quarta-feira, 5 de setembro de 2007

CONTO EM DUPLA

Olá, Leitores


Eu e Welwerin criamos em dupla um conto inspirado na excelente música do Iron Maiden,chamada "Dance of Death" (Dança da Morte)e orgulhosamente publico aqui. O conto foi postado na sessão 'contos e poesias' no dia 24 de Agosto. Esse é o primeiro de muitos que eu e meu companheiro de contos faremos. Aguardem!

Boa leitura a todos!

Beijos Agnescos...


DANÇA DA MORTE



-Bruce, acorda, você já está atrasado! De novo! Foi assim a semana toda! Acorda, menino!

_ Mãe, eu não tô me sentindo bem, não posso ir à escola assim...
_ Levanta! Sem desculpas... Levanta agora! Esse mal estar é ressaca! Você não tem vergonha? Bebendo desse jeito todas as noites?Levanta e já pra escola!

O dia foi um inferno. Mais um dia.Escola, obrigações, família te enchendo o saco. Odeio isso. Por isso sou notívago, e todas as noites são minhas. Enquanto todos dormem, me sinto mais vivo, livre!As garotas, as músicas, as bebidas... Poderia ser assim para sempre. Ter 18 anos me deixa à vontade para sentir isso. Com essa mesma idade meus pais já me tinham e já se sentiam velhos! Não quero isso pra mim, jamais!

Mas essa noite está diferente...melhor! Sinto o vento transfixar meu corpo de uma maneira estranha, porém, prazerosa. O que há de especial hoje?

Sentindo aquela atmosfera noturna incomum, decidi aproveitar a noite sozinho. E mais: não ia me embriagar, queria estar sóbrio pra apreciar o céu magnético e escuro, com estrelas radiantes que pareciam piscar para mim. Encontrei os amigos, cancelei a noitada dando uma desculpa qualquer, e fui embora.

O vento soprava com força e era sonoro ao extremo. Um calafrio atravessou meu corpo. A sensação perdurou por alguns instantes. Um drink apenas. Wisky sem gelo. O gosto permaneceu na minha boca por algum tempo. A garrafa comigo estava quase vazia, arremessei-a num muro pichado. As ruas desertas foram minha companhia.Peguei minha Harley e saí sem destino por bastante tempo, afastando-me da cidade. O ar gelado em minhas narinas provocou uma leve coriza. Mas sentia-me muito bem...

Enfim parei num lugar distante,silencioso, deixando minha moto a uns cinco metros de mim. Sentei-me aos pés de uma árvore de grandes raízes e lá permaneci sozinho, olhando o céu, sentindo o som do vazio...Tirei a jaqueta e com ela apoiei a cabeça.

E enquanto meus pensamentos se perdiam na imensidão do céu, fui surpreendido por um som arrebatador,mas não sabia de onde vinha, apenas senti a vibração em todo meu corpo. Confuso, sentei-me e observei a minha volta, mas tudo parecia igual. O que senti então? Terei dormido?

Amedrontado levantei-me. O vento gelado me incomodava, peguei minha jaqueta e quando fui vesti-la notei um vulto por trás das árvores. Não sei o que passou em minha cabeça, mais resolvi segui-lo. Logo adentrei as matas e no meio do que parecia um pantanal, fiquei abismado com o que via. Esfreguei os olhos e tentei fingir que aquilo não era verdade. Como se a gravidade me empurrasse com uma força absurda, fui levado a um altar em meio às águas sujas do local, minha cabeça girava.

Como se tivessem sido invocados, os mortos saíram por detrás das árvores e fizeram um círculo em minha volta. Um pentagrama de fogo se acendeu aos meus pés. Nesse momento os mortos começaram a dançar.

Paralisado pelo medo, permaneci imóvel dentro do círculo de fogo, temendo ser queimado, mas o fogo acariciava minha pele, era leve como uma brisa noturna. O que era aquilo? Transtornado ao presenciar aquela cena dantesca e nauseado com o cheiro de carne podre, o balé macabro daqueles mortos me entorpeceu. Homens, mulheres, crianças, todos mortos. Alguns só tinham alguns pedaços de carne pendurados nos ossos. Outros comiam partes do próprio corpo em decomposição. Mas todos dançavam à melodia de seus grotescos gritos, porém também sentia uma vibração vinda da terra.

Enquanto dançavam,emitindo um som grave e ensurdecedor girando ao meu redor,senti meu espírito se elevar, passando a observar o cenário horripilante lá do alto, embora meu corpo permanecesse dentro do círculo.

As chamas eram gigantescas, alcançaram meu espírito iluminado pelo fogo voraz. A sensação agora era plena, o medo havia me abandonado. E de lá, via meu corpo estático entre as chamas e os mortos a dançar.

Dentro do círculo eu dançava, pulava e cantava. Os olhos negros, cintilantes e sem vida dos mortos me observavam, como se tivessem ascendido do inferno. Meu cadáver não parava, dançava num ritmo alucinado, enquanto meu espírito zombava de mim.

Naquele inferno horrendo, eu, nem morto nem vivo, simplesmente seguia o ritmo da musica dentro do círculo dos mortos.

Observando do alto aquele caos entre um vivo e muitos mortos, senti meu espírito voltar ao meu corpo. Nesse instante voltei a permanecer imóvel, agora a chama estava menor... Eles deram-se as mãos e aos poucos foram aproximando-se de mim em silêncio. Alguns me tocam o que me provocou um temor descomunal. Fingi estar tranqüilo, pois não sabia que reação teriam e nem o que queriam de mim.

Silêncio absoluto. Calor. Cheiro de carne podre e cinzas. Todos os olhos mórbidos em minha direção. Sentia-me apavorado e totalmente tomado pelo transtorno e o medo. Vi então um zumbi aproximar-se, ele não estava entre os outros e nas mãos necrosadas trazia um cálice. Nesse instante os outros voltaram-se contra ele...

Nesse momento, enquanto discutiam aproveitei a oportunidade e corri sem direção por entre as matas.

Com medo de estar sendo seguido, fui correndo em diversos sentidos, olhava constantemente para trás na esperança de nenhum deles estar me seguindo. Velocistas de longas distâncias, jamais me alcançariam. Corri tanto que parecia que meu corpo tinha se mesclado com o vento.

Após um tempo nesse ritmo sem sentido encontrei a estrada. Parecia um pesadelo insano do qual eu era o personagem principal. Poderia ser meus últimos momentos como mortal. Eu não estava preparado para aquilo. Jamais estive. Ainda correndo, alguns vídeos me vieram à cabeça. Lembranças de uma vida passada talvez.

E entre essas breves lembranças me veio a imagem da minha moto. Eu a adoro, não poderia deixá-la naquele lugar maldito. Por outro lado, se for buscá-la posso ser pego. O que fazer? Continue correndo, mas o cansaço me tomou por completo meu corpo, obrigando-me a parar. Minha respiração ofegante, o suor por todo o corpo, meu rosto ardia, sentia sede. Nunca me senti tão exausto, parecia ter-me consumido até a alma. Estranhamente pensei em meus pais, lembrei do meu quarto, da preocupação deles comigo. Nesse instante senti-me totalmente vulnerável e sozinho. Lar. Meu lar. Preciso voltar pra casa.

Quando finalmente decidi continuar minha corrida desesperada, a moto voltou a rondar meus pensamentos.E mais que isso: sentia que precisava voltar lá. E assim foi. Corri rumo à terra maldita, consciente do risco que corria. Fui cauteloso a chegar próximo, agia silenciosamente. Passos inaudível, olhos arregalados, o medo me regia. Avistei a Harley, e nenhum morto estava próximo. Temendo o pior, aproximei-me. Peguei a moto, empurrei por muitos metros para finalmente ir embora. Não ouvia nenhum barulho ou sinal dos mortos, mas sentia a vibração vinda da terra. Precisava ser rápido e fugir logo. Usei toda minha destreza de motoqueiro e em alguns minutos já estava de volta à cidade.

Quando entrei em casa à mesma cena de sempre: a casa escura, meus pais dormindo, a porta do meu quarto entreaberta. Senti-me protegido e aliviado por estar vivo. Tomei um banho e tentei dormir. Estava muito excitado por tudo que vi e vivi naquela madrugada. O sono rejeitava meu corpo. Permaneci acordado, atordoado por começar a duvidar de minha sanidade. Mas eu vi tudo, não podia ser um delírio e eu estava sóbrio! E apesar de estar perturbado, sentia-me bem por estar em casa.

Ouvi a porta do quarto abrir. Era minha mãe, mas a penumbra não evidencia seu rosto e ela anda devagar.

_ Filho, que bom que voltou cedo hoje. Fico tranqüila quando vejo que está em casa.

Logo o cheiro de carne podre invadiu o lugar.

Um comentário:

Adriana Rodrigues disse...

Já comentei no fórum e comento de novo: ficou muito dez essa experiência em dupla! Muitos parabéns para você e o Welwerin, Agnes! ^^