quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Mais um de Mecônio
Trago mais uma pérola do personagem mais famoso do Giorgio Boy: Mecônio!
Boa leitura a todos!
Participação especial: Dr. Sigmund Freud
Fazia calor naquele verão de 1909. O jovem estudante Mecônio Barros tinha chegado à Escola de Medicina da Universidade de Viena para conhecer um neurologista de quem muito se falava: Doutor Sigmund Freud.
A descrição do tal homem chegara-lhe soterrada em elogios: simpático, atencioso, educado, cordial, gentil, um cavalheiro. Mecônio queria aprender a disciplina desenvolvida por Freud, uma novidade que mesclava interpretações de sonhos, hipnose e estudos sobre a histeria, uma tal “psico-análise”.
Dos últimos degraus de uma longa escada, ele avistou o doutor, no topo da mesma. Isso provocou no rapaz um meio sorriso. Para quem não o conhece, trata-se de uma demonstração de extrema alegria. Logo a seguir, o rapaz disparou a correr na direção do doutor.
Ainda no alto da escada, Freud batia as mãos em todos os bolsos de sua vestimenta, a procurar por algo. Ao ver aquele jovem alto, magro, com um topete de cabelos escuros repartido no meio e expressão de quem ia espirrar, o neurologista franziu a testa.
– Como vai, Doc? – perguntou Mecônio, estendendo a mão com toda a simpatia.
Em resposta, foi medido de alto a baixo.
– Odeio que me chamem de “Doc”. – rosnou o médico.
E principiou a descer os degraus num mau-humor sinistro.
– Desculpe, Doutor Freud. Meu nome é Mecônio e eu...
– Não quero comprar nada. – tesourou Freud, agora vasculhando as entranhas do paletó.
– Eu não estou vendendo nada, só quero...
– Também não dou autógrafos! Não acredito em autógrafos! Isso é fetiche, sabia?
– Doutor Freud, eu...
– Ah! Achei meu charuto! Tem fogo?
Era a vez de Mecônio procurar algo nos bolsos da roupa. O impaciente austríaco descia os degraus, deixando para trás o jovem estudante. Este, tão logo encontrou uma caixa de fósforos, arregalou os olhos de emoção e saiu em perseguição do conhecido neurologista.
– Onde ele se enfiou?
Achou-o no ponto de bonde e correu até ele.
– Doutor...!
– Meu jovem, lamento informar que não atendo sem consulta marcada. Não insista!
– Mas eu...
– Chegou meu bonde!
Freud olhou pela última vez para Mecônio e, sem nem proferir um som, arrancou-lhe das mãos a caixa de fósforos e adentrou o veículo. O rapaz emitiu ainda menos sons, encarando o bonde que se distanciava levando o cordial Sigmund Freud sabe-se lá aonde.
Todos os músculos do rosto do estudante achavam-se retesados para baixo. Em linguagem Mecônica, aquilo significava um estado de fúria assassina. Coisa de rasgar a dentadas a garganta do primeiro que lhe desse boa tarde.
Então aquele era o doutor “simpático, atencioso, um cavalheiro”? Tinha viajado horas e horas lá do Brasil, em lombo de jegue, porque era mais barato que pau-de-arara, feito um ano de curso intensivo de alemão... só para ser esnobado por um velho arrogante?
Ah, não.
***
Nos meses que se seguiram Mecônio dedicou-se a duas coisas: trabalhar para pagar suas despesas na faculdade e fazer pesquisas sobre Sigmund Freud. Uma compilação assaz peculiar de tudo o que o homem detestava, anotada em um caderninho.
Naquele mesmo ano de 1909, Sigmund Freud partiu para sua primeira viagem aos Estados Unidos, juntamente com seus amiguinhos Carl Jung e Sandor Ferenczi*, no navio George Washington. Mecônio arranjou uma colocação temporária como camareiro nessa mesma embarcação. Na véspera da partida, esperou todos dormirem, foi até o livro de bordo, procurou por Sigmund Freud na lista de passageiros e, com uma caneta, deu um jeitinho para alterar levemente o sobrenome do médico.
Pela manhã, o oficial de registro barrou-lhe a entrada.
– O nome do senhor é Freud e não Freund. Logo, não é o senhor.
– Pare de frescura! Sou eu mesmo que vou embarcar!
Embora o substantivo Freund signifique “amigo”, o doutor não se mostrava nada amistoso.
– Alguém escreveu errado, seu imbecil! Quem mais poderia ser além de mim?
– O senhor por favor não me desacate, ou chamarei a segurança!
Atrás do médico, os passageiros acumulavam-se em número e irritação.
– Anda logo com essa fila aê!
– Expulsa esse encrenqueiro!
– Volta pro museu, velho chato!
Essa dor de cabeça durou quase quarenta minutos. Jung e Ferenczi, que tinham conseguido entrar, chamaram o capitão e assim pôde-se dar o embarque de Freud.
– Onde é nossa cabine? – bradava – Fiquei nervoso! Fiquei nervoso! Quero água!
Rapidamente Mecônio surgiu disfarçado, chapéu na cabeça e um bigode falso, trazendo uma jarra de água e copos para os doutores.
– Aqui, Doutor Freund. – cumprimentou.
– É FREUD, §†ђ%#¶*@$!
Claro que Mecônio havia pronunciado o nome errado de propósito para deixar o desafeto ainda mais irritado. Íntimo de medicamentos, o rapaz colocara no copo de Sigmund um poderoso laxante. Antes do meio-dia o neurologista já estava eliminando o que queria e o que não queria, conquistando a imensa antipatia dos demais passageiros e tripulantes, em virtude dos odores semi-letais que esparzia.
***
Um dos motivos pelos quais Mecônio optara por um laxante foi seu conhecimento acerca de uma curiosa diferença entre os Estados Unidos e a Europa de 1909. Enquanto que no Velho Continente sobravam sanitários públicos, o mesmo não acontecia na América.
Mal desembarcado em solo estadunidense, a diarréia do famoso austríaco não havia passado e seu desespero crescia sempre que lhe sobrevinha aquela vontade de fazer “o número dois” no meio da rua. Saindo de trás da moita de um parque enxugando o suor da testa, o neurologista reclamava com os amigos:
– Maldito país!
– Que culpa o país tem se você está passando por uma regressão da fase anal, Sig?
– Fase anal o teu rabo, Jung!
– Com o que você tem sonhado ultimamente, Sig?
– Você também, Ferenczi? Parem de ficar me analisando!
Retornavam à charrete que os levaria a seu destino sem perceber que o condutor era ninguém senão Mecônio, de cartola, óculos e barba branca, segurando o riso. Os tontos nem tinham reparado que ele aproveitara a hora do almoço para mandar vários telegramas avisando da chegada de Freud, com instruções sobre como o doutor gostava de ser tratado. Por isso, em todo o lugar era a mesma coisa:
– Olá, Doc!
– Oi, Doc!
– Tudo bem, Doc?
– Como vai, Doc?
– Fez boa viagem, Doc?
– Ô povo chato! – resmungava Freud.
– Ora, eles estão sendo simpáticos! – defendia Jung – Você que está muito rabugento por causa dessa diarréia.
Ainda disfarçado de condutor, Mecônio vinha com uma pílula e um copo de água:
– O seu remédio, Doutor Freud. É para beber com água.
– Me dá aqui! Me dá aqui!
Não preciso dizer que o líquido trazido já vinha adulterado, preciso?
E dá-lhe Freud parando a cada moita que encontrava...
– Anda logo, Sigmund, senão a gente vai se atrasar para o almoço.
Mecônio teve o cuidado de reservar uma mesa em uma área especial, pois conhecia o prazer que um charuto após as refeições causava a Freud.
– Olha, meu senhor, num pode fumar aqui! – pediu um cavalheiro, com educação.
– Eu fumo onde eu quiser! – retrucou o velho médico.
– De jeito nenhum! Olha aquela placa ali! Esta área é a de não-fumantes!
– Não me interessa! Vocês não vivem dizendo que este é um país livre?
– Que cara mal-educado! Tinha de ser alemão!
– Eu não sou alemão! Sou austríaco!
– Se o senhor não parar de fumar eu vou chamar a polícia!
Jung tentava apaziguar os ânimos:
– Sigmund, apaga isso aí antes que a gente seja preso!
– Nunca! Os incomodados que se mudem.
Os incomodados chamaram a polícia e Freud passou uma noite no xadrez.
Você talvez imagine que o jovem estudante de medicina já podia dar-se por satisfeito depois de tanto sofrimento imposto ao desafeto. Que nada! A viagem de Freud previa uma parada em Massachusetts para uma palestra. Os neurologistas viram-se diante de um bela recepção: crianças agitando bandeiras coloridas, banda tocando música. Tudo muito lindo e impecável. Só que ali, mais uma vez, havia o dedo de Mecônio. A banda tocava o hino da Alemanha e a criançada tinha em mãos bandeiras do império alemão. Freud e Jung, no entanto, eram austríacos, como já se disse anteriormente, e Ferenczi, húngaro.
Freud não armou um escândalo ali mesmo por pouco; seu nervosismo imprimiu um desconforto ventral que o obrigou a sair correndo até a moita mais próxima.
– Ele... ele se emocionou... – justificou o constrangido Jung.
***
Os eventos acerca da viagem do Dr. Freud aos Estados Unidos são verdadeiros e constam em biografias mais detalhadas do neurologista. O mesmo não se pode dizer de Mecônio: seu empenho em prejudicar o desafeto e manter-se oculto gerou resultados líquidos e certos, e não estou falando dos desarranjos do pai da psicanálise. Nunca houve nenhuma prova que ligasse os atos de vingança do rapaz ao sofrimento experimentado pelo velho “Doc” Sigmund. Dizem até que Mecônio teria inventado fofocas para Jung sobre Freud, que culminariam no final da amizade entre ambos. Aí eu já acho um tanto forçado.
(*)Apesar do nome bizarro, este renomado médico não era alienígena de Jornada nas Estrelas.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Campeões da Arena - 7
SACANAGENS DA VIDA
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Campeões da Arena - 6
# Essa foi a primeira de que participei e a que teve mais contos inscritos: nada menos que 8! Descolei um terceiro lugar, que, dada a qualidade dos concorrentes (acho que foi uma das melhores AQ's até hoje) é uma posição super-honrosa.
# Mas não estamos aqui pra falar de mim. xD A Atividade Quinzenal 006 teve como tema "Assassinos", dado por Leon de la Torre (anda sumido, esse rapaz...). Sua duração foi de 14/04/2007 a 05/05/2007. O vencedor foi Flavius 2.0, também conhecido como Dado Pires. ^^ Que, por sinal, também estava em sua primeira AQ e conseguiu o feito de desbancar titio Garret por um mísero ponto! o_o Foi disputada essa. E o contos dos dois eram muito ótimos, foi uma tristeza decidir qual ficava em primeiro, na hora de votar. T_T Passem lá no RPG-X, leiam e vejam o que estou falando...
# Chega de tagarelice! Ao conto:
Roger era um sujeito comum. Tinha esposa, mas não filhos. Ela era muito doente para tê-los. Até para tentar. Religioso, ele mantinha o aluguel em dia. Respeitava os vizinhos. Nunca fizera nada que o desabonasse. Servira ao exército quando jovem. Chegou a ser cabo antes de dar baixa. Todos os dias, santos ou não, ia à missa. Casou-se cedo. Logo a enfermidade dela. O matrimônio seguira firmado na devoção da fé. Deus nunca perdoaria tal rompimento. Roger era pacato. Pacato até demais. No dia em que encontrou aquela revista suou como nunca. Palpitações percorriam seu corpo, mesclando-se de maneira preocupante à intensa taquicardia. Os anúncios prometiam momentos únicos de prazer. Desde que o enfarte não chegasse antes. Medo. Tesão. Arrependimento pelo que ainda não fizera. Aquele nome lhe prendera os olhos. Trazia-lhe energias de algum canto escondido dentro de si. Teria uma amante. Pagaria por uma.
Durante as tardes. Uma vez por semana. Essa foi a idéia que teve para chamar menos atenção. Ligava para a companhia de seguros e alegava mal estar. A esposa dormia. Sempre dormia. Calmantes. Dose dupla. Tripla. A esposa dormia até o outro dia. Mantinha-a assim. O apartamento de seus encontros se apresentava sujo e mal iluminado. Cheirava a bebida e restos de cigarro. Uma trilha sonora barata poluía o ambiente. Ele gostava de Almodóvar. Ela estava na cama. Sempre estava na cama, único móvel do ambiente. Nos lábios uma cigarrilha antiga e barata. Barata. Prostituta barata. Era ruiva. Não linda. Atraente em suas lingeries. Atraente o bastante para as fantasias de Roger. Talvez, e só talvez, as lingeries se esforçassem demais para segurar aquelas carnes. Talvez o desejo de homem não lhe permitisse perceber tanto. Talvez a tinta do cabelo fosse por demais sem graça. Talvez suficiente para aquela quantidade de luz. Talvez as unhas fossem mal feitas e a maquiagem borrada. Talvez os dentes fossem amarelados e os olhos vermelhos demais. Talvez ele percebesse isso mais tarde. Antes era só desejo. Queria possuí-la. Todos os dias. Devassamente. E o fazia. De várias maneiras. Por várias vezes. Muitas vezes. Ela gemia. Talvez fingisse. Ele gostava. Talvez demais. Ela gritava o nome dele. Queria ele também gritar o dela. Mas qual? Estava se tornando uma máquina. “Foda-se o nome do anúncio”. Fodia um anúncio ainda que sem nome. Gritava muito também. Talvez demais. Os vizinhos nunca escutaram nada.
Alta madrugada. Saiu para caminhar. Estava com dores na cabeça. Em casa a esposa dormia. Ainda. Há quantos anos não se levantava daquela cama? A velha enfermeira já havia partido. Deixá-la-ia sozinha. Para pensar. Um misto de raiva e satisfação permeava sua mente. Seria possível? Excitação. Amargurado tesão. Anos de tesão enclausurado. Imaginava-se rasgando as vestes da esposa. Breve suspiro. Nenhum movimento nas calçadas. Começou a penetrá-la. Fria. Inerte. Ele já ofegava no ritmo frenético. Ela balbuciava algo em seus devaneios. Ele gemia. Estava caído próximo a um muro. Não se importava. Suava em toda sua ousadia. Cobrava tudo o que lhe fora negado até então. Da sua maneira. Ela parecia gostar. Mexia os quadris. Involuntariamente. Escorregou as mãos para o pescoço dela. Involuntariamente. Os olhos se encontraram por um instante. Ele apertava com força. Ele segurava o gozo. O que era aquela expressão? Com fortes estocadas deleitava-se ao perceber a vida se esvaindo do corpo que lhe dava prazer. Não lhe dava prazer. Sempre. Nunca. Era compaixão o que via em seus olhos? Prazer atrasado. Prazer com juros. Ela conseguia implorar. Sussurrava o nome dele. “Roger”... Ela estava gostando. Ele tinha certeza disso. Ele tinha muitas certezas agora. Ele gozou como nunca. Talvez fosse amor. Talvez fosse hora de lembrar aquele nome. Devaneios.
Acordou no quarto da esposa. Sangue. Muito sangue. Calmamente chamou a polícia. Confessou o crime ainda ao telefone. Sentou-se para esperar enquanto fumava um cigarro. Há vinte anos não fumava um cigarro. A fumaça era quente e ácida. Amaciava a alma. Qual era o nome do anúncio? Aquilo não saia da cabeça. Sirenes ao longe. Distantes. Distantes demais. Um nome simples. Exótico. Perdeu a noção do tempo. Batidas fortes na porta. Um nome. Homens uniformizados jogaram-no ao chão. Machucou a boca. Algemas. Sangue. Vermelho. Rubro. Lembrou o nome da prostituta. Muito sangue.
Molestara durante anos a própria esposa. Drogada. Em cárcere privado. Escrava sexual. Um corpo quase sem vida há muito sob maus tratos. Ele era doente. E durante toda a noite de interrogatório só fazia repetir a mesma coisa. Um nome. O nome do anúncio. Entre lágrimas e desespero, tudo o que se permitia dizer era o nome dela. Um nome de liberdade, triunfo e agonia. Um nome que custou a encontrar caminho naquela mente perturbada. Perturbadora. Dois mundos vividos por um homem. Duas vidas paralelas que nunca haviam se encontrado. Duas vidas unidas por um nome. Uma mulher. Um desejo. Julgado e condenado. Nunca sairia da prisão. Relegava-se ao esquecimento. Seus vizinhos o esqueceriam. Sua igreja o esqueceria. Os jornais o esqueceriam. A ele só restava lembrar. Para sempre lembrar. Ela. Sua musa. Esposa e amante. Doença e cura. Vício. Pecado. Uma mulher. Uma fantasia. Um nome. Ao menos em sua mente, para sempre sua. Em uma cama. Em um leito. Com cheiro de cigarros ou remédios. Com música ou sem. Devaneios. Ainda havia chances de chegar ao reino dos céus. Era muito religioso.Ainda assim só fazia lembrar. Um nome. Agnes.
Flavius 2.0
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Campeões da Arena - 5
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Ed tomou um último gole antes de deixar o estabelecimento abarrotado de bêbados que como ele, passariam ali toda noite tomando um copo e depois outro até caírem no chão.
Apesar de ser uma idéia tentadora ela não pode ser concretizada. Isso porque avistara um velho conhecido observando-o pela porta da taverna. Sabendo o significado daquela aparição repentina, apressou-se pelas ruelas escuras de Baltimore.
Seguiu solitário e cambaleante sob o efeito do álcool.
Sua vista turva não fora suficiente para impedi-lo de avistar um corvo planando sobre sua cabeça. O pássaro rodeou e pousou próximo dele, obrigando-o a parar. No momento em que pensou na possibilidade de dar um chute na ave, esta proferiu uma frase que o assustou. “Nunca mais.” disse ela, algo que Ed conhecia bem.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
CONTO INSPIRADO EM MOD-MOD
Olá,
Estou criando uma sério de textos inspirados em uma modalidade bastante antiga mas que só agora está mais difundida no mundo, a prática das Bod-Mod (ou Body Modification), que são modificações que se fazem no corpo. A maioria dolorosa e permanente, mas que cada vez mais ganha mais adeptos. As Bod-Mod mais conhecidas são:
*PIERCINGS(perfurações com uso de objeto);
*TATUAGENS(desenhos permanentes na pele);
*ESCARIFICAÇÃO (cortes com objeto de deixar cicatriz marcada);
*NULIFICAÇÃO (remoção voluntária de partes (ou membros inteiros do corpo) como mamilos, testículos;
*IMPLANTE (colocação subcutânea de objetos que podem ser de siliconoe, osso, plástico);
*BRANDING (queimaduras que viram cicatrizes);
*BIFURCAÇÃO DE LÍNGUA (corta-se ao meio);
*SUSPENSION (onde através das perfurações dos 'piecings' ganchos suspendem o corpo, uma modalidade, não apenas uma modificação).
O conto que posto é inspirado num caso real, de um casal australiano, chamados Clive Mathias e Gillian Hyde( na foto).
Boa leitura a todos!
"A festa acontecera como Sofia esperava. Era o dia mais feliz de sua vida. Adolf não parava de admirá-la vestida de noiva, radiante, agora convertida em sua esposa. Ela fez questão de guarda-se para ele, queria que fosse especial e único. E seria. Como de costume, os noivos deixaram a festa ainda com a presença dos convidados. O destino seria a praia. A mesma que se conheceram há dois anos. A praia de águas cintilantes.
A lua de mel durou 15 dias. O quarto era o lugar favorito. A casa era da família dela, a qual ia a todos os verões e agora estava lá com Adolf. Sofia sentia-se completamente realizada .
Três meses depois, ela começou a reparar na aliança de ouro que usavam. Gostava da sensação de tê-la no dedo, sentia-se ‘de alguém’. Aquela aliança simbolizava o amor. A continuidade sem fim. Mas ela passou não só a observar e refletir, agora até mesmo questionava o uso. Porque isso?Uma noite na cama conversou com o marido sobre o uso da aliança. Achava banal. E não significa nada, era apenas uma convenção. Ele riu dela e disse que gostava, achava romântico, ela apenas não estava habituada.Sofia discordava, mas continuava usando.Não sabia até quando.Aquele pequeno arco dourado passou a estrangulá-la. Sentia-se incomodada. Adolf não gostou quando Sofia categoricamente decidiu não mais usar mais o anel. Discutiram. Ele não entendia a atitude dela, parecia sem nexo. Fizeram as pazes. Mas ela não queria mais a aliança. Voltaram a se desentender. Adolf não entendia a estranha atitude de Sofia. Mas a amava e não queria perdê-la.
Uns dias sem se falar parece ter melhorado o clima. Agora se olhavam com carinho e aos poucos foram se aproximando. Ela dizia que o amava acima de qualquer coisa. Ele acreditava, mas senti-se mal por não vê-la com a aliança. Fingiu entender, mas por dentro se corroía. Numa madrugada insone, ele a observava dormir. Adorava as mãos de Sofia, a textura, a cor. Tinha mãos maravilhosas. Olhou a sua, o brilho do anel o ofuscou. Ela acordou-se e o viu a seu lado. Olhou-o com ternura e suavemente lhe disse:
_ Eu sei o quanto está desapontado comigo. Mas é como me sinto em relação à ‘ela’ e não à você. Eu te amo e nada pode mudar isso.E essa estúpida aliança não significa nada pra mim. É apenas um anel, não é termômetro para o que sinto.
_ Eu também a amo, só não entendo o porquê dessa aversão toda. É difícil pra mim. Muito difícil.
_ Adolf, não quero um compromisso de metal com você. Quero de carne. Se quer me fazer feliz novamente, remova essa aliança de seu dedo._ O olhar dele agora era de perplexidade.
_Sofia..._ Antes que ele continuasse falando ela o interrompe.
_ Morda! _ Apontando o dedo do qual deveria estar a aliança. _ Morda a ponta do meu dedo até amputá-lo. Farei o mesmo com você, essa será nossa ‘real aliança’.
Adolf a olhava perturbado. Que loucura era essa?
_ Faça o que pedi, por favor. Faça._ Os olhos de Sofia brilhavam suplicantes. Então Adolf fez. E sangrando ela também o mordeu. E as alianças de ouro foram jogadas no lixo, junto às pontas dos dedos amputados."
Veja mais sobre Bod-Mod nos sites:
www.bmezine.com
www.neoarte.net
CONTO EM DUPLA
Eu e Welwerin criamos em dupla um conto inspirado na excelente música do Iron Maiden,chamada "Dance of Death" (Dança da Morte)e orgulhosamente publico aqui. O conto foi postado na sessão 'contos e poesias' no dia 24 de Agosto. Esse é o primeiro de muitos que eu e meu companheiro de contos faremos. Aguardem!
Boa leitura a todos!
Beijos Agnescos...
-Bruce, acorda, você já está atrasado! De novo! Foi assim a semana toda! Acorda, menino!
_ Mãe, eu não tô me sentindo bem, não posso ir à escola assim...
_ Levanta! Sem desculpas... Levanta agora! Esse mal estar é ressaca! Você não tem vergonha? Bebendo desse jeito todas as noites?Levanta e já pra escola!
O dia foi um inferno. Mais um dia.Escola, obrigações, família te enchendo o saco. Odeio isso. Por isso sou notívago, e todas as noites são minhas. Enquanto todos dormem, me sinto mais vivo, livre!As garotas, as músicas, as bebidas... Poderia ser assim para sempre. Ter 18 anos me deixa à vontade para sentir isso. Com essa mesma idade meus pais já me tinham e já se sentiam velhos! Não quero isso pra mim, jamais!
Mas essa noite está diferente...melhor! Sinto o vento transfixar meu corpo de uma maneira estranha, porém, prazerosa. O que há de especial hoje?
Sentindo aquela atmosfera noturna incomum, decidi aproveitar a noite sozinho. E mais: não ia me embriagar, queria estar sóbrio pra apreciar o céu magnético e escuro, com estrelas radiantes que pareciam piscar para mim. Encontrei os amigos, cancelei a noitada dando uma desculpa qualquer, e fui embora.
O vento soprava com força e era sonoro ao extremo. Um calafrio atravessou meu corpo. A sensação perdurou por alguns instantes. Um drink apenas. Wisky sem gelo. O gosto permaneceu na minha boca por algum tempo. A garrafa comigo estava quase vazia, arremessei-a num muro pichado. As ruas desertas foram minha companhia.Peguei minha Harley e saí sem destino por bastante tempo, afastando-me da cidade. O ar gelado em minhas narinas provocou uma leve coriza. Mas sentia-me muito bem...
Enfim parei num lugar distante,silencioso, deixando minha moto a uns cinco metros de mim. Sentei-me aos pés de uma árvore de grandes raízes e lá permaneci sozinho, olhando o céu, sentindo o som do vazio...Tirei a jaqueta e com ela apoiei a cabeça.
E enquanto meus pensamentos se perdiam na imensidão do céu, fui surpreendido por um som arrebatador,mas não sabia de onde vinha, apenas senti a vibração em todo meu corpo. Confuso, sentei-me e observei a minha volta, mas tudo parecia igual. O que senti então? Terei dormido?
Amedrontado levantei-me. O vento gelado me incomodava, peguei minha jaqueta e quando fui vesti-la notei um vulto por trás das árvores. Não sei o que passou em minha cabeça, mais resolvi segui-lo. Logo adentrei as matas e no meio do que parecia um pantanal, fiquei abismado com o que via. Esfreguei os olhos e tentei fingir que aquilo não era verdade. Como se a gravidade me empurrasse com uma força absurda, fui levado a um altar em meio às águas sujas do local, minha cabeça girava.
Como se tivessem sido invocados, os mortos saíram por detrás das árvores e fizeram um círculo em minha volta. Um pentagrama de fogo se acendeu aos meus pés. Nesse momento os mortos começaram a dançar.
Paralisado pelo medo, permaneci imóvel dentro do círculo de fogo, temendo ser queimado, mas o fogo acariciava minha pele, era leve como uma brisa noturna. O que era aquilo? Transtornado ao presenciar aquela cena dantesca e nauseado com o cheiro de carne podre, o balé macabro daqueles mortos me entorpeceu. Homens, mulheres, crianças, todos mortos. Alguns só tinham alguns pedaços de carne pendurados nos ossos. Outros comiam partes do próprio corpo em decomposição. Mas todos dançavam à melodia de seus grotescos gritos, porém também sentia uma vibração vinda da terra.
Enquanto dançavam,emitindo um som grave e ensurdecedor girando ao meu redor,senti meu espírito se elevar, passando a observar o cenário horripilante lá do alto, embora meu corpo permanecesse dentro do círculo.
As chamas eram gigantescas, alcançaram meu espírito iluminado pelo fogo voraz. A sensação agora era plena, o medo havia me abandonado. E de lá, via meu corpo estático entre as chamas e os mortos a dançar.
Dentro do círculo eu dançava, pulava e cantava. Os olhos negros, cintilantes e sem vida dos mortos me observavam, como se tivessem ascendido do inferno. Meu cadáver não parava, dançava num ritmo alucinado, enquanto meu espírito zombava de mim.
Naquele inferno horrendo, eu, nem morto nem vivo, simplesmente seguia o ritmo da musica dentro do círculo dos mortos.
Observando do alto aquele caos entre um vivo e muitos mortos, senti meu espírito voltar ao meu corpo. Nesse instante voltei a permanecer imóvel, agora a chama estava menor... Eles deram-se as mãos e aos poucos foram aproximando-se de mim em silêncio. Alguns me tocam o que me provocou um temor descomunal. Fingi estar tranqüilo, pois não sabia que reação teriam e nem o que queriam de mim.
Silêncio absoluto. Calor. Cheiro de carne podre e cinzas. Todos os olhos mórbidos em minha direção. Sentia-me apavorado e totalmente tomado pelo transtorno e o medo. Vi então um zumbi aproximar-se, ele não estava entre os outros e nas mãos necrosadas trazia um cálice. Nesse instante os outros voltaram-se contra ele...
Nesse momento, enquanto discutiam aproveitei a oportunidade e corri sem direção por entre as matas.
Com medo de estar sendo seguido, fui correndo em diversos sentidos, olhava constantemente para trás na esperança de nenhum deles estar me seguindo. Velocistas de longas distâncias, jamais me alcançariam. Corri tanto que parecia que meu corpo tinha se mesclado com o vento.
Após um tempo nesse ritmo sem sentido encontrei a estrada. Parecia um pesadelo insano do qual eu era o personagem principal. Poderia ser meus últimos momentos como mortal. Eu não estava preparado para aquilo. Jamais estive. Ainda correndo, alguns vídeos me vieram à cabeça. Lembranças de uma vida passada talvez.
E entre essas breves lembranças me veio a imagem da minha moto. Eu a adoro, não poderia deixá-la naquele lugar maldito. Por outro lado, se for buscá-la posso ser pego. O que fazer? Continue correndo, mas o cansaço me tomou por completo meu corpo, obrigando-me a parar. Minha respiração ofegante, o suor por todo o corpo, meu rosto ardia, sentia sede. Nunca me senti tão exausto, parecia ter-me consumido até a alma. Estranhamente pensei em meus pais, lembrei do meu quarto, da preocupação deles comigo. Nesse instante senti-me totalmente vulnerável e sozinho. Lar. Meu lar. Preciso voltar pra casa.
Quando finalmente decidi continuar minha corrida desesperada, a moto voltou a rondar meus pensamentos.E mais que isso: sentia que precisava voltar lá. E assim foi. Corri rumo à terra maldita, consciente do risco que corria. Fui cauteloso a chegar próximo, agia silenciosamente. Passos inaudível, olhos arregalados, o medo me regia. Avistei a Harley, e nenhum morto estava próximo. Temendo o pior, aproximei-me. Peguei a moto, empurrei por muitos metros para finalmente ir embora. Não ouvia nenhum barulho ou sinal dos mortos, mas sentia a vibração vinda da terra. Precisava ser rápido e fugir logo. Usei toda minha destreza de motoqueiro e em alguns minutos já estava de volta à cidade.
Quando entrei em casa à mesma cena de sempre: a casa escura, meus pais dormindo, a porta do meu quarto entreaberta. Senti-me protegido e aliviado por estar vivo. Tomei um banho e tentei dormir. Estava muito excitado por tudo que vi e vivi naquela madrugada. O sono rejeitava meu corpo. Permaneci acordado, atordoado por começar a duvidar de minha sanidade. Mas eu vi tudo, não podia ser um delírio e eu estava sóbrio! E apesar de estar perturbado, sentia-me bem por estar em casa.
Ouvi a porta do quarto abrir. Era minha mãe, mas a penumbra não evidencia seu rosto e ela anda devagar.
_ Filho, que bom que voltou cedo hoje. Fico tranqüila quando vejo que está em casa.
Logo o cheiro de carne podre invadiu o lugar.
sábado, 1 de setembro de 2007
Campeões da Arena - 4
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