quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Conto

Olá,

Esse foi meu texto para à Atividade Quinzenal 14, onde o tema foi: Futuro. O gênero foi livre, sem limite de palavras. Como sempre foi super gostoso escrever!Essa edição da atividade reuniu (como sempre) ótimos contos!

Boa leitura a Todos!


EXPECTATIVAS


_ O que você espera do futuro?

_ “A insanidade estampada em todos os olhares
O céu exibindo cores sempre indefinidas
O amor transformado em lenda
Cegonhas mecânicas trazendo os bebês
Os sentimentos dosados por conta-gotas
Cópias de humanos andando pelas ruas
Os alimentos em cápsulas...”


_ Chega, chega!

_O que foi? Isso te choca tanto assim?

_ O que me choca é essa sua mania de transformar tudo em poema! Isso irrita, sabia? Que saco!

_ Que saco você ! Como pode ser tão alienada? Do jeito que as coisas estão acontecendo, o que poderemos esperar?

_ Não perguntei sobre esse 'futuro' aí... Perguntei sobre NOSSO FUTURO, nosso relacionamento. Entendeu?

_Ah, ta... E você com essa mania de discutir a relação...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Campeões da Arena - 13

# Quase lá, quase lá! =3

# A AQ013 teve um tema à altura: suicídio. Paradoxalmente, o conto que ganhou foi o único que... Ah, não vou cometer spoliers, leiam e verão. :D

# A atividade começou dia e terminou dia 29/10. Competiram 8 contos, o mesmo tanto da AQ006, a mais movimentada até aqui. A vencedora foi uma tal de Strix, vocês não devem conhecer. xD O importante é... entrem lá no RPG-X e, pelo amor de Deus, vejam os outros contos. Um mais legal que o outro. \o/

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Os arquivos do Dr. Oswaldo
Arquivo 005 - Passos à meia-noite
2800 palavras


Ficar na casa de meus pais era bom. Eu podia pôr uma roupa bem folgada, me sentar na cadeira de balanço e ler todos aqueles periódicos médicos que não tenho tempo de ler quando trabalho. Dava para me sentir como na época em que era um adolescente grisalho e bonachão, estudando igual a um louco (hum... comparação ruim para um psiquiatra...) para o vestibular.

Era o que estava fazendo quando meu pai saiu discretamente de casa e veio me procurar, na varanda. Isso era um evento espantosamente raro: posso ser o filho “CDF que passou na Medicina de primeira”, mas definitivamente não sou seu favorito. Esse é o cargo do Rogério. O pai jamais perdoou esse humilde primogênito por ter se especializado em psiquiatria e não em geriatria ou algo assim mais útil. Muito menos por eu andar sempre com um pincenê do meu avô, cultivar suíças e usar chapéu. Tenho que admitir que sou um pouco teatral, um pouco mais do que um homem idoso do interior de Minas poderia perdoar.

Ninguém consegue imaginar, então, minha surpresa quando o “velho” se aproximou de mim e me convidou para ir com ele ao barzinho. Sou abstêmio, não gosto de futebol e não tenho ânimo para ficar falando mal do Governo até quando este acerta em alguma coisa. Portanto, sou uma vergonha para ele em termos de masculinidade. Se o pai estava me chamando para ir ao bar, algo de extraordinário devia estar acontecendo.

Sim... Sou abominavelmente curioso. Logo estava pronto. Realmente, o acontecimento devia ser da máxima gravidade, já que o homem nem sequer comentou nada sobre o pincenê. A curiosidade atingia níveis cada vez mais insuportáveis.



Ficamos no bar por vários minutos, mas meu pai resumiu-se a pedir uma cervejinha e a batucar impacientemente no balcão. Como o conheço bem, não foi difícil deduzir o que ele queria: estava ansioso para me apresentar um cliente. E, para que isso acontecesse, devia ser alguém SUMAMENTE importante.

Minhas suspeitas logo foram confirmadas. Um construtor aqui da cidade entrou e se sentou ao nosso lado. Ele e o pai foram amigos do peito antes que o homem enriquecesse muito e passasse a conviver em uma esfera social diferente.

Começaram falando dos velhos tempos. Parecia óbvio que o homem estava explodindo de ansiedade, mas não queria falar com o garçom espreitando. Fez o supremo esforço de pedir uma cervejinha só para disfarçar e, mal o garçom se retirou para atender, comentou:

_Ozzy, meu filho, a última vez que o vi você era desse tamanhozinho _indicou um tamanho impossível para um bebê. _Agora, já está aí formado, doutorado feito, famoso...

Fiz um gesto neutro que podia passar por modéstia, mas era apenas meu desagrado por encararem esses fatores como indicativos de sucesso.

_... Será que não poderia passar lá em casa um pouco? A Kátia também deve estar querendo ver como você está. E se você puder passar os olhos na Camila...

Logo vi. Ricos tendem a ser sovinas, principalmente quando já foram pobres. Camila... Evocava-me boas lembranças. Beberam as cervejas em tempo recorde e fomos caminhando para a casa dele.



Era uma bela casa, fortemente murada. Ficava em uma esquina. À frente, tinha uma rua moderadamente movimentada. Em um dos lados, uma ruazinha sem saída que só comportava os fundos de outras casas. Do outro, uma casa mais modesta e, aos fundos, um barranco. Singularmente isolada, eu diria.

Por dentro, era bonita, pelo menos para mim, que não sou arquiteto. Tinha dois andares. Do lado que dava para a ruela, todas as janelas eram iguais, exceto uma, do segundo andar, que era a porta de uma sacada. Pelas cortinas rosa, deduzi ser o quarto de Camila.

D. Kátia veio lá de dentro e nos cumprimentou espalhafatosamente, talvez porque havia gente olhando, da rua. Bastou que entrássemos, entretanto, para aquela aura de jovialidade se desfazer completamente.

_Ah, doutor... Não sei o que fazer... Não sei em que pensar... A Camila, nossa filha, é uma pessoa sempre tão feliz, tão satisfeita... Está sempre muito bonita, de namorado novo... O antigo dela morreu, um rapaz muito bom... Talvez seja por isso que tudo começou, embora ela não pareça ter sofrido na época...

_Calma, minha senhora _segurei suas mãos de maneira compreensiva. Pareceu-me que não extrairia nada de concreto dela enquanto estivesse naquele estado de nervos. _Calma. O que aconteceu com sua filha?

_Ela tentou se matar! _alteou ligeiramente a voz. _Duas vezes! Só que foi enquanto estava dormindo, o senhor entende? Quando está acordada, ela é a pessoa mais normal do mundo, como sempre! Mas, quando dorme... Não é todo dia... Começou semana passada, quando ouvi alguém batendo na porta do quarto. Quando atendi, não tinha ninguém. Pensei que fosse coisa da Camilinha, mas, quando entrei no quarto dela, lá estava a garota no beiral da sacada! Ela ia pular! Gritei e ela me olhou muito assustada. Depois, confessou que não sabia como tinha parado ali. A mesmíssima coisa aconteceu ontem. Só que, quando entrei no quarto e a tirei do beiral, ela se soltou de mim, pegou uma pistola e tentou atirar na própria cabeça.

Interrompeu-se e me olhou, com um olhar implorante.

_Acho que entendi muito bem, obrigado. O que acha, Sr. Afonso?

_O que acho? _o homem ficou cor de cerâmica. _Eu só tenho medo que seja... Bem, não sei... Você sabe, né, que nessa idade, os jovens adoram experimentar... Coisas diferentes...

_Drogas? _perguntei e ele recaiu na defensiva. _Isso é fácil verificar. Basta um exame rápido. Em tempo, onde ela pode ter conseguido o revólver?

_É do Afonso _D. Kátia disse, lançando a ele um olhar de reprovação.

O homem corou ainda mais. Peguei a arma e fiz um exame rápido. Totalmente carregada.

_Onde sua filha está? _perguntei. _Lá em cima... _ela mordeu os lábios e estremeceu. _Dormindo... _a voz quase sumiu.

Subi com ela. Quando abrimos a porta, uma cena perturbadora estava nos esperando. Uma bela adolescente estava sentada na cama, com um olhar parado, e tentava acertar a própria boca com um copo, sem sucesso. A mãe gritou e a menina afastou o copo por um instante. A distância era segura e o instante foi o suficiente.

BANG!

O copo se espatifou na mão da garota. Ela soltou um grito estranho, largou o que restou do objeto e foi em direção à sacada, sem tirar os olhos parados de nós. Apontei o revólver para ela.

_Volte para cá e sente-se _disse-lhe, brandamente. _Ninguém aqui quer seu mal, mas você tem que parar com esse negócio de se matar.

Ela fez menção de subir no peitoril. Engatilhei a arma. Ela desmaiou.

O pai dela e eu a colocamos na cama. Todos me olhavam horrorizados. Era tão evidente o pensamento deles, que não me fiz de rogado. Peguei um frasco na cabeceira de Camila.

_Diazepam. Está quase vazio. Presumi que fosse o que está turvando a água do copo. Se ela bebesse, dificilmente a salvaríamos. Um raspão de bala me pareceu muito menos prejudicial. De qualquer forma, faço parte de um clube de tiro. Tenho boa pontaria e, se repararem, ela apenas se cortou um pouco por causa do vidro.

Ainda estavam com um ar escandalizado e pude ver, nos olhos do casal, que não estavam certos se me chamar tinha sido uma boa idéia.

_Quando ela acordar _expliquei _quero falar com ela a sós. É provável que ela não se lembre do que estava fazendo. Mas preciso sondá-la, se é que me entendem. Tirem daqui esse revólver e esse copo quebrado, e rápido. Esse tipo de desmaio costuma ser breve.

Fiz tudo aquilo que achei conveniente para reanimá-la. Os outros deixaram o quarto, levando, na medida do possível, os resquícios do pequeno drama. Fui até a sacada e respirei fundo. Tinha uma bela visão: abaixo, um pequeno caminho e uma faixa de terra cheia de flores, no canto do muro, além de uma magnífica árvore que crescia na rua e estendia seus galhos até bem perto da sacada, sombreando tudo por baixo. Claro que esses galhos não eram suficientemente fortes para que alguém entrasse na casa escalando-os, e uma cerca elétrica dificultava enormemente as coisas. Seria uma pena se cenário tão pitoresco se tornasse cenário de uma tragédia.

Por outro lado, considerei, a altura não era tão grande. A menos que ela caísse de cabeça e fraturasse o pescoço, o máximo que aconteceria seria fraturar os braços, as pernas e algumas costelas. Não que fosse de todo mau. Ela ficaria imobilizada por uns tempos.

Sacudi a cabeça. Vez por outra me acudiam esses pensamentos sádicos. “Pensamentos vampirescos”, me diria uma amiga. Jamais entendi completamente o significado do adjetivo. É verdade que há uma boa dose de sadismo no culto que fazem aos vampiros, mas essa não é uma característica inequivocamente atribuída a eles.

Ora, esse não é um ensaio sobre a adequação ou não de adjetivos, é um relato de meus casos passados. Vampirescos ou não, é melhor deixar meus pensamentos de lado e voltar ao métier da coisa.

Camila moveu-se ligeiramente em sua cama e sentei-me na beirada, esperando que abrisse os olhos. Isso aconteceu logo. Ela mostrou-se surpresa com minha presença e balbuciou um “quem é você?”.

_Sou seu médico, querida. Você teve um pequeno desmaio e estou cuidando de você. Meu nome é Oswaldo. Como está se sentindo?



Não creio que será útil descrever minha conversa com a moça. Conversamos trivialidades, perguntei muito sobre a escola, os amigos, o namorado, os pais... Ela levava uma vida muito normal, como a de centenas de outras moças. Isto é, esforçava-se para tirar boas notas, mas não gostava muito de estudar, saía muito para as “baladas”, gostava do namorado, achava que os pais eram uns chatos... Falou com ternura no namorado morto, mas disse que já tinha dado a volta por cima, não valia a pena ficar remoendo o passado.

Perguntei sobre seu sono, se estava bem. Ela contou sobre pesadelos que tinha ao dormir. Sonhava que mãos a agarravam ou a obrigavam a beber alguma coisa ou outra coisa desagradável qualquer. Pelo que falou, não tinha a menor consciência das crises.

Examinei os olhos dela, tomei seu pulso e espiei furtivamente a parte interna de seus braços. Fiquei satisfeito.



_Ela não usa drogas, isso posso lhes assegurar _disse eu, ao Sr. Afonso e à D. Kátia. _E não me parece mentalmente perturbada. Naturalmente, terei que manter conversas mais longas com ela para fazer uma sondagem mais completa. Por ora, vou receitar um sonífero fraco para que ela tome antes de dormir, talvez assim, mais relaxada, ela não tenha novas crises. Escreverei a receita lá em casa e mandarei por um motoboy para vocês.

“Virei daqui a um ou dois dias. Estejam atentos: se acontecer novamente uma crise, chamem-me não importa qual seja a hora. Hora do almoço, de madrugada, qualquer hora.”

Apesar de alguma desconfiança a respeito de mim e de meus métodos ainda ser visível, reparei que estavam mais aliviados. Uma pena que, provavelmente, não gostariam do desfecho do caso. Comecei a repassar mentalmente o nome de alguns bons terapeutas familiares.



_Alô? Doutor? Uma nova crise, rápido!

Meus tímpanos quase estouraram. O celular poderia estar na esquina que eu ouviria perfeitamente. Resignado, esperei o momento propício e me encaminhei para a casa. Torci para que minha voz nada sonolenta e a pequena discrepância de tempo em minha chegada à casa passassem despercebidas. Felizmente, o estado do casal era tão lastimável que não prestaram atenção a nada.

A menina estava na cama, aparentemente desmaiada. Dessa vez, estava com minha maleta e pude lançar mãos de meios mais efetivos de acordá-la. Peguei o frasco do sonífero que receitei, à cabeceira e abri. Como suspeitei. Olhei severamente para a moça.

_Não era para ter essa quantidade de comprimidos aqui depois de uma semana, mocinha. Você andou se esquecendo de tomar.

Ela admitiu, muito envergonhada. Soltei uma série de muxoxos e retirei um novo frasco da maleta.

_Esse aqui é mais forte, por isso, deve ser tomado em duas doses. Vou entregar para a sua mãe, para ela garantir que você tome. É muito importante para você que nenhuma dose seja esquecida, ouviu?

Estudei bem o olhar dela e a contrariedade que aquela idéia causava. Sorri. Aqueles comprimidos seriam meu trunfo.



Antes de sair, D. Kátia me relatou mais calmamente a situação. O fato de eu ter lhe dado o controle da medicação da filha fez com que ela deixasse de ter qualquer prevenção comigo.

Parece que ouvira novamente aqueles passos e batidas em sua porta e, como sempre, ao entrar no quarto de Camila ela estava na sacada, quase se jogando.

_Só uma coisa, minha senhora. Peço que seja bem precisa. Você se levantou assim que ouviu as batidas?

_Na mesma hora! Elas são como um anúncio de desgraça, doutor! Mal ouvi a segunda batida, já estava de pé.

_Ouviu os passos se afastando?

Ela pensou bem e balançou a cabeça.

_Nenhunzinho.

_Nem um ruído de porta se fechando?

_Nenhum barulho. Mas, sabe, eu não estava preocupada com isso, só com a Camilinha.

_Claro, claro. E ela estava na beirada da sacada, mesmo? Não se encaminhando para lá, talvez?

_Não. Estava em pezinha no beiral.

Torci o nariz. Malditos passos! Ainda teria uma chance de esclarecê-los e apenas uma. Tudo dependia de meus comprimidos, e de minha jovem paciente.



Uma semana. Sorri. O celular tocava, e eu sabia que D. Kátia anunciaria para todos num raio de 1 km dele que a filha tivera uma crise. Dessa vez, pensei, era melhor exercitar meu lado cirurgião e realizar uma intervenção rápida, eliminando o mal pela raiz.

_Escute aqui, minha prezada senhora _disse eu, com o máximo de autoridade que pude colocar na voz _temos algo grave a conversar. Deixe seu marido cuidando de sua filha e certifique-se que ela não deixe o leito sob nenhuma circunstância. Estou à porta de sua casa. Pode vir abrir.

Receio que a tenha assustado muito naquela ocasião, mas era o jeito. Quando a porta foi aberta, tomei as mãos dela nas minhas e a fiz sentar. Quanto antes terminasse aquilo, melhor.

_Dona Kátia _eu disse, sério. _A senhora precisa ser forte.

_Ai, minha Nossa Senhora! O que foi, doutor?

_A polícia está ali fora. Prenderam o namorado da sua filha. _A senhora empalideceu. Preparei a rajada final, sem tréguas ou piedade: _Ele estava agarrado à árvore, atirando pacotes de cocaína para a Camila vender na escola.


***


Não sei se resta muito a explicar. Não é de hoje que garotas fingem que irão se suicidar para conseguir a atenção dos pais, e foi o que achei que estava acontecendo, desde que soube das tais batidas à porta do casal. Para testar a teoria, afastei qualquer dúvida sobre a sanidade mental de Camila e passei o calmante. Com meu binóculo de visão noturna (presente de um antigo paciente, se vocês se lembram), vigiei o quarto dela todas as noites. Eu sabia que a garota não tomaria o calmante e arquitetaria novas crises, para chamar mais a atenção.

Pelo menos, foi o que pensei até flagrar o momento em que o rapaz subia na árvore e atirava pacotinhos brancos para Camila. O lugar era perfeito: pouco movimentado, nenhuma frente de casa... Tão logo a menina escondeu a droga, as luzes do quarto se acenderam e ela representou sua comédia.

E eu representei a minha, é claro. Esperei um pouco para que não desconfiassem que eu andava por perto, fingi que acreditava na inconsciência da garota e entreguei para a mãe dela comprimidos de farinha. Eu precisava fingir que estava fazendo alguma coisa e precisava deixar a garota livre para pegar o namorado em flagrante.

Uma conversa com meu amigo do Departamento de Narcóticos resolveu o que faltava.

Minha única insatisfação com o caso, até hoje, é que jamais pude explicar os passos e batidas à porta de D. Kátia. Camila as negou até o fim. Talvez fosse aquela maravilhosa intuição das mães assumindo formas desconhecidas. Talvez fosse a alma do namorado morto. Talvez fosse algo completamente diferente. Creio que não virei a saber.

Clarice está sobre meu ombro e comenta que não revelei o principal, isto é, o que me fez desconfiar que a garota não tinha nenhum problema de saúde.

É difícil dizer. Levei mais de dez anos desenvolvendo meu “olho clínico”, uma capacidade de observação que me permite classificar as pessoas entre sãs e doentes, mentalmente falando, com boa faixa de acerto. As atitudes de Camila, os desmaios evidentemente falsos, o sonambulismo descaradamente fingido... Dava para desconfiar!

Mas, se isso não convencer os mais rigorosos, bem... A garota se dizia suicida, mas não saltou da sacada quando a ameacei com o revólver. As pessoas cometem esse tipo de erro quando têm um objeto que estava em suas mãos esmigalhado por uma bala.

Droga. Pensamentos vampirescos de novo.

Sumido? Imagina...

DESFILE COLEÇÃO PRIMAVERA/VERÃO 2008.

Bom eu não sei como postar vídeos aqui, mas ai está um dos porquês do meu sumiço, muito trabalho mas no final tudo vale a pena.

PS: Sim eu sou o gordinho dando a 1ª entrevista.

PS2: Nós já fizemos outro desfile depois desse.

PS3: Assim que tiver com o outro aqui posto no you tube e mando o link.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Campeões da Arena - 12

# Iarruuuuuuuu! Já estamos quase apanhando a AQ atual, a 014!
# A Atividade 012 marcou minha despedida da moderação interina da Arena (não era sem tempo xD). Foi a última que moderei e foi bastante interessante. Só decidi o que mandar dois dias antes. :D
# O tema foi: Irmãos - Pacto e Sangue. Com três irmãos mais novos, claro que eu tinha que participar. :D Começou dia 17/09 e terminou dia 08/10. A vencedora foi a estreante Kate Sales Riddle! \o/
Espero que essa douradinha logo de cara dê sorte a ela. ^^ Vejam com seus próprios olhos por que ela mereceu. ^___^

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Juramento
2702 palavras (será q é td isso mesmo? Bom, confio na palavra do Word)


- Espalhem-se, rápido! Queimem as tumbas, destruam os covis, não quero ver pedra sopbre pedra!

O sub-comandante olhou para a "general", que desembainhou a espada.

- E quanto a mim?

- Acompanhe-os, William. Vão precisar de você.

- Mas o mestre deles...

Os olhos claros dela faiscaram, determinados, firmes, decididos:

- Ele é meu. Empinou o cavalo e galopou na direção do castelo.

***

Aconteceu numa noite de inverno. As ovelhas e cabras se debatiam contra as tábuas do curral, berros e balidos agoniados se mesclavam aos relinchos desesperados na cocheira. A mãe e os irmãos saíram, deixando-os dentro do quarto, enlaçados num abraço trêmulo de medo, enrolados no cobertor. Repetiam um para o outro que tudo ficaria bem, que devia ser só um cachorro estranho que aparecera no curral, que ao ver os lampiões acesos o animal iria embora... repetiram essas palavras úmidas de lágrimas tantas vezes que elas tornaram-se como um mantra sussurrado e sem sentido que embalou os longos minutos de espera...

E os gritos começaram.

Xingamentos, preces, palavras desconexas. A voz da mãe foi a primeira a se calar, logo seguida das dos irmãos mais velhos. Ao mesmo tempo, os animais silenciaram. Os pequenos se abraçaram com mais força ao ouvir um estrondo na cozinha. Passos. A porta do quarto foi violentamente arrancada das dobradiças, e o monstro apareceu.

Sua forma lembrava um ser humano, mas a maldade demoníaca em seu rosto foi o suficiente para convencer as duas crianças de que aquilo podia ser qualquer coisa, menos um mortal como eles. Aparentava ser um homem, com em torno de quarenta anos, cabelos começando a grisalhar, barba rala, vestido com andrajos. Seu rosto e suas roupas esfarrapadas estavam cobertos de sangue fresco, e seus olhos eram brasas brilhantes e vermelhas na penumbra do quarto. Sua boca se abriu, revelando longos caninos de fera, anormalmente brancos e afiados. Os braços das crianças já estavam dormentes por causa do abraço apertado, mas a visão da criatura os fez enlaçarem-se mais forte.

O monstro fez menção de avançar sobre eles, mas não o fez. Em vez disso, seu esgar maligno desapareceu, o fogo infernal de seus olhos se apagou e ele cambaleou, com uma lança de madeira atravessada no peito, cravada por trás. Um golpe de espada, vindo da mesma direção, decepou sua cabeça, que foi ao chão ainda com as pálpebras tremendo.

E eles vieram como anjos, e os tiraram dali.

***

Ela entrou no palácio. Tinha sido ali mesmo que...

Sacudiu a cabeça. Péssima hora para recordações. Precisava se concentrar em matar o vampiro. E depois, quem sabe, sair de lá com vida...

Caminhou sem medo pelos corredores, até o salão de baile. Abriu as pesadas portas duplas com algum esforço, e entrou.

O salão era gigantesco. Devia ter quase um quilômetro quadrado, as cortinas de veludo que adornavam as janelas altas eram vermelhas, o piso era de mármore polido e estátuas de bronze enfeitavam o local. A caçadora estremeceu. Tinha sido ali, há tanto tempo...

- Ora, ora, ora... vejam só quem veio para a festa...

***

Os passos de Diogo ecoavam no piso de pedra da mansão que, nos últimos vinte anos, fora seu lar. Quem o visse não diria que era um soldado: vestia-se todo de negro, com uma cruz de prata refulgindo contra o tecido escuro de suas roupas, o rosto de traços finos ligeiramente queimado de Sol, emoldurado por cabelos de um tom tão sombrio quanto uma noite sem Lua, os olhos de mesma cor parecendo mirar mais suas próprias profundezas que o ambiente externo. Levava a espada camuflada sob a capa, assim como a fina porém letal estaca de madeira.

- Está na hora, Diogo - murmurou para si mesmo, ao pousar a mão na maçaneta. Falar consigo mesmo não era lá um hábito muito normal, mas que diminuía a solidão inspirada pelo ambiente lúgubre das florestas de Ardennes - é hora de dizer adeus.

- O que disse, irmãozinho?

Ele se assustou, e virou-se. Deu de cara com a pessoa que estivera procurando: Daniella. Sua Daniella. Sua irmã gêmea. Até então estava decidido a dizer tudo o que precisava dizer, sem dó nem piedade, mas ao olhar naqueles olhos azuis tão diferentes dos seus mas ao mesmo tempo tão iguais, sentiu sua resolução fraquejar.

Suspirou. Por que diabos era tão difícil?

- Daniella, precisamos conversar.

- Sobre o quê?

- A missão que lord Belmont me deu.

O olhar dela tornou-se preocupado.

- Para onde você vai?

Diogo inspirou profundamente antes de responder:

- Para os Cárpatos.

Os lábios rosados de Daniella entreabriram-se, mas demorou algum tempo até que ela pronunciasse algum som.

- Para... os Cárpatos?

- E de lá para a Valáquia.

Ele achara que a irmã ia chorar e se descabelar. Mas a jovem encarou-o com firmeza, e quando falou seu tom de voz foi resoluto:

- Vou com você.

Foi como se algo viscoso, gélido e sufocante descesse pela garganta de Diogo. Não. Ela não podia ir. Ele tinha um péssimo pressentimento sobre essa viagem, e não queria que ela fosse e se machucasse...

- Não, você não vai! Dani, é perigoso demais, e...

- Vou com você, mano - a garota o interrompeu - não importa o que você disser, nós só temos um ao outro, temos que permanecer juntos, não imposta o que aconteça.

- Daniella...

Ela colocou o indicador sobre os lábios do irmão, fazendo-o se calar, e sorriu:

- Escute bem, Di. Se tivéssemos que viver separados, não teríamos nascido juntos.

- Dani, eu não quero que você vá. Algo de ruim vai acontecer nessa viagem, eu sei que vai.

Mas Daniella não se intimidou com as palavras agourentas do irmão. Segurou-lhe o rosto e o obrigou a encará-la. Tinha um sorriso nos lábios, e a expressão serena e confiante de um anjo.

- Não podemos nos separar, Di. Nós nascemos para "derrotar a maldade e as trevas", lembra? Juntos, somos mais fortes que qualquer um, e podemos triunfar sobre qualquer coisa. Desde que estejamos juntos. Não se esqueça nunca disso.

Diogo não pôde conter o sorriso.

- Prometo que não vou esquecer.

Abraçaram-se com força, como naquela noite vinte anos atrás, como se o ato de soltarem-se fosse deixá-los à mercê dos monstros e demônios que habitavam seus pesadelos...

- Pertencemos um ao outro, maninho. Nunca se esqueça disso.

***

- Chama isso de festa, seu maníaco?

- E por que não chamaria? - ele sorriu, mostrando um par de caninos deformados e letais - ouça só a música - fez um gesto na direção das janelas, através das quais chegavam os sons de gritos, tiros e gargalhadas - isso sem falar das bebidas. Sangue de caçadores é mil vezes melhor quando bebido ainda quente, sabia?

Ela o encarou, entre furiosa e enojada. Ergueu a espada:

- Essa é a sua última festinha, seu maldito!

O vampiro também sacou de sua arma, e riu:

- Você não passa de uma criança tola, se acha que pode me vencer!

***

- DIOGOOOOOO!

Eles os separaram e levaram cada um para uma cela. De nada adiantou Daniella gritar, chorar e espernear. Trancaram-na em um cubículo úmido e escuro no subterrâneo, e o tempo que passou ali se resumiu a um borrão de lágrimas e dor. Os vampiros apareciam a qualquer hora para tomar pequenos goles de seu sangue, mas isso era o de menos. Quando estava fraca e anêmica, eles se aproveitavam, e abusavam dela. Machucavam-na propositalmente, riam de seu desespero, propunham-lhe a transformação em troca da liberdade. Daniella jamais saberia se passara dias, semanas ou meses ali. Tudo o que soube é que estava deitada no chão, lágrimas escorrendo silenciosamente por seu rosto machucado, quando a porta se abriu. Não se mexeu, julgando se tratar de mais um daqueles malditos. Mas sentou-se de um salto ao ouvir uma voz conhecida:

- Dani, vamos sair daqui!

- Di... Diogo?

- Vem, Dani! Ele agarrou-lhe o braço e ajudou a se levantar. Também tinha cicatrizes de mordidas no rosto e no pescoço, estava sujo e com as roupas esfarrapadas como as dela, e também tinha a aparência anêmica. Mas, por outro lado, estava inteiro. Ajudou-a a endireitar os andrajos em que sua capa de viagem e seu vestido tinham se transformado, e a puxou para fora.

- Diogo, como você conseguiu escapar?

- Fuga agora, perguntas depois. Vem, Dani!

***

Avançaram um contra o outro. As espadas se chocaram, produzindo um forte ruído metálico.

- Posso sim, vampiro maldito. Posso e vou, porque fiz um juramento!

- Que corajosa... seria comovente, se não fosse tão patético!

O vampiro avançou, mas a caçadora tinha treino o suficiente para repeli-lo sem muito esforço. As lâminas se batiam enquanto os dois rivais lutavam furiosamente. A agilidade e a força sobrenaturais do vampiro tinham encontrado uma oponente à altura na habilidade e técnica da humana. Ela o encarava sem medo. Sabia que ter medo deles era como oferecer o pescoço para que cravassem os dentes. Precisava encará-los como meros parasitas que eram, não atribuir-lhes características de deuses ou demônios. Só isso quase igualava a briga; um pouco de treino e uma espada com lâmina de prata cuidava do resto.

A luta estava bem equilibrada. Vampiro e caçadora se enfrentavam de igual para igual, olhos nos olhos, ele com os caninos à mostra, ela com os lábios contraídos, num silêncio rompido apenas pelo retinir da prata contra o aço e pelos ruídos lá de fora, como se um acordo tácito firmado entre ambos houvesse estabelecido que esse duelo só terminaria quando a vida de um deles se findasse...

- Por que não pára com isso e se alia a mim, caçadora?

- Jurei que te mataria, seu verme infernal! Jurei que livraria o mundo de você!

- E se o mundo não quiser ver livre de mim, menina?

- Eu fiz uma promessa. Sobre lágrimas e sangue me comprometi a destruí-lo ou morrer tentando. E é isso que vou fazer!

***

Daniella estava fraca e com o corpo todo dolorido, mas Diogo parecia estranhamente disposto. Saíram do subterrâneo, chegando a um longo corredor, que transpuseram em poucos instantes, saindo no salão de baile. Ele a fez parar e segurou-a pelos ombros:

- Dani, daqui pra frente você precisa ir sozinha.

- Mas você não vai vir comigo?

- Eu não posso, irmãzinha. Por favor, me perdoe... - ele desviou o olhar - só fiz isso por você.

- Não...

- Sim.

- DIOGO, SEU IDIOTA!

Deu-lhe um tapa no rosto, e recuou. Sentira a pele do rapaz fria sob seus dedos. Ele estava gelado. Pálido...

Morto.

Daniella começou a chorar.

- Por que você fez isso, Diogo? Por quê? Nós podíamos escapar, lord Belmont mandaria alguém atrás de nós, você... você não precisava ter vendido a alma para esses demônios!

- Você pensa que eu estou contente com isso? - o rapaz baixou a cabeça, e sua voz tornou-se um sussurro - por acaso acha que eu fiquei feliz por ser transformado num parasita como o que matou mamãe, Alonso e Eduardo? Eu repugno até a alma essa condição, Daniella. Mas... - a voz de Diogo ficou subitamente embargada - era o único jeito de te tirar daqui com vida.

- Mano... O Sol logo nasceria no horizonte. O rapaz sorriu para Daniella.

- Mana, me prometa uma coisa.

***

Em poucas horas o Sol nasceria, e a luta se arrastava. Lá fora, partidários de ambos os comandantes se enfrentavam, afinal, as ordens dos dois tinham sido as mesmas: ninguém interferia na batalha particular deles. Aquele era um assunto que apenas o líder dos vampiros e a general dos caçadores poderiam resolver.

O brilho da Lua refletia-se no olhar dos comandantes e em suas espadas. O cansaço da humana era evidente, mas a proximidade da aurora enfraquecia o vampiro, inutilizando suas habilidades sobrenaturais. Ela começava a levar vantagem sobre o adversário, mas nem por isso deixava de ser um confronto feroz e letal. Os dois rangiam os dentes quando o som do choque de metal contra metal enchia o salão, e a cada avanço da humana o mestre do castelo recuava mais.

- Você não vai me vencer... - ofegou ele - você não pode me vencer!

- Ah, é? - ela sorriu, um sorriso quase tão maligno quanto o do vampiro - pois olhe só... - mais uma vez as lâminas se encontraram, e ela sentiu o braço do inimigo fraquejar - ... é exatamente isso... - mais um golpe, e dessa vez ele quase sucumbiu - ... que está... - conseguiu cortá-lo no rosto, fazendo escorrer um filete de seu sangue escuro. O adversário recuou, tentando se manter firme no duelo - acontecendo!

A espada escapou da mão dele, ao mesmo tempo que uma dor aguda rasgou-lhe a carne imortal, na altura do estômago. Esse ferimento, somado a todos os outros que já tinha recebido (a prata não deixava o sangue vampírico agir nas feridas para fechá-las rapidamente), o fez cair de joelhos no chão por causa da dor. Ergueu o rosto para ela, e viu os olhos azuis marejados.

***

Ela enxugou os olhos e assentiu:

- Pode deixar Di. Vou dar tudo de mim para cumprir.

Ele balançou a cabeça afirmativamente, e uma lágrima vermelha rolou por seu rosto machucado.

- Não se esqueça, irmãzinha... só você pode fazer isso.

- ELES ESTÃO FUGINDO!

- Vai! Daniella fez um breve aceno com a cabeça, e correu para o outro extremo do salão, às vezes escorregando no chão de mármore, olhos fixos na porta, esperando que a qualquer instante mãos geladas a segurassem, ouvindo as pragas e blasfêmias lançadas pelos vampiros...

Mas alcançou a saída incólume. Virou-se brevemente para trás e descobriu o motivo de não a terem capturado: as cortinas de uma das janelas estava aberta, e uma larga faixa clara do céu já extremamente pálido se refletia no chão polido de lado a lado do salão. Na outra extremidade do aposento, Diogo era facilmente identificável entre os outros, por não ter a mesma palidez cadavérica que eles, e por seus olhos não exibirem o tom escarlate que identificava os seres das trevas, continuavam negros, introspectivos, profundos. Mas subitamente a escuridão de seu olhar tornou-se cor de sangue. Estava cercado dos seus, deixara de ser o irmão de Daniella...

A jovem sentiu um aperto no coração. Mas foi forte o suficiente para sair sem olhar para trás.

***

E foi aí que se lembrou. Primeiro um flash daqueles olhos claros, daquele rosto bonito, daqueles cabelos castanhos. Depois mais outro, e mais outro... um quarto escuro, gritos... várias imagens relacionadas com aquelas lágrimas...

"- Não..."

"- Sim."

O tapa. Os gritos.

Ele sorriu.

- Era você...

Ela assentiu, devagar.

"- Era o único jeito de te tirar daqui com vida."

"- Mano..."

"- Mana, me prometa uma coisa. Prometa que quando... quando chegar a hora..."

- Eu vou cumprir, Diogo.

O vampiro fechou os olhos e acenou afirmativamente com a cabeça. Quando tornou a encará-la, seu olhar era o mesmo de tempos atrás, da noite em que separaram. Daniella puxou a estaca que levava presa ao cinto. Ajoelhou-se diante dele e...

"- Quando eu me tornar como eles, quando não me lembrar mais de como é ser humano... é você quem tem que me destruir, Dani. Só você pode fazer isso."

A ponta afiada mergulhou no corpo dele. Soltou um pequeno gemido, um pouco de sangue escorreu por seus lábios, mas sorriu. Agora se lembrava de tudo... tocou o rosto da irmã com os dedos gelados. Enxugou-lhe as lágrimas.

- Tinha que ser assim, Dani... porque nós... pertencemos um ao outro...

Escorregou devagar para o chão, e caiu deitado de costas, os olhos escuros fitando inexpressivamente o vazio. Daniella sorriu, e pegou no bolso da capa o frasco que, milagrosamente, não se partira durante a luta.

- Se tivéssemos que viver separados, não teríamos nascido juntos... - fechou os olhos dele com delicadeza, e destampou o frasco - nós só temos um ao outro, temos que permanecer unidos, não importa o que aconteça. - tomou todo o líquido de um gole só, deitou-se ao lado do cadáver de Diogo e o abraçou - eu te amo, meu irmão.