quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Campeões da Arena - 6

# Faaala, cambada! A Atividade 012 está rolando e, aqui no blog, chegamos à 6! \o/
# Essa foi a primeira de que participei e a que teve mais contos inscritos: nada menos que 8! Descolei um terceiro lugar, que, dada a qualidade dos concorrentes (acho que foi uma das melhores AQ's até hoje) é uma posição super-honrosa.
# Mas não estamos aqui pra falar de mim. xD A Atividade Quinzenal 006 teve como tema "Assassinos", dado por Leon de la Torre (anda sumido, esse rapaz...). Sua duração foi de 14/04/2007 a 05/05/2007. O vencedor foi Flavius 2.0, também conhecido como Dado Pires. ^^ Que, por sinal, também estava em sua primeira AQ e conseguiu o feito de desbancar titio Garret por um mísero ponto! o_o Foi disputada essa. E o contos dos dois eram muito ótimos, foi uma tristeza decidir qual ficava em primeiro, na hora de votar. T_T Passem lá no RPG-X, leiam e vejam o que estou falando...
# Chega de tagarelice! Ao conto:



Pequena Obsessão de Um Amor.
890 palavras

Roger era um sujeito comum. Tinha esposa, mas não filhos. Ela era muito doente para tê-los. Até para tentar. Religioso, ele mantinha o aluguel em dia. Respeitava os vizinhos. Nunca fizera nada que o desabonasse. Servira ao exército quando jovem. Chegou a ser cabo antes de dar baixa. Todos os dias, santos ou não, ia à missa. Casou-se cedo. Logo a enfermidade dela. O matrimônio seguira firmado na devoção da fé. Deus nunca perdoaria tal rompimento. Roger era pacato. Pacato até demais. No dia em que encontrou aquela revista suou como nunca. Palpitações percorriam seu corpo, mesclando-se de maneira preocupante à intensa taquicardia. Os anúncios prometiam momentos únicos de prazer. Desde que o enfarte não chegasse antes. Medo. Tesão. Arrependimento pelo que ainda não fizera. Aquele nome lhe prendera os olhos. Trazia-lhe energias de algum canto escondido dentro de si. Teria uma amante. Pagaria por uma.

Durante as tardes. Uma vez por semana. Essa foi a idéia que teve para chamar menos atenção. Ligava para a companhia de seguros e alegava mal estar. A esposa dormia. Sempre dormia. Calmantes. Dose dupla. Tripla. A esposa dormia até o outro dia. Mantinha-a assim. O apartamento de seus encontros se apresentava sujo e mal iluminado. Cheirava a bebida e restos de cigarro. Uma trilha sonora barata poluía o ambiente. Ele gostava de Almodóvar. Ela estava na cama. Sempre estava na cama, único móvel do ambiente. Nos lábios uma cigarrilha antiga e barata. Barata. Prostituta barata. Era ruiva. Não linda. Atraente em suas lingeries. Atraente o bastante para as fantasias de Roger. Talvez, e só talvez, as lingeries se esforçassem demais para segurar aquelas carnes. Talvez o desejo de homem não lhe permitisse perceber tanto. Talvez a tinta do cabelo fosse por demais sem graça. Talvez suficiente para aquela quantidade de luz. Talvez as unhas fossem mal feitas e a maquiagem borrada. Talvez os dentes fossem amarelados e os olhos vermelhos demais. Talvez ele percebesse isso mais tarde. Antes era só desejo. Queria possuí-la. Todos os dias. Devassamente. E o fazia. De várias maneiras. Por várias vezes. Muitas vezes. Ela gemia. Talvez fingisse. Ele gostava. Talvez demais. Ela gritava o nome dele. Queria ele também gritar o dela. Mas qual? Estava se tornando uma máquina. “Foda-se o nome do anúncio”. Fodia um anúncio ainda que sem nome. Gritava muito também. Talvez demais. Os vizinhos nunca escutaram nada.

Alta madrugada. Saiu para caminhar. Estava com dores na cabeça. Em casa a esposa dormia. Ainda. Há quantos anos não se levantava daquela cama? A velha enfermeira já havia partido. Deixá-la-ia sozinha. Para pensar. Um misto de raiva e satisfação permeava sua mente. Seria possível? Excitação. Amargurado tesão. Anos de tesão enclausurado. Imaginava-se rasgando as vestes da esposa. Breve suspiro. Nenhum movimento nas calçadas. Começou a penetrá-la. Fria. Inerte. Ele já ofegava no ritmo frenético. Ela balbuciava algo em seus devaneios. Ele gemia. Estava caído próximo a um muro. Não se importava. Suava em toda sua ousadia. Cobrava tudo o que lhe fora negado até então. Da sua maneira. Ela parecia gostar. Mexia os quadris. Involuntariamente. Escorregou as mãos para o pescoço dela. Involuntariamente. Os olhos se encontraram por um instante. Ele apertava com força. Ele segurava o gozo. O que era aquela expressão? Com fortes estocadas deleitava-se ao perceber a vida se esvaindo do corpo que lhe dava prazer. Não lhe dava prazer. Sempre. Nunca. Era compaixão o que via em seus olhos? Prazer atrasado. Prazer com juros. Ela conseguia implorar. Sussurrava o nome dele. “Roger”... Ela estava gostando. Ele tinha certeza disso. Ele tinha muitas certezas agora. Ele gozou como nunca. Talvez fosse amor. Talvez fosse hora de lembrar aquele nome. Devaneios.

Acordou no quarto da esposa. Sangue. Muito sangue. Calmamente chamou a polícia. Confessou o crime ainda ao telefone. Sentou-se para esperar enquanto fumava um cigarro. Há vinte anos não fumava um cigarro. A fumaça era quente e ácida. Amaciava a alma. Qual era o nome do anúncio? Aquilo não saia da cabeça. Sirenes ao longe. Distantes. Distantes demais. Um nome simples. Exótico. Perdeu a noção do tempo. Batidas fortes na porta. Um nome. Homens uniformizados jogaram-no ao chão. Machucou a boca. Algemas. Sangue. Vermelho. Rubro. Lembrou o nome da prostituta. Muito sangue.

Molestara durante anos a própria esposa. Drogada. Em cárcere privado. Escrava sexual. Um corpo quase sem vida há muito sob maus tratos. Ele era doente. E durante toda a noite de interrogatório só fazia repetir a mesma coisa. Um nome. O nome do anúncio. Entre lágrimas e desespero, tudo o que se permitia dizer era o nome dela. Um nome de liberdade, triunfo e agonia. Um nome que custou a encontrar caminho naquela mente perturbada. Perturbadora. Dois mundos vividos por um homem. Duas vidas paralelas que nunca haviam se encontrado. Duas vidas unidas por um nome. Uma mulher. Um desejo. Julgado e condenado. Nunca sairia da prisão. Relegava-se ao esquecimento. Seus vizinhos o esqueceriam. Sua igreja o esqueceria. Os jornais o esqueceriam. A ele só restava lembrar. Para sempre lembrar. Ela. Sua musa. Esposa e amante. Doença e cura. Vício. Pecado. Uma mulher. Uma fantasia. Um nome. Ao menos em sua mente, para sempre sua. Em uma cama. Em um leito. Com cheiro de cigarros ou remédios. Com música ou sem. Devaneios. Ainda havia chances de chegar ao reino dos céus. Era muito religioso.Ainda assim só fazia lembrar. Um nome. Agnes.


Flavius 2.0

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