terça-feira, 24 de julho de 2007

ESTREÍA DO GIORGIO

O conto que vocês vão ler foi publicado no forum do RPG-X no dia 11/07/2007, da autoria de Giorgio Cappelli, membro do site e que nas quartas-feiras nos brinda com seus textos divertidos e sempre muito criativos.

Ele tem contos nos livros publicados: Necrópole - Histórias de Vampiros e Necrópole- Histórias de Fantasmas (www.necropole.com.br) e também no recém lançado "Visões de São Paulo", com outros autores brasileios. Participa também da revista "Gorjeta" onde seus personagens aparecem em quadrinhos.

Escolhi este conto para estreiar Giorgio Cappelli aqui porque eu (e a maioria do forum) somos fãs do Mecônio e nesse texto ele (Giorgio, mais conhecido como "Giorgio Boy") realçou ainda mais o personagem numa ambientação bastante sombria...

Boa leitura e divirtam-se!



MECÔNIO, O EXORCISTA



Parou diante do sobrado malcuidado. Olhou no cartão para conferir o número. Era ali mesmo.

Quando pressionada, a campainha revelou um toque assombroso. Ele, porém, não se assombrava com facilidade. Aliás, nunca soube que tivesse se assombrado com alguma coisa na vida. Não conheço sujeito com maior controle emocional.

Quem abriu a porta achava-se tão malcuidada quanto a residência. O chapéu foi tirado para uma senhora de cabelos arroxeados e corridos, com ares de quem não dormia há semanas.

– Boa noite. – cumprimentou, frio e educado a um só tempo.
– O senhor é...? – perguntou a senhora.
– Padre Mecônio. Meu cartão. Por favor, onde está a vítima?
– Por aqui.

O reverendo já sabia o que iria encontrar: um quarto com uma garota pairando deitada acima da própria cama. Pousou a mala sobre uma cadeira.

A voz que o cumprimentou, sem dúvida, não era dela.

Ah! Padre Mecônio! Uaaahahahahahaaa!!!!
– Que meda... – retrucou o religioso, sem um pingo de emoção.
Outros melhores que você fracassaram! O que o faz pensar que vai ter sucesso?
– Quanto clichê numa fala só! Que diabo mais bobo!
Bobo? – grunhiu a garota. – Tá me chamando de bobo, padre?
– Não, não estou chamando. Já chamei.

Rosnados e gemidos que encheriam as cuecas de Van Helsing e Constantine provocaram bocejos no padre. A garota possuída pelo “Coisa Ruim” grudou as costas à parede. Sem deixar de encarar o oponente um só instante, subiu até o teto usando as mãos e os pés.

– Sábado à noite! – insistiu o reverendo – Se eu fosse um demônio, acha que eu ia ficar no corpo de uma garota de doze anos? Faça-me o favor! No seu lugar eu iria curtir uma balada!
Vamos juntos, padre? Aposto que o senhor está louquinho pra pegar mulher e encher a cara! Há quanto tempo não faz isso?
– Encher a cara? Direto! O vinho da sacristia é uma delícia. Mas não estamos falando de mim e sim de você. Venha cá.

O capeta de segunda categoria não entendeu o que eram aqueles papéis nas mãos do exorcista. Ficou curioso e aproximou-se.

– Sabe ler?

Não só sabia, como leu. Sorriu.

***

– E foi assim que eu cheguei aqui. O contrato era cheio de vantagens, pagava bem, tinha vale-refeição, plano de saúde, plano odontológico... Não dava pra recusar!
– Legal!
– Sua vez de entrar! – berraram, da porta.
– Opa!

O diabo fundiu-se a seu interlocutor. Ambos deixaram o camarim e entraram num palco enorme, mãos atrás. Diante deles, um homem com um microfone falava a um auditório lotado.

– Interessante como até os demônios estão mudando de religião... – comentou padre Mecônio, assistindo a um daqueles programas evangélicos de descarrego.



2 comentários:

Agnes Mirra disse...

Os contos com o Mecônio sempre rendem ótimas momentos! Nesse não foi diferente. Mas aqui ele aparece numa ambientação sombria,tornando o humor negro e cheio de surpresas!

Adriana Rodrigues disse...

# Eu já tinha comentado esse conto antes e comento de novo. É excelente, um dos melhores que eu já vi do Mecônio, junto com aquele em que ele é o espelho da bruxa da Branca de Neve. :D
# Excelente escolha, Agnes!