar de canalha, eu agüento calado e até faço charme. Mas pedófilo, isso nunca.

Só então percebi minha burrice. Para quê procurar? E a Valéria? Lembrava-me de ela ter dito que era virgem quando começamos a namorar. Metade do meu problema estava resolvida.
A outra metade era convencer Valerinha. Céus, que menina insegura! Bastava pronunciar a palavra “sexo” e ela se retraía toda. Tive que ir bem aos pouquinhos. Sabe como é, jogar baboseiras do tipo: “Vamos dar um passo à frente na nossa relação?” ou: “Estou tentando provar que te amo. E você, me ama?”.

Ela resistiu. Muito. Mais do que insegura, parecia positivamente com medo. Eu é que não estava nem aí, achava frescura. Com palavras doces e argumentos capciosos, eu iria até o fim para conseguir o que queria. Embora nem soubesse mais por que queria.

Prosseguimos nesse joguinho por alguns meses. Até o dia em que ela, muito séria, perguntou:

_Amor... Você me ama de verdade?

_Que pergunta! Claro que te amo!

Se tem uma coisa que aprendi cedo é que, se você quer alguma coisa de uma mulher, deve falar exaustivamente que a ama.

_Mas de verdade mesmo?

_De verdade mesmo.

_Você deve estar me achando uma boba... Mas eu preciso saber. Seja sincero. Você me ama muito mesmo, a ponto de querer estar comigo daqui a muitos anos? A ponto de aproveitarmos juntos as alegrias e apoiarmos um ao outro nas tristezas? Você me ama a ponto de ser capaz de me perdoar?

Fiquei sem jeito.

_Isso está parecendo um casamento, Valerinha _tentei brincar.

_Sim ou não? _ela perguntou, sem se deixar levar por meu bom humor.

Percebi que era a minha chance. Todo esse papo de amor era um sinal de que ela estava prestes a ceder. Olhei bem para o fundo dos olhos dela e disse um sim tão firme que eu quase acreditei nele.

Os olhos da Valéria marejaram e ela me abraçou. Não me enganei. Naquela mesma noite ela se entregaria a mim.

Acho que é melhor cobrir as horas seguintes com decente véu. Mesmo por que, não houve nada digno de nota. Não sei quem foi que disse que a primeira vez é a especial, mas essa pessoa devia ser virgem contra a vontade. A primeira vez é uma porcaria, a garota não sabe nada. A maior preocupação da Valéria, por exemplo, foi a camisinha. Quase desistiu por conta do meu esquecimento desse detalhe. Pra você ver como ela não entendia nada ainda...

Na manhã seguinte, acordei satisfeito comigo mesmo. Senti que alguém me observava e descobri a Valerinha olhando fixamente pra mim.

_O que foi, meu bem?

Foi a conta. Ela começou a chorar desesperadamente, tremendo toda.

_Valéria?! Pelo amor de Deus, o que foi?

Entre soluços e lágrimas, pude ouvir as palavras que saíam aos arrancos:

_Será... que você me perdoa?... Você disse... Disse que me ama, não é?... Se seu amor for verdadeiro... Ele vai te proteger, não vai...?

_Calma, amor! Do que você está falando? Me proteger do quê?

Levou muito tempo para ela se acalmar. Foi quando me disse, cobrindo o rosto com as mãos:

_É que... quando estava grávida... minha mãe... ela... me transmitiu AIDS. Mas uma vez só não vai fazer mal, vai? Será que você me ama o suficiente para me perdoar?



_Preciso dizer mais alguma coisa, enfermeira? Não faz mal que você saiba, essa tuberculose oportunista logo vai me matar. Ajeite meu travesseiro, sim? Obrigado.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Poesia


Olá,

Essa foi mais uma criação 'modificada'.



DESEJOS PERMANENTES


“Fito obcecada
A imagem em tua pele
Desesperadamente tatuada
E nessa palidez cutânea
Banhada em sangue e vinho tinto
Meus olhos mergulham deliberadamente
Nos detalhes da imagem.
Na tua pele há sensações
E muitas dimensões até o escuro
O lugar dos nossos segredos permanentes
O reino da dor temporária
Das cores e ondulações
Que me levam a seu profundo reino
E me elevam aos delírios coloridos.
E de sua pele dilacerada me alimento das sombras
E da imagem desesperadamente tatuada em sua pele."

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Mais um de Mecônio

Oi, gente


Trago mais uma pérola do personagem mais famoso do Giorgio Boy: Mecônio!

Boa leitura a todos!


MECÔNIO, O INDULGENTE


Participação especial: Dr. Sigmund Freud


Fazia calor naquele verão de 1909. O jovem estudante Mecônio Barros tinha chegado à Escola de Medicina da Universidade de Viena para conhecer um neurologista de quem muito se falava: Doutor Sigmund Freud.

A descrição do tal homem chegara-lhe soterrada em elogios: simpático, atencioso, educado, cordial, gentil, um cavalheiro. Mecônio queria aprender a disciplina desenvolvida por Freud, uma novidade que mesclava interpretações de sonhos, hipnose e estudos sobre a histeria, uma tal “psico-análise”.

Dos últimos degraus de uma longa escada, ele avistou o doutor, no topo da mesma. Isso provocou no rapaz um meio sorriso. Para quem não o conhece, trata-se de uma demonstração de extrema alegria. Logo a seguir, o rapaz disparou a correr na direção do doutor.

Ainda no alto da escada, Freud batia as mãos em todos os bolsos de sua vestimenta, a procurar por algo. Ao ver aquele jovem alto, magro, com um topete de cabelos escuros repartido no meio e expressão de quem ia espirrar, o neurologista franziu a testa.

– Como vai, Doc? – perguntou Mecônio, estendendo a mão com toda a simpatia.

Em resposta, foi medido de alto a baixo.

– Odeio que me chamem de “Doc”. – rosnou o médico.

E principiou a descer os degraus num mau-humor sinistro.

– Desculpe, Doutor Freud. Meu nome é Mecônio e eu...
– Não quero comprar nada. – tesourou Freud, agora vasculhando as entranhas do paletó.
– Eu não estou vendendo nada, só quero...
– Também não dou autógrafos! Não acredito em autógrafos! Isso é fetiche, sabia?
– Doutor Freud, eu...
– Ah! Achei meu charuto! Tem fogo?

Era a vez de Mecônio procurar algo nos bolsos da roupa. O impaciente austríaco descia os degraus, deixando para trás o jovem estudante. Este, tão logo encontrou uma caixa de fósforos, arregalou os olhos de emoção e saiu em perseguição do conhecido neurologista.

– Onde ele se enfiou?

Achou-o no ponto de bonde e correu até ele.

– Doutor...!
– Meu jovem, lamento informar que não atendo sem consulta marcada. Não insista!
– Mas eu...
– Chegou meu bonde!

Freud olhou pela última vez para Mecônio e, sem nem proferir um som, arrancou-lhe das mãos a caixa de fósforos e adentrou o veículo. O rapaz emitiu ainda menos sons, encarando o bonde que se distanciava levando o cordial Sigmund Freud sabe-se lá aonde.

Todos os músculos do rosto do estudante achavam-se retesados para baixo. Em linguagem Mecônica, aquilo significava um estado de fúria assassina. Coisa de rasgar a dentadas a garganta do primeiro que lhe desse boa tarde.

Então aquele era o doutor “simpático, atencioso, um cavalheiro”? Tinha viajado horas e horas lá do Brasil, em lombo de jegue, porque era mais barato que pau-de-arara, feito um ano de curso intensivo de alemão... só para ser esnobado por um velho arrogante?

Ah, não.

***


Nos meses que se seguiram Mecônio dedicou-se a duas coisas: trabalhar para pagar suas despesas na faculdade e fazer pesquisas sobre Sigmund Freud. Uma compilação assaz peculiar de tudo o que o homem detestava, anotada em um caderninho.

Naquele mesmo ano de 1909, Sigmund Freud partiu para sua primeira viagem aos Estados Unidos, juntamente com seus amiguinhos Carl Jung e Sandor Ferenczi*, no navio George Washington. Mecônio arranjou uma colocação temporária como camareiro nessa mesma embarcação. Na véspera da partida, esperou todos dormirem, foi até o livro de bordo, procurou por Sigmund Freud na lista de passageiros e, com uma caneta, deu um jeitinho para alterar levemente o sobrenome do médico.

Pela manhã, o oficial de registro barrou-lhe a entrada.

– O nome do senhor é Freud e não Freund. Logo, não é o senhor.
– Pare de frescura! Sou eu mesmo que vou embarcar!

Embora o substantivo Freund signifique “amigo”, o doutor não se mostrava nada amistoso.

– Alguém escreveu errado, seu imbecil! Quem mais poderia ser além de mim?
– O senhor por favor não me desacate, ou chamarei a segurança!
Atrás do médico, os passageiros acumulavam-se em número e irritação.
– Anda logo com essa fila aê!
– Expulsa esse encrenqueiro!
– Volta pro museu, velho chato!

Essa dor de cabeça durou quase quarenta minutos. Jung e Ferenczi, que tinham conseguido entrar, chamaram o capitão e assim pôde-se dar o embarque de Freud.

– Onde é nossa cabine? – bradava – Fiquei nervoso! Fiquei nervoso! Quero água!

Rapidamente Mecônio surgiu disfarçado, chapéu na cabeça e um bigode falso, trazendo uma jarra de água e copos para os doutores.

– Aqui, Doutor Freund. – cumprimentou.
– É FREUD, §†ђ%#¶*@$!

Claro que Mecônio havia pronunciado o nome errado de propósito para deixar o desafeto ainda mais irritado. Íntimo de medicamentos, o rapaz colocara no copo de Sigmund um poderoso laxante. Antes do meio-dia o neurologista já estava eliminando o que queria e o que não queria, conquistando a imensa antipatia dos demais passageiros e tripulantes, em virtude dos odores semi-letais que esparzia.

***


Um dos motivos pelos quais Mecônio optara por um laxante foi seu conhecimento acerca de uma curiosa diferença entre os Estados Unidos e a Europa de 1909. Enquanto que no Velho Continente sobravam sanitários públicos, o mesmo não acontecia na América.

Mal desembarcado em solo estadunidense, a diarréia do famoso austríaco não havia passado e seu desespero crescia sempre que lhe sobrevinha aquela vontade de fazer “o número dois” no meio da rua. Saindo de trás da moita de um parque enxugando o suor da testa, o neurologista reclamava com os amigos:

– Maldito país!
– Que culpa o país tem se você está passando por uma regressão da fase anal, Sig?
– Fase anal o teu rabo, Jung!
– Com o que você tem sonhado ultimamente, Sig?
– Você também, Ferenczi? Parem de ficar me analisando!

Retornavam à charrete que os levaria a seu destino sem perceber que o condutor era ninguém senão Mecônio, de cartola, óculos e barba branca, segurando o riso. Os tontos nem tinham reparado que ele aproveitara a hora do almoço para mandar vários telegramas avisando da chegada de Freud, com instruções sobre como o doutor gostava de ser tratado. Por isso, em todo o lugar era a mesma coisa:

– Olá, Doc!
– Oi, Doc!
– Tudo bem, Doc?
– Como vai, Doc?
– Fez boa viagem, Doc?
– Ô povo chato! – resmungava Freud.
– Ora, eles estão sendo simpáticos! – defendia Jung – Você que está muito rabugento por causa dessa diarréia.

Ainda disfarçado de condutor, Mecônio vinha com uma pílula e um copo de água:

– O seu remédio, Doutor Freud. É para beber com água.
– Me dá aqui! Me dá aqui!

Não preciso dizer que o líquido trazido já vinha adulterado, preciso?

E dá-lhe Freud parando a cada moita que encontrava...

– Anda logo, Sigmund, senão a gente vai se atrasar para o almoço.

Mecônio teve o cuidado de reservar uma mesa em uma área especial, pois conhecia o prazer que um charuto após as refeições causava a Freud.

– Olha, meu senhor, num pode fumar aqui! – pediu um cavalheiro, com educação.
– Eu fumo onde eu quiser! – retrucou o velho médico.
– De jeito nenhum! Olha aquela placa ali! Esta área é a de não-fumantes!
– Não me interessa! Vocês não vivem dizendo que este é um país livre?
– Que cara mal-educado! Tinha de ser alemão!
– Eu não sou alemão! Sou austríaco!
– Se o senhor não parar de fumar eu vou chamar a polícia!

Jung tentava apaziguar os ânimos:

– Sigmund, apaga isso aí antes que a gente seja preso!
– Nunca! Os incomodados que se mudem.

Os incomodados chamaram a polícia e Freud passou uma noite no xadrez.

Você talvez imagine que o jovem estudante de medicina já podia dar-se por satisfeito depois de tanto sofrimento imposto ao desafeto. Que nada! A viagem de Freud previa uma parada em Massachusetts para uma palestra. Os neurologistas viram-se diante de um bela recepção: crianças agitando bandeiras coloridas, banda tocando música. Tudo muito lindo e impecável. Só que ali, mais uma vez, havia o dedo de Mecônio. A banda tocava o hino da Alemanha e a criançada tinha em mãos bandeiras do império alemão. Freud e Jung, no entanto, eram austríacos, como já se disse anteriormente, e Ferenczi, húngaro.

Freud não armou um escândalo ali mesmo por pouco; seu nervosismo imprimiu um desconforto ventral que o obrigou a sair correndo até a moita mais próxima.

– Ele... ele se emocionou... – justificou o constrangido Jung.

***


Os eventos acerca da viagem do Dr. Freud aos Estados Unidos são verdadeiros e constam em biografias mais detalhadas do neurologista. O mesmo não se pode dizer de Mecônio: seu empenho em prejudicar o desafeto e manter-se oculto gerou resultados líquidos e certos, e não estou falando dos desarranjos do pai da psicanálise. Nunca houve nenhuma prova que ligasse os atos de vingança do rapaz ao sofrimento experimentado pelo velho “Doc” Sigmund. Dizem até que Mecônio teria inventado fofocas para Jung sobre Freud, que culminariam no final da amizade entre ambos. Aí eu já acho um tanto forçado.

(*)Apesar do nome bizarro, este renomado médico não era alienígena de Jornada nas Estrelas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Campeões da Arena - 7

# Oi, oi, oi! ^^ Eu não me canso, né? Escrever, seja em blogs, seja artisiticamente falando, é uma terapia, a gente faz mesmoq ue ninguém esteja lendo. E, como sou de Barbacena, não ligo de falar sozinha. xD
# Pois é. A Atividade Quinzenal 007 não teve como tema espionagem, mas Infidelidade. Quem sugeriu foi o Fillipe, que foi o vencedor, por sinal. ^^ Ela durou de 05/05/2007 a 28/05/2007.
# Dessa vez, competiram apenas cinco pessoas, mas foi o suficiente para que houvessem nada menos que cinco abordagens bem diferentes do tema. Não pudemos reclamar de falta de variedade. ^^ Vejamos, foram: uma história com carga dramática, uma falsa (?) traição, um homem cínico, uma mulher cínica e um triângulo amoroso que quase degenera numa suruba. o__o
# Claro que não vou falar quem escreveu o quê. Ficou curioso? Bora pro RPG-X pra ler! ^^
# Fiquem com o (sumido) Fillipe. \o/



SACANAGENS DA VIDA
n° de palavras: 1262


# Eu finalmente havia descoberto que não podia viver sem sexo de qualidade. Percebi isso ao conversar com Beti. Beti era uma secretária de um consultório odontológico (meia boca se me permitem o trocadilho infame) onde eu levava minha esposa toda 1° segunda feira do mês.
#
# Eu dizia a ela que tinha de levá-la ao dentista (um senhor careca e de dentes amarelados) pessoalmente para que ele não tentasse dar uma de engraçadinho pra cima da esposa dos outros. Ela ria se enchendo toda com minha falsa preocupação, não conseguindo deixar de transparecer uma falsa modéstia.
#
# O casamento havia estrangulado lentamente minha vida sexual, não que eu não tivesse minha parcela de culpa nisso, mas o fato é que isso é um fato! As noites de amor com minha esposa não passavam de uma mera obrigação semanal para esconder o que ambos consentíamos em segredo. Não havia mais desejo, paixão ou qualquer sacanagem que fizesse o sexo realmente valer a pena.
#
# Vamos voltar para Beti. Beti era uma mulher de 28 anos, separada e não tinha concluído o ensino médio, conformada com seu salário mínimo e sua pensão (mais um salário mínimo) no fim do mês, passava seu dia navegando em sites de contos eróticos e tentando adivinhar como os pacientes do Dr. Omérico (o careca dos dentes amarelados) se comportavam na cama. Essa segunda observação fazia com que Beti tivesse um comportamento taxado pelas mulheres casadas como “vadia no cio”, ou no dicionário masculino (solteiros e casados) como uma “transa fácil”.
#
# Não me lembro bem se foi o batom exagerado ou o jeito como ela segurava a caneta bic de tampa vermelha que me fez catalogá-la imediatamente como uma possível “transa escape”. Transa-escape (TE) é uma invenção tão antiga quanto o próprio casamento, ela, como o próprio nome diz, é uma válvula de escape do casamento, quando muitas transas com a mesma pessoa ou muito tempo transando apenas com uma pessoa chega num limite máximo, o homem então precisa procurar outra mulher para transar e desafogar sua glândula escape que deve ficar em algum lugar do cérebro masculino.
#
# Percebam que não estipulo números exatos sobre quanto tempo e quantas vezes o homem precisa permanecer com a mesma mulher para atingir um nível alarmante para a sua TE, essa situação varia de homem para homem.
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# O meu nível já estava crítico. Não digo que nunca havia traído, mas eu não era do tipo que procurava mulheres fora do casamento, mas Beti sabia no meu jeito de olhá-la que eu precisava de uma transa escape. Ela havia estudado profundamente os homens naquela pequena sala encarpetada de consultório odontológico, ela podia farejar um homem necessitado a um quarteirão de distância em dias com bom vento.
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# Beti era uma expert em linguagem não-verbal, o jeito como ela se encurvava sobre a cadeira de estofado azul para se espreguiçar, como mascava seu chiclete de tuti-fruti, ou como usava sua voz de modo levemente mais agudo e infantil eram sinais preciosos para mim e para outros afortunados que freqüentavam o consultório do Dr. Omérico.
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# A aproximação foi rápida, logo na primeira vez que fui buscar Silvia no consultório já pude notar uma provável TE na secretária, no segundo encontro já sentei na cadeira próxima a mesa e conversei com ela durante toda a consulta de Silvia. Era fácil fazer Beti rir, e logo a conversa descambou para algo mais atrevido, quando notamos que Silvia iria sair, rapidamente anotei meu telefone num papel que estava sobre a mesa e a entreguei com um piscar do olho direito. Ela fez charme com uma carinha do tipo “não acredito que você ta fazendo isso, não sou desse tipo de garota” e apanhou rapidamente o papel.
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# Na terça ela me ligou para sairmos. Fomos direto para o motel e transamos, transamos como eu gostaria de transar a anos e não podia, sem apagar a luz, sem cerimônias, sem vergonha. Toda a putaria que eu queria extravasar eu extravasava ali naquele quarto barato de motel. Com a televisão ligada no canal pornô com o som bem alto eu enrabava Beti em todas as posições que quisesse, e falava tanta sacanagem no pé do ouvido dela que eu tinha que escovar os dentes duas vezes quando eu chegava em casa.
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# Ela não era bonita, mas tinha seios fartos e uma técnica de depilação que faziam o diferencial. Eu comia ela em todo lugar, uma vez eu ela tiramos uma rapidinha na sala de espera do consultório enquanto Silvia fazia seu tratamento, a situação de perigo fazia meu coração ribombar e minhas mãos gelavam, mas a excitação era incrível.
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# O problema das TE é a culpa que elas provocam, alguns homens tem o privilégio de nascer sem qualquer capacidade de sentir remorso, compaixão ou pena, infelizmente eu não era um desses homens e me cortava o coração toda vez que ia dormir e sentia o corpo de Silvia se roçando no meu para abraçá-la de noite.
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# Silvia era uma mulher inteligente, bem educada e excelente mãe, porém na cama ela deixava muito a desejar, culpa de sua educação tradicionalista acredito eu. Apesar de todo o mal-estar, eu continuei a me encontrar com Beti, mas quanto mais eu transava com ela, mais eu percebia como minha mulher era especial, em como eu tinha sorte de não ter me casado com uma “Beti” da vida, e chegava a ter pensamentos do tipo “ porque eu estou fazendo isso?”. Típicos sinais de que a TE havia completado com êxito sua missão.
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# Pois bem, estava decidido, eu iria aproveitar que aquele mês Silvia iria se tratar pela última vez e aproveitaria para por um fim nesse caso. Naquela segunda então, entrei sério na sala e não cedi diante do sorriso malicioso de Beti, apenas disse que queria me encontrar com ela na tarde do dia seguinte durante o seu horário de almoço e desci para o meu carro e esperei por Silvia lá mesmo.
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# No dia seguinte me encontrei com Beti num restaurante próximo ao consultório onde ela almoçava todos os dias e expliquei que meu casamento era mais importante e que não podia mais fazer isso com minha esposa, que não era o certo e que não poderíamos mais nos encontrar. Ela chorou, tentou me fazer mudar de idéia, mas por fim acatou minha decisão.
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# Saí daquele restaurante aliviado, culpado por ter feito o que fiz, mas orgulhoso por ter tido a coragem de abrir mão de algo tão prazeroso por uma pessoa que significava algo mais pra mim.
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# Naquela semana toda eu percebi que Silvia estava mais triste, chorosa, mas os dias foram se passando e dentro de um mês tudo voltou ao normal. Até que um dia eu precisei do carro de Silvia emprestado par ir ao trabalho. Chegando ao pedágio, peguei a carteira dela que estava no painel e procurei por moedas, foi então que senti com a ponta dos dedos um papel, o retirei da carteira e vi que era um recado.
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# “Silvia, apesar de tudo que vivemos nesses últimos meses, não posso deixar de pensar na minha esposa, ela significa muito pra mim, e não posso abrir mão da minha família. Eu sei que o que aconteceu entre nós foi especial, mas não posso mais continuar a viver assim, mesmo sabendo que nunca esquecerei o que rolou entre nós. Omérico”
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# O que veio a seguir foi uma explosão de riso e choro, imerso em uma raiva gritante salpicada de humor irônico e uma enorme dor de corno em meio ao som das buzinas dos carros que formavam fila atrás de mim no pedágio.