segunda-feira, 17 de março de 2008

Campeões da Arena - 16

# E 'bora com a edição 16 dos Campeões!

# O tema da vez foi "Uma noite com os elfos", dado no dia 16/01/08. Foi um tema altamente específico, o que talvez tenha inibido a participação: concorreram 3 contos. No dia 09/02/08, tivemos o fim da votação, que apontou nada menos que... Meu hexacampeonato. o_o Sendo que quatro vitórias foram seguidas! o______O

# Não que isso queira dizer grandes coisas. Na 14, por exemplo, o primeiro lugar foi dividido e isso só não voltou a ocorrer por diferenças de um ponto ou dois. O que significa que o nível dos participantes está bem parecido. ^^

# Confiram os demais contos no site. E aproveitem a leitura. ^^


O sapateiro e os elfos


As portas e as cortinas já estavam fechadas. Daniel, Carina e Maria Santa olhavam seguidamente de Eduardo – que mantinha os olhos fechados - para o livro à frente dele. Não entendiam porque demorava tanto para ele abri-lo, mas não ousavam reclamar. Ainda mais porque sentiam um frio na barriga, uma estranha impressão de que algo estava sutilmente diferente do que sempre fora, apesar de não haver NADA de diferente no quarto.

_Tudo bem _o garoto abriu os olhos, de repente. _Estou pronto, e vocês?

_Já estamos prontos há meia hora! _Carina, a ruivinha, reclamou. _Anda logo!

Imperturbável, o garoto se virou para Maria e ela moveu a cabeça, mostrando algum medo nos grandes olhos castanhos. Depois, olhou para o irmão gêmeo, que fez um sinal de positivo. Sorrindo, tomou o livro encadernado em couro e abriu-o aleatoriamente. Todas as páginas estavam em branco.

_Bem, o Livro do Selo está aberto. Vamos?

Todos os quatro colocaram as mãos sobre as páginas brancas e pergamináceas. O papel antigo brilhou azulado e as crianças sentiram um tranco no umbigo, antes de tudo ao redor escurecer e perceberem que estavam caindo em alta velocidade.

Ninguém, no entanto, ficou assustado. Aquela nem de longe era a primeira vez. Daniel ensaiou algumas piruetas e tentou brincar com o irmão, mas recebeu uma livrada deste. A escuridão logo se dissipou, revelando um salão com colunas greco-romanas. Antes que batessem no chão, eles diminuíram bruscamente de velocidade e algo invisível os pôs em pé.

_Estão atrasados! _uma voz que se pretendia imponente ressoou pelo salão.

_Estava difícil eu me concentrar hoje _Eduardo respondeu, com azedume. _Que tem para nós hoje, Esfinge?

Um ser não muito maior que um labrador, que dava a impressão de ser um filhote gigante e alado de leão com maquiagem e adornos egípcios, saiu de trás de uma das colunas.

_Você já teve mais respeito comigo, garoto.

_E você já fez entradas menos desnecessariamente dramáticas.

_Certo, certo. Negócio é o seguinte, pirralhada: esse livro – pegou o dito com a boca e pôs na frente deles – está ficando totalmente em branco. Não é só a partir de uma página, como de costume, nem está com a história se modificando. Só desaparecendo completamente. É quase certo que seja alguém com uma peça do Selo. As instruções são as de sempre: se infiltrem na história e ponham a peça de volta no Livro do Selo. Nada a acrescentar.

_“O sapateiro e os anõezinhos”... _leu Daniel com alguma dificuldade. _Que história é essa?

_É um conto de fadas dos irmãos Grimm _esclareceu o irmão. _Mal traduzido por sinal. Em inglês é “The shoemaker and the elves”: não são anões, são elfos. Devem estar se mordendo por serem confundidos com seus maiores rivais...

_Deixe Tolkien fora disso, Eduardo _Esfinge interrompeu. _Vocês vão ou não? Além disso, você sabe tão bem quanto eu que elfos não são pequeninos.

_Deixe você a mitologia nórdica longe disso _o menino não se fez de rogado. _Você sabe que “elfos” abrange uma gama enorme de criaturas fantásticas. E Shakespeare criou um precedente para elfos pequeninos em “Sonhos de uma Noite de Verão”. _Sem fazer pausa, virou-se para Carina: _Coloque o livro no pedestal, por favor.

A menina pegou “O sapateiro e os anõezinhos” e o pôs em um pedestal que ficava em frente a um grande portal vazio. O portal brilhou e os quatro passaram por ele, com os olhos fechados.

Abriram novamente, descobrindo-se num vasto chão de madeira. Maria deu um gritinho.

_Olhem para a gente!

Os garotos olharam para si mesmos e se assustaram: as roupas estavam em frangalhos e eles tinham orelhas pontudas.

_Acho que somos elfos _Eduardo torceu o nariz. _É a única forma de nos infiltrarmos na história sem sermos vistos, na verdade.

_Ei, olhem!

Daniel estalou os dedos, desapareceu e foi parar do lado de Carina. Estalou os dedos de novo e surgiu ao lado de Eduardo.

_Não é legal? _disse, contente.

_Trivial _comentou o irmão. _Você é um elfo de contos de fadas, maninho. Como acha que as pessoas nunca conseguem vê-los? Olhem, os elfos verdadeiros estão trabalhando ali.

Daniel rolou os olhos, fazendo o movimento labial de “chato”. Carina viu e deu uma risadinha abafada.

_E o que estão fazendo? _Maria perguntou, antes que Eduardo percebesse o motivo da risada.

_Fazendo um sapato. Vocês não conhecem a história, certo? Resumidamente, um sapateiro muito bom e muito pobre não progride na profissão. Uma noite, deixou a última tira de couro e as ferramentas sobre a mesa. Quando acordou, o sapato estava pronto. Isso se repetiu por meses, até ele enriquecer. Então, ele e a mulher resolveram se esconder no guarda-roupa para ver quem os ajudava. Descobriu que homenzinhos faziam o serviço, mas eram mal-vestidos. Então, quiseram ajudá-los fazendo roupinhas para eles. Eles as usaram, ficaram muito satisfeitos e nunca mais apareceram. Fim.

_E qual é a moral da história? _perguntou Daniel, coçando a cabeça.

_A verdadeira moral é que, se você der roupas a um elfo, ele pára de trabalhar pra você. Mas, nos livros de escola, você deve encontrar alguma baboseira melosa sobre generosidade.

_E gente... _Carina disse. _Cadê a Maria? Ela tava aqui nesse segundo.

Correram os olhos e foram encontrar a garota puxando um fio enorme junto com outros elfos, enquanto tagarelava animada.

_Maria! _Eduardo chamou. _O que está fazendo? Não é hora para brincar!

_Não estou brincando, estou ajudando a fazer o sapato. A Hildegard aqui _apontou uma elfa que manipulava a agulha, quase do tamanho dela _disse que eles estão com um problema sério: passam a noite inteira fazendo sapatos e, quando o sapateiro acorda, o sapato sumiu. Essa é a última vez que vão tentar. Se continuarem sumindo, vão desistir.

_Maria... _Eduardo começou, áspero, e todos se encolheram, esperando a patada _...Você é um gênio! Descobriu por que a história está sumindo!

_D-Descobri?

_Claro! Se o sapateiro não recebe os sapatos, a história some, por que não existe o que relatar! Só precisamos pegar quem está sumindo com os sapatos. Provavelmente é quem está com o pedaço do Selo.

Daniel suspirou alto.

_Por que nunca podemos brincar à toa nos livros? Por que temos sempre que ficar catando essas partes do Selo que uns personagens doidos pegaram pra ficarem mais fortes e mudarem suas histórias?

_Correção: EU tenho que encontrar as partes do Selo, vocês vêm de enxeridos. Agora, chega de nhenhenhém, vamos fazer como a Maria: trabalhar junto com os elfos e ver o que descobrimos.


***


_Tô exausto! _reclamou Daniel, sentando-se sobre um botão. _Não agüento mais pregar sola.

_Eu também! _as meninas fizeram eco.

_O dia já vai raiar _Eduardo disse, de pé, como se não tivesse trabalhado tanto quanto os outros. _Os elfos já estão indo, temos que nos postar em algum lugar para vigiar o par de sapatos. Trabalhamos duro nele, vão deixar que roubem?

_Podemos dormir, primeiro? _perguntou Carina.

_E fazer um lanchinho! _completou Daniel.

_Nem descanso, nem lanchinho! _o menino trovejou. _Levantem, agora! Dani, você fica atrás daquele martelo. Carina, fique com ele. Maria, você fica aqui. Eu vou para trás daquelas ferramentas. Fiquem acordados! E atentos!

A espera foi ainda mais penosa por conta do sono e da fome. E eles nem sabiam o que, exatamente, estavam esperando.

As primeiras claridades da madrugada já se pintavam pela janela. Cansado, Daniel chegou a dar uma pescada. Um ruído, porém, logo o despertou. Levantando a cabeça com cuidado, viu um elfo se esgueirando para perto do sapato. Tinha um ar tão culpado que, mal fez um gesto mais brusco, três crianças disfarçadas de elfos caíram sobre ele.

_Mas o que é isso?!

_Você está tentando roubar o sapato, não está? _Daniel perguntou, segurando os ombros do elfo.

_Só estou cansado de ser mais um elfo entre tantos _ele disse, tranqüilamente. _Vocês também não estão cansados de só trabalhar feito condenados e não receber nem um “obrigado” em troca? Eu estou! Estou vendendo esse sapato para outro sapateiro. Rende um bom ouro! Se não falarem nada, podemos dividir o que vou ganhar com esse.

_Se bem me lembro _Eduardo pigarreou, de algum lugar do escuro _“O Sapateiro e os Anõezinhos” tem alguma coisa a ver com generosidade.

_Vocês vão aceitar ou não? Se não aceitarem, vou ter que calar vocês de outro jeito.

As lentes redondas dos óculos do garoto brilharam na escuridão.

_Faça-o.

O elfo tirou do bolso algo que parecia um pedaço de papel, mas era furta-cor. Engoliu-o e ficou, então, maior e com garras e dentes afiados.

_Maninho, ele tá com um pedaço do Selo! _Daniel gritou o óbvio.

_Eu sei. Sai do caminho.

_Mas por quê?

_SAI! E você! _o elfo assustador olhou o garoto, surpreso. _PENSA RÁPIDO!

Assim que falava, Eduardo atirou o livro de couro que carregava no elfo. Ele segurou-o e riu:

_Esse livro é bem pesadinho, mas me atingir com ele... Você é mesmo muito ingênuo...

_Ingênuo? Eu? _perguntou Eduardo. _Talvez.

O Livro do Selo começou a brilhar forte e o elfo vomitou o papel furta-cor. O papel foi sugado pelo livro, que se fechou e voltou para as mãos de Eduardo.

_Adoro ser ingênuo _o garoto comentou, com um sorriso de canto de boca.

O Sol finalmente saiu, e, com ele, o sapateiro apareceu para trabalhar. O elfo mau sumiu com um estalo e os quatro acharam que era hora de fazer o mesmo.


***


_Bom trabalho.

_Obrigada, Esfinge _Maria sorriu.

_Fizemos a nossa obrigação _Eduardo resmungou.

_O livro já voltou ao normal? _perguntou Daniel.

_Veja você mesmo... _Esfinge apontou o livro no pedestal, com o focinho.

Os quatro abriram “O Sapateiro e os Anõezinhos”, curiosos. O livro parecia ter voltado ao normal, exceto por...

_O que é isso?!

A gravura mostrando um dos sapatos que o sapateiro recebeu dos elfos mostrava agora um tênis All Star.

_Agora entendi por que eles não tiravam os olhos do meu pé... _Daniel riu, antes que Eduardo o puxasse para fora do mundo dos livros.

Um comentário:

Anônimo disse...

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